quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O Pugilista


Socou as paredes com força. Ganchos, cruzados, diretos. Seus pés bailavam no quarto deserto. Com algum esforço, ouvia seu nome das arquibancadas. Era um sinal para seguir. O adversário estava em pé. Queixo duro. A guarda baixa. Não se manteria por muito tempo. Era o último assalto. Talvez, o penúltimo... Ganhar por pontos é para estrategistas. "Tenho que derrubá-lo", pensava. Seus dedos já estavam adormecidos e seu punho flácido. Mas seguiu. Apenas atirando as mãos contra o oponente. Até que foi nocauteado. Preferia assim. Prefiria morrer atirando, como aquele personagem no velho filme de faroeste. Acordou no hospital. As mãos engessadas. Três longos meses sem escrever. Três longos meses ouvindo vozes, versos, capítulos, urros, sonhos e delírios em sua mente. Não era possível segurar um lápis, tampouco bater as teclas. Seus dedos estavam mortos. Se ela não tivesse ido embora, teria alguém para quem soletrar. Alguém para ouvi-lo. A humanidade ganharia, certamente, um belo livro de poesia. Agora, no estado em que se encontrava, não passava de um pugilista inútil.