domingo, 28 de dezembro de 2014

Lição de Catequese - Poema

Enquanto o livro de poesias não sai, um poema novo.

Lição de Catequese

Lucas Barroso

Eu bato no despertador e logo penso na Literatura
Banho-me
Seco minhas partes
Preparo o café preto
Engraxo os sapatos
Visto-me
E me perfumo para a Literatura
Tomo a condução
Sem lugar para sentar
Escoro-me no peito vazio de outras Literaturas cansadas
No trabalho
Atendo as primeiras ligações
Redijo os primeiros memorandos
Como quem faz Literatura
Dia desses
A caminho de casa
A Literatura me assaltou
Levou meus documentos e uns trocados
Os guardas
Com seus fardões
Ouviram-me
Descreveram meu relato triste
Como se fosse uma Literatura barata
Ficaram de me retornar
Caso soubessem de algo
Caso tivessem alguma notícia boa
A vida não tem sido fácil
Às vezes
Falta Literatura na dispensa
Mas não há o que fazer
Bebo um pouco
Vou à janela
Não sei que Lua é aquela

É impressionante
O gosto da Literatura fica muito mais tempo na boca

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Nos Blogues da Vida

Alguns textos que li nos blogues da vida. Acho que vale a pena perder um tempinho com eles...


Diga a morte que estou escrevendo 
http://blogues.publico.pt/atlantico-sul/2014/12/21/diga-a-morte-que-estou-escrevendo/

Eu, você, nós dois 

Perguntas ao escritor 

Militância 

Petrobras, BB e Caixa lideram gastos de publicidade para mídia alternativa 

Livro: O Cão Que Guarda As Estrelas 

Joni Mitchell, Neil Young, Nico, David Crosby: discos clássicos do pop angustiado 

A BALADA DE ADAM HENRY: Ian McEwan, a dimensão do irreparável e a fachada cinzenta 

O clube dos escritores que não aceitam críticas 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Você acreditou em 2014?

Fiz um resumo descontraído desse 2014 para o site Mínimo Múltiplo. Ano agitado, com eleições, Copa do Mundo, Petrobrás, avião que sumiu do mapa, novas e velhas guerras mundo afora, a volta do Ebola, a conciliação EUA e Cuba, bobagens na internet, mortos de renome...


Alguns trechos:

"Entretanto, tudo que a Copa do Mundo traria consigo, o tal “legado”, ainda não aconteceu. Continuamos tropeçando e desviando dos canteiros de obras inacabadas (não esqueçamos o viaduto que desabou em Belo Horizonte, matando duas pessoas e ferindo dezenas, em julho), que estão no meio do caminho e seguirão para além desse fatídico ano. Talvez sejam concluídas em 2015, mas não criemos mais expectativas. As eleições foram bem claras nesse sentido. A presidencial, mais acirrada desde 1989, inclusive, acabou com muitas amizades nas terras sem lei do Facebook e Twitter. Mas nada mudou. Dilma Rousseff manteve-se onde está. O PMDB continua com a maior representatividade na Câmara. E o termo “governabilidade” ainda será muito ouvido por aí". 

"E, veja só, Cuba e os Estados Unidos se reconciliaram. Obama anunciou, e Raul Castro confirmou, o restabelecimento das relações diplomáticas, cortadas em janeiro de 1961. Agora, só falta saber quem perdeu (ou ganhou, depende do ponto de vista): o “imperialismo” ou o “comunismo”?"

O texto completo: http://minimomultiplo.com/index.php?page=252

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Nós Não Podemos Dizer Que Nunca Tentamos



Já se foram mais de dois mil anos e a ciência não conseguiu medir o tamanho da dor, nem o diâmetro dos buracos que faz na alma. Mas ela, que não sabe sequer amar um homem direito – que nunca soube, aliás – jura que consegue. Insiste em dizer que sofreu mais. E que, até hoje, quando escuta Angie sente a garganta fechar – como se fosse uma alergia, como se sofresse um pequeno choque anafilático, somado a uma abrupta falta de ar. Tanto é que precisa ir à janela ou a um ambiente aberto. Mas não tão longe que não possa seguir ouvindo a música até o fim.

Dia desses, a dor retornou. O rádio estava ligado na sala. Aumentou o volume e correu para a área de serviço. Desviou das tolhas e das peças de roupas penduradas no varal, que, como ela, lutavam por um talho de Sol. Botou a cara para fora, não havia nada que não tivesse visto antes. Já eram seis horas, há tempo, e sua filha, Clarice – nome que ele colocaria se fosse o pai –, e seu cachorro da raça – aqueles tipos esquisitos da última moda, que podem ser comprados em seis vezes no cartão de crédito – estavam aos gritos, solicitando a presença do pai, que já devia estar em casa para brincar com a dupla. O homem, um sujeito simples, com estabilidade financeira e emocional, avisou sobre um protesto que havia fechado várias ruas da cidade. Estava preso no trânsito e se atrasaria.

Ela lembrou disso. Então, os dois se acalmaram com a informação, retornaram aos seus brinquedos, e o música voltou a tomar conta do apartamento. Entretanto, só foi possível ouvir os últimos suspiros de Jagger, com a voz um pouco cansada, perguntando: “quando todas aquelas nuvens desaparecerão?”. E a música logo se acabou.

Era bom estar viva. Mas ela não tinha respostas.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Os Chatos Típicos e Um Que Não Entende Nada de Mulher


Cerveja de litro gelada a 8 reais. É o resumo do que é a espelunca. Mas passa jogo do Inter e tem mesa de snooker de fichinha. Então, eu o Pedro volta e meia acabamos lá.

Não recordo todos os detalhes. Sei que o Inter ia mal. Perdia por 1x0. E quando o Inter vai mal, ficamos um pouco chateados. Mesmo tendo vivido a década de 90, é triste assistir o Inter perder. Geralmente, trocam passes sem sal, de um lado para outro. É angustiante.

Mas tinham outros problemas naquela tarde, naquele bar. Um sujeito não parava de pedir goles ou um copo da nossa cerveja. Ok, era um chato conhecido. Podia beber um pouco. Também tinha um gremista, sorrindo de forma comedida a cada erro colorado. Secando, metendo olho gordo a cada tabela, a cada chute. E o cara do rádio. Meu Deus, sempre tem o cara do radinho colado no ouvido ou com fone...

Assistir na TV com alguém ouvindo, ao mesmo tempo, no rádio é de lascar. Em razão da velocidade da transmissão, o desgraçado do radinho sempre antecipa o que esta por acontecer, desviando o foco da televisão. É inevitável, você fica de olho. Daí, ele faz uma carranca. Pronto. Alguns segundos depois a imagem da TV comprova a falha no ataque colorado. Desgraçado!

Pedro, com seu 1.68 de altura ("tamanho do Romário"), não se conteve.

- Tu não vai parar de ouvir esse radinho?
- Mas eu não tô fazendo nada...
- Não quero saber. Tu quer te incomodar?!

Ei, ei, ei! O pessoal do deixa disso apaziguou. Mas os chatos típicos seguiam. O pedinte, o gremista secador e o cidadão com o rádio. O ambiente estava insuportável. O Inter se arrastava lentamente para uma derrota, quando um desconhecido, em uma mesa distante, sabe lá por quê, inventou falar mal das gordinhas. Acho que contava piadas sobre elas.

Pedro se ergueu outra vez. Tentei segurá-lo, em vão.

- Que tu sabe de mulher, hein? Me diz, que tu sabe? Tu não sabe porra nenhuma de mulher...

Cheguei a tempo de soltá-lo do pescoço do outro. Acalmei a situação. Ponderei, era melhor ir embora. Pedro concordou. Antes de sair, o chato pedinte perguntou se não tomaríamos o resto da cerveja que ficou na garrafa. O do radinho, concentrado no jogo, abaixou a cabeça e quase se encolheu na cadeira, parecia padecer de algo abrupto. Em segundos, a TV confirmaria gol do adversário. 2x0. Na hora, o gremista pulou da cadeira de plástico, aquelas amarelas com propaganda da Skol, e berrou.

- Chupa, Pedro!!!!

Não tinha o que fazer. Que tarde de merda...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O Pugilista


Socou as paredes com força. Ganchos, cruzados, diretos. Seus pés bailavam no quarto deserto. Com algum esforço, ouvia seu nome das arquibancadas. Era um sinal para seguir. O adversário estava em pé. Queixo duro. A guarda baixa. Não se manteria por muito tempo. Era o último assalto. Talvez, o penúltimo... Ganhar por pontos é para estrategistas. "Tenho que derrubá-lo", pensava. Seus dedos já estavam adormecidos e seu punho flácido. Mas seguiu. Apenas atirando as mãos contra o oponente. Até que foi nocauteado. Preferia assim. Prefiria morrer atirando, como aquele personagem no velho filme de faroeste. Acordou no hospital. As mãos engessadas. Três longos meses sem escrever. Três longos meses ouvindo vozes, versos, capítulos, urros, sonhos e delírios em sua mente. Não era possível segurar um lápis, tampouco bater as teclas. Seus dedos estavam mortos. Se ela não tivesse ido embora, teria alguém para quem soletrar. Alguém para ouvi-lo. A humanidade ganharia, certamente, um belo livro de poesia. Agora, no estado em que se encontrava, não passava de um pugilista inútil.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Caixa Econômica Federal Só Aceita Dinheiro Para Sanar Dívidas


A novidade é que a loteria literária, a corrida de cavalos das letras, está premiando os vencedores com curtidas no Facebook.

