sexta-feira, 31 de outubro de 2014

De Malas Prontas

Comprei um trailer
Vou levar minha solidão
Para bem longe

Talvez,
Descubra um país novo
Onde a língua oficial seja o silêncio

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Entrevista na Revista Mamíferos

Fui o entrevistado da revista Mamíferos. Falei com o escritor Diego Moraes sobre futebol, Literatura e solidão. Sugiro que acompanhem essa revista. Tem muita gente boa e entrevistas bacanas.

Foi assim:

DIEGO MORAES - Você é um zagueiro de várzea. Sonhou em jogar no Inter? O que não realizamos na infância vira literatura. Pretende escrever um romance futebolístico um dia?

LUCAS BARROSO - Na verdade, não fui jogador porque ninguém me levou para um time, para ser testado. Tem muito cara pior que eu jogando por aí. Outra: Jóbson e Adriano Imperador seriam escoteiros se eu tivesse sido jogador. Amo o Inter. Mas o Inter não me merece mais. Tá muito elitizado. Fui num jogo, no Beira-Rio novo, e não vi mais aquele povão. Não tinha aquela vibração. Parecia um teatro. Parecia um monólogo do Melamed. Futebol tá chato pra cacete… Não me motiva a escrever sobre.

DIEGO MORAES - Quando começou esse lance de escrever? De fazer literatura. No curso de Jornalismo?

LUCAS BARROSO - Começou quando li a série Vagalume, na escola Ana Neri. A biblioteca de madeira devia ter uns 30 livros (se tinha!) e 50% era da coleção. Os professores me empurraram Machado, Eça, Bandeira, Camões… Sabe o que é uma criança ler Camões? É traumatizante. Até hoje, quando vejo algo sobre Camões sinto calafrios. Não tenho medo de cobra, mas tenho de Camões… Também passei por Nelson Rodrigues, que dava na televisão. Aquelas atrizes todas peladas. Até hoje, lembro dos peitos da Gabriela Duarte. Fui atrás dos livros e enlouqueci. Era aquilo. Acho que o Jornalismo só potencializou o que me interessa, que é contar história. No segundo grau, estava em dúvida entre Jornalismo e Letras. Contei isso pra professora e ela disse que optou por Letras e a vida dela acabou sendo uma merda… 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Caminho das Pedras

O mundo anda amargurado. E eu não tenho pretensão de mudar isso. Mas tem coisas bonitas por aí. Não precisa procurar nos livros de autoajuda, nem entrar para o Alcoólicos Anônimos para entender o que eu estou falando. Eu não sei a receita, nem tenho a pretensão de criar uma, mas desconfio que tenha algo a ver com não ter pressa, com desformatar o olhar...


sábado, 11 de outubro de 2014

Quando o Inter Perde

Foto: EFE
Não entendo a vaia. Na verdade, não aceito os apupos. Sou febril. O Inter pode entrar em campo com 11 pernas de pau que, mesmo assim, eu vou torcer. O Inter pode ser dirigido por pessoas que nunca chutaram uma bola na vida e só querem dinheiro, que vou apoiá-lo. O Inter pode cair para a segunda, terceira e quarta divisão, que vou gritar seu nome. O Inter pode até acabar antes de mim, o que é improvável, que vou seguir vibrando por um Inter que não existe. O Inter pode me trair ou me envergonhar, como fez algumas vezes, e eu vou aceitá-lo outra vez e outra e mais outra.

Avistando esse cenário dá para perceber que, de certa forma, o Inter me emburrece e me leva pela mão às cavernas. Eu sei, inclusive, compreendo se me verem dessa forma. O Inter me faz beber e parar de beber. O Inter me tira do sério. É uma marca de nascença que trago exposta. Mas eu não sinto dor. Eu não sinto nada. O Inter é uma paixão cega e inexorável. E eu só me acordo para isso quando o Inter perde.

Quando não há mais prorrogação possível. Quando a pena é inevitável. Quando os refletores se apagam e os portões do Beira-Rio se abrem, convidando todos a se retirarem.

