Foto: Marília Macedo |
Muitos levam a fama. Recebem os aplausos. Parece triste viver às escuras, mas me sinto bem em pensar que ajudei a construir algo. Como um soldado que cumpriu sua missão ou um pedreiro que ergueu uma viga. Simplesmente, alguém dos bastidores. Um figurante. Alguém sem rosto, entretanto, fundamental para que as coisas sigam seu ritmo natural. Um escritor fantasma que fez um belo discurso, que montou um tremendo raciocínio.
À noite, quando ninguém vê, quando minha invisibilidade é mais evidente, é só nisso que eu penso. Nessa possível relevância. E acrescento: ah, sou um homem simples. Por que lutar por vaidade? O que há de mais em ser protagonista?
E nesse instante, surge a voz de meu pai: basta fazer o que tem que ser feito, rapaz! É o que ele sempre me diz. Pra me confortar.
Vai ver, o velho tinha essas ideias também. E sofria as mesmas angústias. Mas, em algum momento, ele desistiu, foi corrompido ou somente aceitou o tempo. Não sei. Difícil compreender. Eu ainda sou o filho.
Contemplando uma noite sem estrelas.