É bacana.

Faz um bem danado para o ego.

Entretanto, a Caixa Econômica Federal não está aceitando curtidas no Facebook para amortizar a hipoteca do Minha Casa Minha Vida...

Então, como é que faz?

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Alguns Outonos Depois


- Você vive sozinho?
- Sim.
- Desde quando?
- Desde sempre, quase trinta anos.
- E as mulheres, como faz?
- Geralmente, faço errado...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Flipobre - Evento Literário Vai Reunir 40 Autores de Todo o Brasil


Neste dia 7 de dezembro, domingo, acontecerá o primeiro festival literário na internet, o Flipobre. O evento terá transmissão ao vivo pelo You Tube e contará com 40 autores de todo o país. Os responsáveis pela criação da Flipobre são o escritores Diego Moraes (autor de A Solidão É Um Deus Bêbado Dando Ré Num Trator, editora Bartlebee) e Roberto Menezes (Palavras que devoram lágrimas ou a Felicidade Cangaceira, ed. Funesc).

São diversos temas e muitos autores interessantes. O escritor homenageado é Lima Barreto. Participarei da Mesa 3 - O Brasil tem muito escritor para pouco leitor?.

Promete!

A Flipobre já saiu na Folha e no O Globo:

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/raquelcozer/2014/11/1554844-resistencia-literaria.shtml

http://oglobo.globo.com/cultura/livros/flipobre-reunira-mais-de-40-autores-homenageara-lima-barreto-14703719


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Algumas Aspas De George Best


Edmundo, Adriano Imperador, Balotelli, e outros tantos bad boys do futebol são coroinhas perto do que foi George Best. O norte-irlandês teve seu auge no Manchester United, entre 1964 e 1968. Nesse período foi campeão inglês e da Champions League. Best era ponta, veloz e driblador foi considerado o Garrincha europeu.

Na década de 70, afundou-se no álcool. Peregrinou por diversos times do mundo, mas sem sucesso. Nos anos 2000, começaram as complicações em razão de seus excessos, afetando seus rins. Morreu em 2005, com 59 anos, com falência múltipla dos órgãos.

Algumas frases que marcaram George Best

"Odeio táticas, elas me aborrecem. O que me importa são meus dribles, chego a sonhar com eles".

"(Sobre David Beckham) Ele não chuta com a esquerda, não sabe cabecear, não sabe driblar e não marca muitos gols; fora isso, ele é bom".

“Eu sou o cara que levou o futebol das páginas internas para a capa dos jornais”.

"Em 1969, eu abandonei as mulheres e o álcool. Foram os 20 piores minutos da minha vida".

"Gastei muito dinheiro com bebidas, mulheres e carros. O resto eu desperdicei".

"Dizem que tentei dormir com sete Misses Mundo. Não é verdade. Foram apenas quatro. As outras três é que vieram atrás de mim".


Um vídeo de 15 min com os melhores momentos do craque, também conhecido como o Quinto Beatle.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Geografia - Conto Publicado no Livro Os Melhores Textos do Mínimo Múltiplo


Meu conto Geografia foi publicado no livro do Mínimo Múltiplo, que saiu faz pouco. A organização é do jornalista Lucas Colombo. Tem muita gente bacana participando.

Os Melhores Textos do Mínimo Múltiplo já está disponível na Saraiva Online: http://www.saraiva.com.br/os-melhores-textos-do-minimo-multiplo-8284416.html
 

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Eu Quase Sempre Fico Quieto


A pessoa fala com autoridade sobre os pobres. A pessoa escreve artigos com convicção e aponta números sobre os programas dos governo e da atual situação dos pobres. Os pobres isso, os pobres aquilo...

O curioso é que essa pessoa nunca comeu massa com sardinha no refeitório da escola, pois estudou nas melhores instituições de ensino da cidade. Nunca ficou quatro horas na fila do SUS com o pulmão detonado, pois teve tratamento e acompanhamento nos melhores hospitais particulares. Nunca precisou tomar o Corujão numa parada fedendo a mijo, às 2h da madrugada, cercado de pedreiros insones e velhos degenerados, pois sempre foi levado de carro para lá e para cá, pelo papai e pela mamãe.

Mas essa pessoa segue falando. Segue tentando convencer, tentando catequizar alguns índios perdidos nessa selva de bobagens que é a internet.

E eu com isso? Bom, eu quase sempre fico quieto.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Arte Não é Corrida de Cavalos

Arte Não é Corrida de Cavalos, Arte não é Holofote Ou Um Manifesto Inocente e Romântico Sobre Nossos Dias



Artigo que fiz para o site Mínimo Múltiplo. É uma crítica a sede de aprovação e exposição de muitos artistas,como os que integram reality shows musicais e outras tantas premiações que existem por aí. Separei alguns trechos:

"Precisamos da aprovação do outro. Dependemos disso para viver. Somos carentes e nossa falta parece não caber no mundo. Não há o que a preencha por completo. O amor é pouco. Infelizmente para alguns, ou felizmente para outros, sempre será pouco. Por isso, entre outras tantas fugas, maneiras de matar o tempo e ocupar a mente, existe a arte"

Entretanto, há artistas que insistem em buscar insanamente essa aprovação, deixando sua ambição estética de lado ou a direcionando para um simples agradar o maior número de pessoas possível. E, quando se chega a esse ponto, vale tudo. Há situações, cada vez mais corriqueiras, que evidenciam essa sede, essa ânsia. Um exemplo disso são os novos programas televisivos em que cantores não profissionais disputam quem é o “melhor”. 

"(...) alcançar o lugar mais alto do pódio significa ser bem quisto, estar nos holofotes e transmitir uma imagem positiva para os outros. Essa última opção acaba sendo o real e evidente objetivo. É um pouco assustador e, ao mesmo tempo, deprimente. Mas, afinal, como isso afeta a arte, hoje? Até onde nosso narcisismo exagerado contribui para a produção artística – se é que contribui?"

Link para o texto completo: http://minimomultiplo.com/index.php?page=250 

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Murilo Mendes Entre as Colunas da Ordem e da Desordem

Murilo Mendes por Guignard
Murilo Mendes (1901-1975) foi um grande poeta. Entretanto, ainda não é reconhecido como tal. Seu primeiro livro, Poemas, é de 1930 e está tendo uma nova edição, da Cosac Naify, assim como A Idade do Serrote, Convergência e Antologia Poética (organizada por Júlio Castañon Guimarães e Murilo Marcondes de Moura). É impressionante como volta e meia isso acontece no mercado editorial brasileiro, um poeta "antigo" ou esquecido pelo grande público é redescoberto. Aconteceu há um tempo com Drummond, Quintana e, mais recentemente, com Leminski, Ana Cristina César e Wally Salomão. O que importa é que Mendes ganha, enfim, uma nova chance de ser lido por mais pessoas.

Conheci a obra do mineiro de Juiz Fora ainda na universidade. Lembro que foi um dos autores que me marcaram de forma positiva. Seu texto é muito mais rico e vivo que de seus contemporâneos mais badalados pela crítica, como Mário e Oswald de Andrade e Jorge de Lima. Poderia elencar alguns critérios para essa minha afirmação, mas, no fim das contas, acaba sendo é uma questão de gosto.

Seus versos ainda tem algo a dizer e sobrevivem entre as colunas da ordem (religiosidade) e da desordem (surrealismo). Exatamente, como diz o seu belo poema Os Dois Lados.


OS DOIS LADOS

Os dois lados:

Deste lado tem meu corpo
tem o sonho
tem a minha namorada na janela
tem as ruas gritando de luzes e movimentos
tem meu amor tão lento
tem o mundo batendo na minha memória
tem o caminho pro trabalho.

Do outro lado tem outras vidas vivendo da minha vida
tem pensamentos sérios me esperando na sala de visitas
tem minha noiva definitiva me esperando com flores na mão,
tem a morte, as colunas da ordem e da desordem.

(Murilo Mendes)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Depois de Gutenberg


Pessoas solitárias

Seguiram inventando máquinas

De reproduzir

Solidão

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Chega uma Hora que Só o Amor Resolve as Coisas


De uma amiga, defensora das causas feministas e trintona:


- Olha, na fase que eu tô, um machista que me ame cairia bem...