Eu sou mais colorado quando vejo ou faço parte de uma multidão vermelha em prantos, de cabeça baixa, seguindo em procissão pela avenida Padre Cacique para sei lá onde. Eu acabo torcendo mais para o Inter quando os deuses do esporte estão surdos para todas as preces que vêm do Sul. Alguns podem achar que tudo isso não passa de tolice. Mas nas minhas últimas horas e na minha autópsia o Inter estará presente. Será o meu, mas não o fim do Inter, pois outro alucinado como eu nascerá com a mesma sina. E assim o Inter seguirá.

Por que ele é uma praga que se alastra, uma peste tenebrosa. O Inter, na realidade, não é um time de futebol, é um sentimento absurdo. E a essa altura, perdido nesse devaneio, você deve estar se perguntando: que sentimento é esse afinal? Eu suspeito de alguns, até desconfio que seja amor ou algo que o valha. Porém, amor é muito pequeno para descrever.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Aspas II

Sigo separando algumas declarações que vou pescando por aí. A pauta é literatura, sempre.



"Quando acerta a mão, quando encontra o tom sóbrio para destilar a melancolia dos esquecidos, dos batidos, ele alcança grandes e ontológicos momentos".

Pedro Gonzaga, tradutor de Charles Bukowski (http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,em-livro-inedito-no-brasil-bukowski-esta-na-beira-do-precipicio,1570451)

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"Gregório Duvivier cismou que é poeta. E tem sido muito bem recebido por colegas poetas". 

Amador Ribeiro Neto, crítico literário (http://www.musarara.com.br/poesia-sem-graca)

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“Talvez o jornalismo tenha caído mais na patrulha do senso comum. Ele é sintoma de sua época. Precisamos torcer para que o pensamento único não prevaleça, para que a crítica mantenha qualidade”.

Sérgio de Sá, jornalista

“A gente vê uma pauta voltada mais para o evento do que para o livro”.

Manoel da Costa Pinto, crítico literário

(http://rascunho.gazetadopovo.com.br/a-era-da-turbulencia/)

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"Antigamente, escritores trabalhavam como taxistas, caixas, secretárias e garçons para viver. Samuel Beckett e muitos outros viviam assim. Era difícil, mas eles conseguiam alimentar uma perspectiva literária".

Horace Engdahl, jurado do prêmio Nobel de Literatura (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/10/1529195-juiz-do-nobel-de-literatura-critica-profissionalizacao-da-escrita.shtml)

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"Eu acreditava levar jeito para aquela coisa de fazer literatura, sentia que as palavras me mostravam alguma obediência, mas… teria o que dizer? E como uma pessoa que não tem o que dizer descobre, inventa, encomenda, pega emprestado, vai à luta de algo para dizer?".

Sérgio Rodrigues, escritor e jornalista (http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/vida-literaria/fulano-escreve-bem-mas-nao-tem-o-que-dizer/)

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Mandíbula - poema de O Ano dos Mortos

MANDÍBULA

Sua fome era tanta
Esqueceu do dia
da vida
Sentou à mesa posta
Rezou como se fosse noite de Natal
Chocou-se
Pela nonagésima vez
Sua família
Sua visita
Seu cachorro
Seu cristo em madeira feito à mão
Não rezavam consigo
Só sua mandíbula
Fora do lugar
Rangia
Lutando contra a dura carne
Contra o que restou do almoço
Contra o que restou
Contra a carne de pescoço
Contra tudo e todos
Lutou enquanto rangia

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Poema de O Ano dos Mortos, livro ainda inédito, com previsão de publicação para este ano, pela Bartlebee Livros.

Informações sobre meu primeiro livro, basta clicar aqui.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Resumo das Eleições


Segundo pesquisa do Ibope, 95% das pesquisas eleitorais estavam erradas.

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Meu candidato foi eleito: "povo respondeu nas urnas!".

Meu candidato perdeu: "povo burro, não sabe votar!".

sábado, 4 de outubro de 2014

Nevasca

A nevasca sempre vem. É preciso encontrar um lugar. É preciso se proteger. Montar uma barricada e hibernar, até que ela vá embora. Esse ano, ela pode chegar antes do esperado. E ficar mais tempo que o devido. Não sei. Os prognósticos são sempre confusos. Então, assim como os esquilos, que guardam as nozes em um lugar seguro para não morrer de fome, vou produzindo minha Literatura em silêncio, acumulando entulhos líricos, lascas e restos de poesia para me cobrir do frio, pois a nevasca sempre vem.