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Eles Não Foram Capazes de Pendurar um Quadro na Parede

Bateu com tanta força a porta, que se tivesse algum quadro pendurado na parede este cairia com certeza. Entrou convicto no apartamento.

- Olha aqui, a partir de hoje, você só vai abrir a porra dessa boca para me dizer elogios, tá entendendo?! Você só me bota pra baixo. Você não vê tudo que eu faço? Só fica enchendo o saco com a merda da toalha no chão e a escova de dente que em cima da pia, com a camiseta do Iron Maiden que tá puída e é minha parceira em todas as fotos, com meu bafo por causa da cerveja, com o Inter que vai jogar mais uma vez nessa semana, com meu amigo que tá sem trabalho e precisa do meu ombro, com a conta da luz atrasada... Você é pior que minha mãe! Tá louco, onde eu tava com a cabeça?! Puta que pariu! Como você me coloca pra baixo...

No começo, nos primeiros berros, ela até arregalou os olhos, mas ao longo do discurso bocejou, espreguiçou-se naquele efeito sanfona que só os gatos conseguem fazer, pulou do sofá todo descosturado de tanto afiar as unhas e foi em direção ao seu pratinho, quase vazio.

Ele tinha esquecido de comprar ração.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Um Bom Lugar Para Viver II


- Nos Estados Unidos isso jamais aconteceria. Lá as coisas são diferentes.

- Já foi aos Estados Unidos?

- Não.

- Conhece alguém que mora lá?

- Não.

- Então, como você sabe?

- Eu vejo nos filmes.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

(+18) Acontece com Todo o Homem - Conto Inédito na Revista Sexus


Saiu um conto inédito meu numa das revistas mais bacanas da web, a Revista Sexus (+18), editada pelo Bruno Ribeiro. Sempre tem um monte de gente bacana participando e nessa edição não é diferente. Fiquei faceiro demais com o resultado. Abaixo, um trecho de "Acontece com Todo o Homem" e o link para vocês darem uma lida. Também dá para baixar e imprimir se quiserem.


(...) Eu estupro porque gosto.
Não tem essa de trauma de infância,
nem revolta com a sociedade.
Tem a ver com a natureza da coisa.
Tem a ver com aquele tesão
inexplicável que dá. Com buscar
algo muito difícil e conquistar. Por
isso que só estupro homens. Você
tem que ver. A primeira coisa que
eles acham é que você vai roubar
o carro. Eles dizem “pode levar, só
não me machuca”. Daí, eu explico.
Muitos não acreditam, mas acabam
cedendo. Os caras falam que 
tem filho, esposa, e me perguntam 
como vão ficar. Essa imploração, 
essa humilhação, é que me deixa 
mais excitado. (...)


Link da sexta edição da revista: file: http://sexusrevista.com/2014/11/10/revista-sexus-numero-seis/

domingo, 2 de novembro de 2014

Trecho de um Futuro Conto

O segundo livro - O Ano dos Mortos - ainda não saiu. Mas não posso me dar ao luxo de não seguir em frente. Separei um trecho de um conto que estou trabalhando. Talvez, para um terceiro livro. O conto e o livro ainda não tem título.

(...)


Você assistiu a muitos filmes de Hollywood e acreditou que beber e fumar te deixaria mais sexy, porque os personagens fazem isso o tempo todo e recebem uma atenção significativa das mulheres. Então, você vai lá: bebe e fuma. Repete a equação algumas vezes, mas sem resultado algum. Até o momento em que – eu estou resumindo a história – você senta sozinho em um bar. E essa triste cena se repete também. Pois o mais triste seria ficar em casa – ainda mais depois que você entregou os gatos para adoção e cancelou a TV por assinatura – quase todos os canais eram de culinária. Um dia, uma mulher se aproxima e pergunta se você tem fogo. Sim, lógico que você tem. Você faz um gesto ágil em seu Zippo falsificado e uma labareda surge e ilumina por pouco tempo o lugar. Depois, ela lhe pede uma bebida. É tudo muito estranho. Isso raramente aconteceu, pois você não está em Hollywood. Você já bebeu e fumou o suficiente para não cair nesse truque. Você está mais gordo e com uma péssima dentição. Sua pele não está boa. Só em Hollywood que os homens pisam fundo e ainda mantém os braços musculosos e barriga em dia. Você retorna a mulher. Não prestou atenção em quase nada do que ela falou. Algumas palavras soltas, apenas. Cocaína, meu ex-marido, meu filho está com minha mãe, essa cidade é uma merda... Você só balança a cabeça, dá umas bicadas em seu copo, dobra as sobrancelhas ou oferece sorrisos curtos. Se fosse em Hollywood, ela seria uma espécie de modelo fracassada e você aparentemente teria sorte em encontrá-la. Mas seria só uma isca. Depois das primeiras noites tórridas de sexo – em Hollywood o sexo é sempre quente –, vocês viveriam em guerra. Ela teria outros. Você, outras. Os dois teriam ciúmes. Seria uma barra, seria doentio. O final do filme seria uma fuga, deixando pequenos delitos ou crimes para trás. Você guardaria umas novas cicatrizes, que só trariam orgulho pra você – nem cicatrizes de guerra são mais motivo de orgulho, as de briga então... Ela, a personagem secundária, seguiria do ponto onde lhe encontrou. E, certamente, outro a acolheria. A resposta para tudo isso, ou a moral, pouco importaria. Seria só uma breve história sem redenção alguma. Uma parábola onde os personagens se ferem por serem solitários e não encontrarem respostas. Afinal, quem tem pretensão em tê-las? Você acorda do transe que foi assistir a esse “filme b” e ri de toda essa bobagem. Ela, que estava falando sobre como as crianças sabem ser cruéis, usando como exemplo seu filho de cinco anos que a chamou de puta na frente de toda a família em uma noite Natal, se surpreende com sua alegria repentina. Você se desculpa e diz que pensou numa besteira, numa piada. Ela quer saber o que é. Diz que ficou muito curiosa e também quer rir. Você pergunta se ela não quer seguir a conversa na sua casa. Lá você conta o que te fez rir. Ela aceita o convite. Fala que está ansiosa para ouvir a tal piada. Na verdade, você não sabe contar uma sequer, mas tem noites que vale a pena arriscar. 

(...)

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

De Malas Prontas

Comprei um trailer
Vou levar minha solidão
Para bem longe

Talvez,
Descubra um país novo
Onde a língua oficial seja o silêncio

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Entrevista na Revista Mamíferos

Fui o entrevistado da revista Mamíferos. Falei com o escritor Diego Moraes sobre futebol, Literatura e solidão. Sugiro que acompanhem essa revista. Tem muita gente boa e entrevistas bacanas.

Foi assim:

DIEGO MORAES - Você é um zagueiro de várzea. Sonhou em jogar no Inter? O que não realizamos na infância vira literatura. Pretende escrever um romance futebolístico um dia?

LUCAS BARROSO - Na verdade, não fui jogador porque ninguém me levou para um time, para ser testado. Tem muito cara pior que eu jogando por aí. Outra: Jóbson e Adriano Imperador seriam escoteiros se eu tivesse sido jogador. Amo o Inter. Mas o Inter não me merece mais. Tá muito elitizado. Fui num jogo, no Beira-Rio novo, e não vi mais aquele povão. Não tinha aquela vibração. Parecia um teatro. Parecia um monólogo do Melamed. Futebol tá chato pra cacete… Não me motiva a escrever sobre.

DIEGO MORAES - Quando começou esse lance de escrever? De fazer literatura. No curso de Jornalismo?

LUCAS BARROSO - Começou quando li a série Vagalume, na escola Ana Neri. A biblioteca de madeira devia ter uns 30 livros (se tinha!) e 50% era da coleção. Os professores me empurraram Machado, Eça, Bandeira, Camões… Sabe o que é uma criança ler Camões? É traumatizante. Até hoje, quando vejo algo sobre Camões sinto calafrios. Não tenho medo de cobra, mas tenho de Camões… Também passei por Nelson Rodrigues, que dava na televisão. Aquelas atrizes todas peladas. Até hoje, lembro dos peitos da Gabriela Duarte. Fui atrás dos livros e enlouqueci. Era aquilo. Acho que o Jornalismo só potencializou o que me interessa, que é contar história. No segundo grau, estava em dúvida entre Jornalismo e Letras. Contei isso pra professora e ela disse que optou por Letras e a vida dela acabou sendo uma merda… 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Caminho das Pedras

O mundo anda amargurado. E eu não tenho pretensão de mudar isso. Mas tem coisas bonitas por aí. Não precisa procurar nos livros de autoajuda, nem entrar para o Alcoólicos Anônimos para entender o que eu estou falando. Eu não sei a receita, nem tenho a pretensão de criar uma, mas desconfio que tenha algo a ver com não ter pressa, com desformatar o olhar...


sábado, 11 de outubro de 2014

Quando o Inter Perde

Foto: EFE
Não entendo a vaia. Na verdade, não aceito os apupos. Sou febril. O Inter pode entrar em campo com 11 pernas de pau que, mesmo assim, eu vou torcer. O Inter pode ser dirigido por pessoas que nunca chutaram uma bola na vida e só querem dinheiro, que vou apoiá-lo. O Inter pode cair para a segunda, terceira e quarta divisão, que vou gritar seu nome. O Inter pode até acabar antes de mim, o que é improvável, que vou seguir vibrando por um Inter que não existe. O Inter pode me trair ou me envergonhar, como fez algumas vezes, e eu vou aceitá-lo outra vez e outra e mais outra.

Avistando esse cenário dá para perceber que, de certa forma, o Inter me emburrece e me leva pela mão às cavernas. Eu sei, inclusive, compreendo se me verem dessa forma. O Inter me faz beber e parar de beber. O Inter me tira do sério. É uma marca de nascença que trago exposta. Mas eu não sinto dor. Eu não sinto nada. O Inter é uma paixão cega e inexorável. E eu só me acordo para isso quando o Inter perde.

Quando não há mais prorrogação possível. Quando a pena é inevitável. Quando os refletores se apagam e os portões do Beira-Rio se abrem, convidando todos a se retirarem.

Eu sou mais colorado quando vejo ou faço parte de uma multidão vermelha em prantos, de cabeça baixa, seguindo em procissão pela avenida Padre Cacique para sei lá onde. Eu acabo torcendo mais para o Inter quando os deuses do esporte estão surdos para todas as preces que vêm do Sul. Alguns podem achar que tudo isso não passa de tolice. Mas nas minhas últimas horas e na minha autópsia o Inter estará presente. Será o meu, mas não o fim do Inter, pois outro alucinado como eu nascerá com a mesma sina. E assim o Inter seguirá.

Por que ele é uma praga que se alastra, uma peste tenebrosa. O Inter, na realidade, não é um time de futebol, é um sentimento absurdo. E a essa altura, perdido nesse devaneio, você deve estar se perguntando: que sentimento é esse afinal? Eu suspeito de alguns, até desconfio que seja amor ou algo que o valha. Porém, amor é muito pequeno para descrever.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Aspas II

Sigo separando algumas declarações que vou pescando por aí. A pauta é literatura, sempre.



"Quando acerta a mão, quando encontra o tom sóbrio para destilar a melancolia dos esquecidos, dos batidos, ele alcança grandes e ontológicos momentos".

Pedro Gonzaga, tradutor de Charles Bukowski (http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,em-livro-inedito-no-brasil-bukowski-esta-na-beira-do-precipicio,1570451)

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"Gregório Duvivier cismou que é poeta. E tem sido muito bem recebido por colegas poetas". 

Amador Ribeiro Neto, crítico literário (http://www.musarara.com.br/poesia-sem-graca)

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“Talvez o jornalismo tenha caído mais na patrulha do senso comum. Ele é sintoma de sua época. Precisamos torcer para que o pensamento único não prevaleça, para que a crítica mantenha qualidade”.

Sérgio de Sá, jornalista

“A gente vê uma pauta voltada mais para o evento do que para o livro”.

Manoel da Costa Pinto, crítico literário

(http://rascunho.gazetadopovo.com.br/a-era-da-turbulencia/)

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"Antigamente, escritores trabalhavam como taxistas, caixas, secretárias e garçons para viver. Samuel Beckett e muitos outros viviam assim. Era difícil, mas eles conseguiam alimentar uma perspectiva literária".

Horace Engdahl, jurado do prêmio Nobel de Literatura (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/10/1529195-juiz-do-nobel-de-literatura-critica-profissionalizacao-da-escrita.shtml)

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"Eu acreditava levar jeito para aquela coisa de fazer literatura, sentia que as palavras me mostravam alguma obediência, mas… teria o que dizer? E como uma pessoa que não tem o que dizer descobre, inventa, encomenda, pega emprestado, vai à luta de algo para dizer?".

Sérgio Rodrigues, escritor e jornalista (http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/vida-literaria/fulano-escreve-bem-mas-nao-tem-o-que-dizer/)

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Mandíbula - poema de O Ano dos Mortos

MANDÍBULA

Sua fome era tanta
Esqueceu do dia
da vida
Sentou à mesa posta
Rezou como se fosse noite de Natal
Chocou-se
Pela nonagésima vez
Sua família
Sua visita
Seu cachorro
Seu cristo em madeira feito à mão
Não rezavam consigo
Só sua mandíbula
Fora do lugar
Rangia
Lutando contra a dura carne
Contra o que restou do almoço
Contra o que restou
Contra a carne de pescoço
Contra tudo e todos
Lutou enquanto rangia

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Poema de O Ano dos Mortos, livro ainda inédito, com previsão de publicação para este ano, pela Bartlebee Livros.

Informações sobre meu primeiro livro, basta clicar aqui.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Resumo das Eleições


Segundo pesquisa do Ibope, 95% das pesquisas eleitorais estavam erradas.

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Meu candidato foi eleito: "povo respondeu nas urnas!".

Meu candidato perdeu: "povo burro, não sabe votar!".

sábado, 4 de outubro de 2014

Nevasca

A nevasca sempre vem. É preciso encontrar um lugar. É preciso se proteger. Montar uma barricada e hibernar, até que ela vá embora. Esse ano, ela pode chegar antes do esperado. E ficar mais tempo que o devido. Não sei. Os prognósticos são sempre confusos. Então, assim como os esquilos, que guardam as nozes em um lugar seguro para não morrer de fome, vou produzindo minha Literatura em silêncio, acumulando entulhos líricos, lascas e restos de poesia para me cobrir do frio, pois a nevasca sempre vem.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Três Historinhas Que Não São Mentira

Meu amigo recebeu alta depois de um mês.
- Cara, mais de 10 dias e os médicos não sabiam o que eu tinha. Eu tava apavorado. Tava começando a achar que tinha VHF.
- VHF?!
- Eu sei que dizem que não mata mais ninguém, que é só tomar uns coquetéis e tal, mas não sei não. Acho que eu me mataria se tivesse com VHF.
- Tu quis dizer HIV?
- Isso! Isso aí mesmo.

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Jogávamos sinuca no bar do velho Zé. Um amigo falava que estava com medo, tinha transado com uma garota de programa sem camisinha. Não sabia o que fazer. Velho Zé, que ouvia as lamúrias, interrompeu.
- Meu caro, não esquenta a cabeça. Só tem Aids quem faz exame.

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Pra fechar. Um jovem Emanoel Villodre ouvia conselhos de seu tio. Um deles chamou sua atenção.
- Essa coisa de camisinha é tudo cascata. Se tu estiver com uma menina, e não tiver camisinha, não te preocupa. Transa a vontade. Só depois que acabar toma um copo de leite. Mata tudo que é porcaria! Vai por mim

sábado, 27 de setembro de 2014

Uma Praga

Uma das maiores pragas do mundo moderno (e virtual) são os escritores independentes, infectados pela tal Literatura Independente.

Eles não têm mais fronteiras. Não necessitam mais pedir licença ou bater de porta em porta ou fazer malabarismo com folhas A4 no sinal. Agora, eles simplesmente invadem o espaço alheio com seus egos de pobre e despejam suas histórias estranhas, bizarras. Quer queira, quer não queira.

Um exemplo. Você está no metrô ou no ônibus, quase dormindo, e aparece um deles, nitidamente infectado, nojento, pedindo só alguns minutinhos de sua atenção. São muito inconvenientes. A sociedade não sabe o que fazer com eles. Em grandes eventos, como feiras literárias, simpósios, colóquios, etc, eles são varridos para longe. Afinal, ninguém suporta tanto fedor e imundície.

Então, todos se perguntam: onde estão as iniciativas governamentais para abrigar esse tipo de gente? Ninguém sabe, ninguém sabe...

No princípio, muitos morreram de Literatura Independente. Entretanto, com o tempo e o avanços médicos, as vacinas ficaram mais fortes e já é possível sobreviver. Lógico, há diversas limitações. Não é uma vida fácil. Nenhum pai, que tenha juízo, quer ver seu filho sofrendo disso.

Aos doentes – muitos acabam, infelizmente, propagando essa praga – cabe conviver com essas limitações. É um consolo, talvez, o único.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O Amor É Brega

Encostou no ouvido dela e declamou.

- Você é minha luz, estrada/ Meu caminho/ Sem você não sei andar sozinho/ Sou tão dependente de você...
- Que bonito isso, amor.
- Adivinha de quem é?
- Não faço ideia.
- É poeta e músico.
- Vinícius de Moraes?
- Não, Zezé Di Camargo.
- Nossa, como você é brega!
- Sou um brega invertebrado.
- Não seria inveterado?
- Não, invertebrado mesmo. Não tenho ossos, sou só coração.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Todo Mundo Sabe

Todo mundo sabe que os dados estão viciados
Todo mundo caminha com os dedos cruzados
Todo mundo sabe
A guerra acabou
Todo mundo sabe
Os bons perderam
Todo mundo sabe
A luta foi armada
Os pobres continuam pobres
E os ricos seguem ricos

É assim que as coisas são
Todo mundo sabe.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

What?!

- Tô com um job pra ti. Mas primeiro tu tem que ficar ligado no briefing. Depois do brainstorming, tu escolhe o case e faz um storyboard. É barbada! Pensa no aproach que sempre damos em nossos jobs e manda bala.

- Hum... Entendi. Deixa comigo.

- Ah, se tudo der certo, fizemos um broadcast da coisa toda. Que tu acha?

- Acho ótimo.

- Mas fica esperto no deadline.

- Ok.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Das Antigas: Croniqueta Publicada na Zero Hora

Ainda na época da faculdade de jornalismo, tive essa pequena crônica publicada no jornal Zero Hora, na coluna de Paulo Sant'Ana. Foi no dia 19 de outubro de 2007.


"A última coisa que o ator Paulo Autran fez em vida foi fumar um cigarro. Morreu de câncer e enfisema pulmonar. Oitenta e cinco anos de idade. Nada mal. Fumava desde os 23. Dois maços por dia. Novecentos e cinco mil e duzentos cigarros em vida. Sessenta e dois anos de fumante. Um cigarrinho, ao todo, pesa um grama. Autran tragou quase uma tonelada de fumo. Novecentos e cinco quilos e duzentos gramas exatos. O peso de um carro popular. A fumaça, obviamente, foi para seus dois pulmões. Trinta centímetros mede um pulmão. Oito centímetros, o tamanho de um cigarro. Os que o senhor Autran fumou em vida, se enfileirados no chão, dariam, 72 quilômetros. Uma viagem de Porto Alegre a Taquara".


Link da coluna: http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=1&local=1&template=3948.dwt&section=Blogs&post=30812&blog=220&coldir=1&topo=3951.dwt 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Alienadinho

Cheio de coisas acontecendo e eu sem opiniões formadas. O mundo fervilhando, os dedos de seta nervosos, os juízes da internet a toda, e eu quieto.

Eu devia me posicionar.

Mas, dia desses, comi uma pipoca doce tão boa, com calda de chocolate e coco ralado, que deu vontade de sair outra vez pra rua e não pensar em nada.

E assim estou.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Virose no Jornal A Tribuna


Saiu no jornal A Tribuna de hoje, uma crítica sobre meu romance de estreia, Virose. O texto é de Alfredo Monte, que é professor (doutor pelo Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP) e também colabora com A Folha de São Paulo.

Separei uns trechos:

"Um homem é assassinado numa pizzaria, crime encomendado por sua companheira; um entregador com um membro de 30 cm, que nunca conseguira ereção com mulher alguma, encontra o amor com uma solitária, excessivamente dedicada ao trabalho secretária obesa; o funcionário de uma empresa de energia tem de cortar o fornecimento de uma família, da qual o pai não consegue parar em emprego, a mãe se chapa com medicações tarja preta e o filho fica diante da tela da tevê o dia inteiro; um velho funcionário subalterno, num daqueles periódicos “choques de gestão” (ou reengenharia, ou qualquer modismo do tipo), é cortado do quadro da empresa, pira e chacina os seus antigos chefes, reunidos numa confraternização; um magnata da área da informática, famoso pela filantropia, é o chefão do submundo da destinação ilícita do lixo; um vírus  apelidado de “gripe suína” transforma-se numa pandemia mortífera, alastrando-se pelo território do país…"

(...) 

"Assim como outros jovens escritores (como Javier Arancibia Contreras e Vinícius Jatobá), ele revitaliza os veios do expressionismo e do existencialismo; grosso modo, o mal-estar que envolve estar vivo numa sociedade tão desigual. Afinal, como desabafou seu conterrâneo Antônio Xerxenesky (cujo F comentei semana passada): “Depois de muito ter chafurdado na metaficção, deixei de lado esses recursos (…) Essa coisa de ficar escrevendo sobre o ato de escrever cansa – e muito!”. Já era tempo. Acredito piamente que Deus tem um plano para Lucas Barroso como escritor".

No Monte de Leituras (do Alfredo Monte), dá pra ler o texto completo e outras resenhas. Inclusive, quem gosta de literatura tem que acompanhar o blog.

Clique aqui e leia o texto completo

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Virose no jornal Metro - http://lsbarroso.blogspot.com.br/2013/12/virose-no-jornal-metro.html

Minha entrevista no programa Tons e Letras - http://lsbarroso.blogspot.com.br/2014/02/minha-entrevista-no-programa-tons-e.html

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Aspas

Separei algumas declarações que li nesses dias. A pauta é literatura, lógico.


"No ano passado, por exemplo, eu estava sem dinheiro para pagar o aluguel e o seguro de saúde, no mês de setembro, porque o pagamento dos trabalhos que fiz em agosto não saíram na data prevista e, como sou uma celebridade literária internacional, tive que ir a Budapeste e à Feira de Frankfurt e eu estava muito feliz por estar indo a Budapeste e a Frankfurt e Berlim, ler meus textos, fazer umas performances muito loucas experimentais transgressoras de vanguarda, voltadas para o meu próprio umbigo e para uma meia dúzia de colegas escritores. Mas eu fiquei muito preocupado com dinheiro, que é a coisa mais importante que existe, economizando a ajuda de custo para pagar o aluguel, para não entrar no cheque especial, nem ter que pedir dinheiro para o meu pai, ou para minha mãe, o que é um negócio meio humilhante para uma celebridade literária internacional de 50 anos de idade".

André Sant'Anna, escritor (http://oglobo.globo.com/cultura/livros/andre-santanna-as-coisas-nao-sao-bem-assim-13541352#ixzz39v7qIvWB)

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"Livro é barato. (...) Caro é o direito autoral, se baixar o direito autoral para 5% vai baratear".

Ivan Pinheiro Machado, editor e dono da LPM (http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2014/08/ivan-pinheiro-machado-pessoas-que-criam-ideias-para-livros-digitais-nao-entendem-de-cultura-4571719.html)

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“Tenho que mudar meu modo, minha dinâmica… ter menos ansiedade… porque a verdade é que não tenho mais condições de viver como eu vivo… só da ficção que eu escrevo e das palestras que dou… tive meu momento, um tempo em que o sonho funcionou, foi bacana, mas é hora de articular um plano B”. 

Paulo Scott, escritor (http://www.posfacio.com.br/2014/08/07/paulo-scott-esta-cansado/)

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"O crítico, ao menos dentro das condições do presente, enfrenta e produz alguns problemas, vejamos: (1) se ele escreve a favor de determinado autor – ou seja, diz bem do seu trabalho, livro, poema, etc – não faz bem porque poucos sabem escrever “a favor” (sem tropeçar no compadrio) hoje em dia. De outra parte, essa ideia de “coletivo de escritores” reduz o “a favor” a um vergonhoso estilo laudatório que preserva mais o sujeito que elogia do que o elogiado, pois no momento seguinte o objeto dos confetes lançados terá de retribuir o gesto na mesma moeda. Escrever “a favor” (e as condições momentâneas apontam para isso) é quase sinônimo de relação corruptora.

E (2) se o crítico escreve contra, ele é um filho da puta (com o perdão da expressão, culto leitor) porque esse “coletivo de escritores”, todos eles conectados graças às redes sociais, esse coletivo de ativistas, forma um campo benfazejo onde se prosperou a ideia – inclusive para que ninguém sofra um surto psicótico – de que não existem mais bons nem maus escritores. O que importa é participar; ser um representante desse coletivo".

Ronald Augusto, escritor, crítico e músico (http://www.sul21.com.br/jornal/o-ambiente-literario-e-a-inexistencia-da-poeta-que-era-mulher-de-verdade/)

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“Tenho folgado em saber que uns tantos escritores percebem vida literária além da autoficção, que tanto caracteriza a literatura brasileira contemporânea. No exterior, agentes e editores me perguntam quando nossa produção literária vai apresentar histórias que não envolvam almas torturadas de narradores com bloqueio de criação, mergulhados em relações perversas, em cenários de grandes metrópoles, narrativas que buscam sistematicamente diluir sinais de brasilidade.”

Luciana Villas Boas, agente literária (http://www.musarara.com.br/tres-notas)

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"Nasci para professor. Quero ensinar até o que não sei". 
"Graciliano é muito limitado. A crítica confunde pobreza com poder de síntese".

Oswald de Andrade, escritor (http://www.revistabula.com/960-ultima-entrevista-oswald-andrade/)


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Poderoso Chefão II



"Não é impossível. Nada é impossível. Se há algo certo nessa vida, se a história nos ensinou alguma coisa, é que se pode matar qualquer um".

Do personagem Michael Corleone, em O Poderoso Chefão II.

Roteiro de Mário Puzzo, direção de Francis Ford Coppola.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Esses Jovens Andam Estranhos

Eu já estava vestido com meu abrigo velho do Inter, aquele surrado que uso para ficar em casa, antes de dormir, quando as vizinhas começaram, outra vez, uma festinha. Dia de semana. De manhã cedo, tenho que sair para trabalhar.

Talvez, não consiga pegar no sono. Sinal de que estou ficando velho. Faz pouco tempo, não acordava nem com tiro, briga, festa, o escambau. As vizinhas, duas irmãs de 18 e 20 poucos anos cada, estão sozinhas em casa. “Elas estão certas, deixa aproveitarem”, eu diria se me perguntassem. Afinal, qual o problema?

Os amigos chegaram e logo logo começou uma cantoria. Uma disputa de karaokê. A essa altura, sei que não vou dormir mais. Sirvo uma dose e abro a janela. Não há cheiro de maconha e pelas vozes, que tomam conta de toda a rua, ninguém parece bêbado. Por consequência, não há sinal de sexo. Esses jovens andam estranhos...

E eu não consigo parar de rir deles – e um pouco de mim, lógico. Estou ficando velho. Não pego mais no sono tão fácil.

Amanhã, vai ser barra.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O Prazo de Validade das Coisas

Você abre a dispensa e é soterrado por tudo que poderia ter sido. Você senta no sofá gasto e o velho Quintana lhe avisa que já são seis horas, há tempo... Se você tivesse a manha, teria seguido a risca aquele maldito livro de autoajuda que recebeu no amigo secreto da firma e hoje só serve de calço para a mesa da sala. Ou, quem sabe, teria escrito um roteiro mais fácil. Você não acha graça de suas elucubrações e abre a última garrafa. Não pode beber, está tomando anti-inflamatórios. Você fica impressionado com o prazo de validade das coisas. Disseram no noticiário que o mel não estraga. Você odeia mel. É doce demais. A hora é agora, você pensa. Mas você estava com um poema na cabeça e bateu o carro contra o muro de uma escola. A estação de trem está fechada. Você lembra que enquanto dormia, ela ria de verdade. E, agora, quando o riso começa a ecoar, você aumenta a televisão. Ela jogou sujo – mas quem não joga? Você poderia ter sido um boxeador ou um belo zagueiro de várzea, mas o problema é que você é vulnerável demais. Você abre a janela do quarto e a escuridão está serena. Os gatos aproveitam a deixa e se equilibram no parapeito. Olham tudo e não veem porra nenhuma. Poderiam pular para chegar mais perto, poderiam fugir para bem longe, mas eles desistem logo. Preferem ficar lambendo suas feridas.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O Maior Músico e o Maior Cartunista

História contada por Jaguar na Flip desse ano (pesquei do blog do Barcinski).


“Millôr odiava o Tarso de Castro, que era muito amigo do Chico Buarque, então o Millôr vivia falando mal do Chico. Um dia, eu estava com o Millôr num bar, quando o Chico chegou e foi tirar satisfação. Teve uma discussão, o Chico cuspiu no Millôr, que jogou tudo que tinha na mesa – incluindo a moça com quem ele estava – em cima do Chico. No dia seguinte, fiz uma notinha dizendo, sem citar nomes: ‘O maior músico brasileiro e o maior cartunista brasileiro saíram no tapa num bar.’ E comecei a ouvir de um monte de gente: ‘Que história é essa, que o Ziraldo saiu na porrada com o Martinho da Vila?’”.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

... Ou Morte



As balas
E as bombas
Arrebentam tudo


Monto barricadas
Com lascas e tocos de poesia


Sou o general das estratégias perdidas



terça-feira, 29 de julho de 2014

Fazendo uma Faxina ao Som de Eric Clapton


Coloquei alguns discos do Eric Clapton pra tocar e fui editar e reler alguns contos antigos para um futuro livro. Foi uma tarefa dura. Muito material. Mas, o que realmente me entristeceu, muito material ruim. Na primeira linha, já desapegava ou tinha vergonha de mim mesmo. Não rolava sequer uma leitura completa, crítica. Partia para o próximo. E assim ia.

É foda olhar para trás e se arrepender. Tem coisas que simplesmente não dizem mais nada. A conclusão é que só serviram de um grande esforço. Num olhar otimista, serviram de aquecimento para algo melhor. Mas isso é uma piada. As coisas não funcionam assim. O certo é que foi em vão. Um amontoado de pó digital e papel. Desperdício de tempo perdido que não serviu pra nada. Energia jogada fora e canalizada direto pro lixo. Quanta coisa deixei de fazer para escrever...

O que se passava? Que força estupida me levou aquilo? Deduzi que foi culpa da pressa e do medo. Eu tinha que expulsar os demônios. Botá-los pra dançar. Domá-los antes que eles tomassem conta da cidade. Enfim, pressa e medo, os mesmo culpados de sempre. A desculpa de todo o autor. Talvez, os mesmos motivos que fizeram Clapton compor alguns sons ruins, pensei. E esse acabou sendo meu consolo. As músicas ruins do Clapton. Tocou algumas durante minha faxina. Bem poucas, é verdade.

Me apeguei a elas. Senão, seria complicado seguir em frente.
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Citar uma ruim seria maldade, então vai uma das boas do homem...


sexta-feira, 18 de julho de 2014

O Momento Em Que Se Vira Escritor

" Eu tava preenchendo uma ficha que pedia a profissão. Eu já tava escrevendo jornalista, quando Jorge Amado me disse: apaga essa merda e bota escritor. E foi assim que eu virei escritor..."

João Ubaldo Ribeiro (1941 - 2014)

terça-feira, 15 de julho de 2014

Um Ano de Virose



Faz um ano que saiu meu livro de estreia, Virose, pela Bartlebee Livros. Não foi nada fácil. Poderia elencar as dificuldades para colocá-lo na rua. Mas o bacana foi que saiu. Fui lido por algumas pessoas, conheci outras tantas. A literatura tem disso. No fim das contas, é um diálogo. Não uma obra e só. A literatura acaba fazendo você sair do casulo, dando de cara com um público ou com a falta dele. E assim como eu, tem muitos por aí, nessa luta insana. E isso poderia me derrubar, mas, ao contrário, me deixa animado, porque conheci muitos deles e sei que são gente boa, com talento e afim de fazer a coisa acontecer.

Eu disse que não ia falar de dificuldade, mas...

Voltando ao Virose. O curioso é que depois de publicado, nunca mais o li. Foram tantos retoques que não tenho interesse (não agora) em lê-lo ou editá-lo. Ainda lembro bem os primeiros rascunhos, as madrugadas acordado, tentando não perder a história. Quando terminei, bateu um medo desgraçado. O que faço com isso? Com ele pronto e publicado posso dizer que não me arrependo do que consegui colocar naquelas 100 páginas. Virose tem um bom ritmo. Não é afetado. É direto.

Dá para dizer que fiquei satisfeito. Vamos ver daqui a dois anos, como ele vai envelhecer em mim.

Abraço a todos que me apoiaram, leram e ajudaram a divulgar. Tenho todos comigo.

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Mais sobre Virose: http://www.bartlebee.com.br/catalogo/livro/virose 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Um Encontro com o Dono da Verdade

Tive o desprazer de conhecer um formador de opinião. Estava numa esquina, sozinho. Como se fosse um cego vendendo bilhete de loteria. Ele sorria para as pessoas. Cumprimentava com um aceno ou só com a cabeça. Tinha pose, levava jeito para aquilo. Exalava erudição. Alguns, inclusive, cheiravam-no. Segundo o próprio, já tinha formado mais de 783.000 opiniões até o momento.  Tinha orgulho desse dado. Perguntei qual era a finalidade daquilo e onde ele queria chegar. Talvez quisesse competir com Jesus ou alguém do tipo. Não era para tanto, afirmou. Queria ficar só um pouco, um tempinho a mais que fosse, na cabeça ou no coração das pessoas. Já terá valido a pena, sentenciou. Não era possível. O bastardo era um romântico. Conseguia dormir à noite? Não, logicamente. Sua mente fervilhava. Mas teria muito tempo para descansar, profetizou.

Confesso que fiquei com inveja. Provavelmente, ele ficaria por mais uns tempos atazanando meus filhos e netos. Suas crônicas e artigos seriam catalogados e se tornariam leituras obrigatórias. Sua imagem ilustrando ideias e ideais viveria pra sempre, ou, pelo menos, até onde minha vista alcança. Sua cara de Buda e seu olhar sereno de pastor protestante preencheriam o imaginário. A verdade seria aquele rosto. A VER-DA-DE...

Pensei no meu filho, que nem existe, tendo de suportar aquilo. Ou, em um cenário mais tenebroso ainda, venerando aquilo. A VER-DA-DE. Meu filho tendo sua opinião formada pela VER-DA-DE daquele infeliz. Era demais. Apertei sua mão e desejei que ardesse no Inferno, que todas suas teses e teorias sumissem e ele fosse afundado por seu ego. Acrescentei, dizendo que o Capeta, só de sacanagem, deveria prender seu ego ao seu pé, para que ele arrastasse aquele pequeno mundinho durante toda sua estadia subterrânea. Filho da puta, você é um grande de um filho da puta, conclui bem baixinho e sereno próximo a sua cara, olhando eu seu olho de mestre. Só me acalmei quando ele me mandou a merda. Quem eu pensava que era, ele perguntava insistentemente. Dei as costas. Ele ficou vociferando sozinho. E eu subi aliviado no primeiro ônibus que apareceu.

domingo, 6 de julho de 2014

Em Casa V

Voltei em duas horas e meia. Subi a escada com dificuldade e tive que dar um encontrão na porta para entrar.

- Mais um dia difícil, Lucas?

- É...

- Mas hoje é domingo, Lucas.

- Sim, acontece que eu estava escrevendo um dos maiores contos da nova literatura brasileira, uma trama com diversas idas e vindas, personagens fascinantes, um ritmo frenético que mudaria pra sempre o que as pessoas pensam sobre o estilo policial e até mesmo o que elas pensam ser um conto. Mas tive que largar na metade para ir no supermercado. Supermercado! Eu fazia as compras e tentava lembrar onde estava o detetive, o médico assassino, as vítimas... E, ao mesmo tempo, onde é corredor do feijão, arroz, pão... E me perdi! Me perdi completamente. Tudo porque eu trabalho e não vivo dessa merda de escrever. Tudo porque a editora faz um favor em me publicar. Eles me tratam como um coitado. Eles não estendem um tapete vermelho pra mim, não me inscrevem em prêmios, feiras literárias e essa porra toda. Aliás, acho que eles não fazem isso porque eu sigo tendo que ir no supermercado aos domingos. Mas eu trabalho a semana toda e só tenho o domingo. Você entende? É de fuder! É de fuder! E, agora, como que eu vou encontrar o fio dessa história?

- As compras estão nas sacolas, Lucas?

- Claro, gato imbecil! Onde mais estariam?

- Comprou aquela ração mole de atum, Lucas?

- Não tinha. Então, optei pela “Salmão com Vegetais Frescos”.

- Ótima escolha, Lucas.

sábado, 5 de julho de 2014

Não Tem Tigres Na África

Só fui ver um filme em 3d faz pouco tempo. Gravidade era o título. Como tenho vertigem crônica, passei mal, demorei 20 minutos para me estabilizar, entrar no eixo. No fim, foi como um brinquedo novo, daqueles modernosos, sem graça.

Nada comparado a um Globo Repórter que assisti, numa sexta, tempos atrás. As gaivotas pousavam em meu ombro, os hipopotamos rolavam num lodo ao meu lado e eu podia sentir aquele calor africano em minhas têmporas (aliás, eu não sabia que tinha temporas até esse dia).

A tv era de tubo e não tinham oculos para outra dimensão. Foram algumas garrafas de ceva, um Domecq e outras porcarias. O calor estava insuportável e eu não tinha para onde ir. Sérgio Chappelin interveio. Vestia um traje safari. Me arrastou com um esforço considerável e me disse que tudo ficaria bem no sábado.

Antes que ele fosse embora, perguntei como suportava aqueles bichos todos esses anos e aquelas temperaturas malucas. Ele disse que tinha que ajudar sua família, eles dependiam da grana dele, senão tinha largado tudo aquilo de mão. Eu disse que família era tudo uma merda e ele sorriu.

Quando ele estava longe eu gritei. "Faltaram os tigres!". Ele respondeu que não tinham tigres na Africa. Era tudo uma invenção da Globo. Eu fiquei chocado. Fui dormir muito mal.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Gimme Shelter e As Voltas que o Mundo Dá


Depois de um dia difícil, tocou Gimme Shelter. Não é uma música comovente. Mas de uma forma estranha, veio uma avalanche de recordações. Meu pai me levando de bicicleta para a escola. Minha mãe me ensinando o Pai Nosso. Minha vó segurando minha mão enquanto me equilibrava no muro do prédio que ela morava. Meus amigos do São Sebastião e meus sábados de futebol no Laranjal. As madrugas que esperei o Corujão na avenida Farrapos, depois de erguer todas as mesas do restaurante, também apareceram. Tinha os equipamentos e cabos que eu carregava nas externas da TV Unisinos. Vieram as noites escuras no metrô, voltando de São Leopolodo. Mais o ônibus Lindoia, deserto, às 23h40. Como eu consegui? Oito anos de faculdade. O que eu tinha na cabeça? Onde eu queria chegar, meu Deus? Acho que, no fundo, devia esse diploma para eles. Todos eles. Acho que eles nunca estiveram tão felizes. Eu dormia no metrô, no ônibus e nunca perdia o ponto. Como podia? Chegava meia-noite e sempre tinha um prato me esperando. Meus pais perguntavam se estava tudo bem. Sempre estava. Sempre estava. Num salto, eu já não estava mais com eles. Era eu e a Marília, um apartamento e uns gatos vira-latas para salvar o dia. E quando Gimme Shelter estava no fim apareceu, nesse curta-metragem, essa de conhecer a Europa.

Às vezes, você olha para trás e não acredita nas voltas que o mundo dá.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Documentário - Dossiê 50: Comício a Favor dos Náufragos

A Copa do Mundo de 50 já foi. O fantasma foi sepultado com cinco títulos mundiais pelos "escretes canarinhos". Mas por aqui, é diferente, não laureamos os vencedores, pois a felicidade soa pedante, como diz o poeta.

Então, vamos e retornamos sempre aos derrotados, aos fracassos, aos esquecidos...

Estes, sim, os heróis, personagens principais, nesse mundo repleto de Café Preto e Solidão. Por isso, em época de Copa do Mundo, sugiro um belo documentário sobre nossa dor maior.

Um salve ao jornalista Geneton Moraes Neto e sua equipe, que produziram e montaram essa grande história, narrada por Pereio e com participação de diversos grandes atores, como Chico Diaz e Milton Gonçalves.


segunda-feira, 23 de junho de 2014

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Consolação - Poema de O Ano dos Mortos

Consolação

Lucas Barroso

As lágrimas não formam poças nas calçadas
São os cuspes
As babas cansadas que acumulam e dão cheiro
A essa cidade invadida
E povoada por todos os lados
O reboco dos apartamentos JK
Cobre e dá textura ao retrato
Que ninguém pinta
Os velhos dizem que tudo foi nobre
Lá atrás
Os novos e viciados
Se deitam na pele cinza da praia que não existe
Mijam nos tijolos à vista
Abraçam as alças de acesso
Olham os carros parar
E não dão a mínima
A tristeza já não comove mais
Ela faz parte dos dias
E quando não fez?
Todos, incrivelmente lúcidos, sabem de sua existência
Sentem seu vazio
Preencher seus peitos inflamados por um grito que ecoa
Em alguma viela deserta
Muitos deixam de caminhar
Para admirar seus muros
Seus traços escuros
Suas veias coloridas rubricadas por Deus
As mãos dadas
Ou unidas
Dão dó
São motivo de esmola nos sinais
E no fim das contas rendem um pão com banha
 “Estamos todos sãos e salvos”
É o que dizem aqueles que brindam
Antes de tentar a sorte
Antes de se esquecer que se está sóbrio
E que tudo vai terminar no ponto final
A palavra felicidade soa pedante
Não serve de autoajuda nem para quem a cunhou
Não vale um sorriso
Um lapso muscular facial
Uma desistência...
Se todos se calassem
Poderia se ouvir
Cada saudação
Cada assombro de uma gaita de boca
De uma corda de guitarra
Deslizada com um vidro de antidepressivo no anular
Pode-se ouvir
No canto da mesa do bar
Cada dose de lágrimas
Sendo derramada para dentro
Em um gole só
Pode-se sentir
Nada para o santo
Nada
O cigarro se apaga
As brasas e as cinzas
Fazem cama para a canção
Que é de toda essa gente
Viva entre a fumaça
Que, por pouco, muito pouco
Não deu certo

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Foto: Coletivo Iscagram

O poema fará parte do meu segundo livro, O Ano dos Mortos, editora Bartlebee Livros. O lançamento deverá acontecer até a metade desse ano.

Minha estreia, acesse aqui.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Rascunho para um Conto

(...)

Desfazia as pelotas de arroz, ainda gelado, na panela. Requentava os restos do dia anterior e esperava. “E se ela não voltar?”. Não queria, mas volta e meia tinha esse pensamento. Não sabia cozinhar. Seria uma barra viver sem ela por perto.

Riu da sua bobagem machista que, no fundo, deveria ter um pouco de sentido. Não acreditava no machismo. Lavava louça e contribuía com tudo. Não só com dinheiro, mas com a força, com a instalação do chuveiro, conserto das portas, ajustes e pequenas reformas estruturais. Então, ela também devia ter esse tipo de pensamento, não? Riu pela segunda vez.

A louça já estava limpa e tudo parecia em ordem. Mas... "E se ela não voltar?". Por falta de ocupação, ficava remoendo aquilo. Abriu uma cerveja e ligou a tv. Encontrou a reprise de uma partida de futebol. Se o jogo não desse um jeito de tirar aquela maldita dúvida, só restaria a pornografia.

(...)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Em Casa IV

A gata preta, na poltrona ao lado da cama, roncava como um fusca 74.

- Acorda, Lucas!
- O que você quer?!
- Ela está roncando, Lucas.
- E daí?
- Falei que não era uma boa ideia ter trazido essa gata, Lucas.
- Agora, não tem mais volta. Não vou largar a bicha na rua.
- Mas ela ronca. Está difícil dormir, Lucas.
- Difícil é dormir contigo. Embaixo do cobertor e com esse bafo de peixe.
- Não tenho bafo de peixe, Lucas.
- Não sei como você tem esse bafo. Faz tempo que não te dou sardinha.
- Pode ser a ração de salmão, Lucas.
- Pode ser...
- Ela não para de roncar, Lucas.
- Deixa ela. Vai pros meus pés ou cai fora!
- Mas eu prefiro o travesseiro, Lucas.
- Deu! Sai, sai...
- Tá certo. Eu fico nesses panos aqui no chão. Mas dá pra ligar a estufa, Lucas?

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III - http://lsbarroso.blogspot.com.br/2014/05/em-casa-iii.html 
II - http://lsbarroso.blogspot.com.br/2014/03/em-casa-ii.html 
I - http://lsbarroso.blogspot.com.br/2014/01/a-primeira-coisa-que-faco-e-desabotoar.html 

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A dupla

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Esses Políticos

O pessoal que matou a mulher a pauladas em Guarulhos, certamente era um grupo de políticos.


Os que colocaram formol no leite de milhares de consumidores, foi comprovado, também são políticos.


Os torcedores que arrancaram um vaso sanitário do seu lugar de origem, jogaram na cabeça de um, matando-o na hora, são representantes do povo.


Todos que atiram lixo na rua e entopem as bocas de lobo são políticos.
São políticos também os que enchem a cara e fazem barbáries no trânsito.


Os que escrevem besteiras e emitem opiniões sem embasamento algum nas mídias sociais, logicamente...


Ah, você entendeu.


Esses políticos só fazem merda.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Abalo Sísmico - Poema de O Ano dos Mortos

Abalo Sísmico

Lucas Barroso

O que guardo comigo
Trago há muito
Como uma palavra que não existe
E que minha boca está quase por inventar
É uma vontade contida
De um desejo confuso
Está amargado em mim
Veio dos meus pais mortos
Da multidão de estranhos
Dos poucos amigos
Mas não é nada
Que possa ser descoberto
Ou inventado por alguém
É algo meu
Que arrasto como uma bola de ferro pelo pátio do presídio

Está na minha cara quando amanhece
E em todos os dias que amanheci

Agora, que estou ficando velho
Sinto palpitar em alguma parte daqui de dentro

Por teimosia
Jogo meus dedos contra as paredes da pele
Revisto minhas partes uma a uma
Volto meus olhos para dentro
Vasculho as tripas e os restos fecais
Separo os ossos dos músculos
Procuro a dor
Não encontro a dor
Acabo por me abraçar
Com a mais abrupta força que trago
Como se me amasse mais que tudo
Como se dissesse para mim mesmo
Que não tenho a real noção do tempo
E que tudo que guardo comigo
Não é meu

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Foto: Gabriela Di Bela

O poema fará parte do meu segundo livro, O Ano dos Mortos, editora Bartlebee Livros. O lançamento deverá acontecer até a metade desse ano.

Minha estreia, acesse aqui.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Garota, Eu vou Pra Morro Reuter

Quando eu me largar pra Morro Reuter, não vai ter direita nem esquerda. Lá, não será preciso desviar dos chatos pra seguir meu caminho (aliás, pra que caminho?). Os crentes, com suas trocentas visões sobre a Bíblia, não terão vez, nem voz. Certamente, os ecochatos não brigarão com os carrocêntricos em Morro Reuter. Nem os vegetarianos e os carnívoros. Todos sumirão do radar. As opiniões formadas sobre tudo e todos se perderão no silêncio da mata, brenhas, morros, picadas...

Minha úlcera vai se dissipar no ar taciturno de Morro Reuter. Porque lá não tem polêmica todo o dia. Enfim, meu amor e meu ódio por Porto Alegre será uma suave recordação.

Em Morro Reuter, no máximo, um GreNal...

E olhe lá!

sábado, 17 de maio de 2014

Tarde da Noite

Foto: Marília Macedo

Muitos levam a fama. Recebem os aplausos. Parece triste viver às escuras, mas me sinto bem em pensar que ajudei a construir algo. Como um soldado que cumpriu sua missão ou um pedreiro que ergueu uma viga. Simplesmente, alguém dos bastidores. Um figurante. Alguém sem rosto, entretanto, fundamental para que as coisas sigam seu ritmo natural. Um escritor fantasma que fez um belo discurso, que montou um tremendo raciocínio. 

À noite, quando ninguém vê, quando minha invisibilidade é mais evidente, é só nisso que eu penso. Nessa possível relevância. E acrescento: ah, sou um homem simples. Por que lutar por vaidade? O que há de mais em ser protagonista? 

E nesse instante, surge a voz de meu pai: basta fazer o que tem que ser feito, rapaz! É o que ele sempre me diz. Pra me confortar. 

Vai ver, o velho tinha essas ideias também. E sofria as mesmas angústias. Mas, em algum momento, ele desistiu, foi corrompido ou somente aceitou o tempo. Não sei. Difícil compreender. Eu ainda sou o filho. 

Contemplando uma noite sem estrelas. 

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Um Escritor Precisa De...

Vendeu muito, vendeu pouco. É polemico, não é polêmico. Tem uma causa, não tem. É popular, é erudito. Faz parte da cena, não conhece ninguém. Fez sessão de autógrafos, não fez. É de editora grande, é independente. Tem coluna em jornal, só publica em blog. Escreve no computador, rabisca num caderno.

Tudo isso não interessa na Literatura. O que é importa é:


TEM OU NÃO TEM POSE DE ESCRITOR? 

terça-feira, 13 de maio de 2014

Em Casa III

- Mais um dia difícil, Lucas?
- É...
- Já são 417 em dois anos, Lucas.
- Não sabia que você estava contabilizando.
- É uma boa maneira de matar o tempo. Vai beber hoje, Lucas?
- Hoje, não.
- E aquela garrafa nova, Lucas?
- Ela pode esperar.
- Vai escrever um pouco, Lucas?
- Também não.
- Você parece desanimado. Por que não sai, Lucas?
- Conheço toda a cidade. Esse apartamento é o melhor lugar prum cara como eu.
- Por que você trouxe pra casa essa gata preta, Lucas?
- Porque você está velho. Ela parece nova. E estava na rua miando. Achei que seria uma boa companhia.
- Mas eu não preciso dela, Lucas.
- Todos precisam de companhia.
- Eu me virava tão bem sozinho, Lucas...
- Eu sei, eu sei. Mas você vai se acostumar.
- Posso subir no teu colo, Lucas?
- Pode. Desde que você fique quieto.

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sexta-feira, 9 de maio de 2014

Adalberto Souza Mandando Bem



http://globotv.globo.com/tv-gazeta-al/bom-dia-alagoas/v/conheca-mais-sobre-o-trabalho-do-poeta-adalberto-souza/3334649/

Às vezes, esse povo que insiste na Literatura, que ama o que faz, tem seu trabalho reconhecido.

Foi o caso do amigo Adalberto Souza. Ele deu um depoimento bem bacana para o Bom Dia Alagoas. Falou do seu livro recente, Fantasmas Não Andam de Montanha-Russa.

Sobre o livro, posso dizer que há tempos não me deparava com uma história de amor. Sem pieguices. Sem doses cavalares de açúcar. Uma história repleta de solidão, medo e incertezas. Ao mesmo tempo, senti, depois de concluir a jornada, uma esperança pulsante naqueles versos.

Quem gosta de poesia, vale a pena ir atrás desse livro. Separei alguns trechos:

“Busque-me – encontre minha falta de sentido – na ausência desnorteada das tuas mãos”

“Preciso de alguém que me cale por dentro e me invente por fora”

“O inferno é a cara da solidão”

Vale a leitura!