terça-feira, 18 de novembro de 2014

Murilo Mendes Entre as Colunas da Ordem e da Desordem

Murilo Mendes por Guignard
Murilo Mendes (1901-1975) foi um grande poeta. Entretanto, ainda não é reconhecido como tal. Seu primeiro livro, Poemas, é de 1930 e está tendo uma nova edição, da Cosac Naify, assim como A Idade do Serrote, Convergência e Antologia Poética (organizada por Júlio Castañon Guimarães e Murilo Marcondes de Moura). É impressionante como volta e meia isso acontece no mercado editorial brasileiro, um poeta "antigo" ou esquecido pelo grande público é redescoberto. Aconteceu há um tempo com Drummond, Quintana e, mais recentemente, com Leminski, Ana Cristina César e Wally Salomão. O que importa é que Mendes ganha, enfim, uma nova chance de ser lido por mais pessoas.

Conheci a obra do mineiro de Juiz Fora ainda na universidade. Lembro que foi um dos autores que me marcaram de forma positiva. Seu texto é muito mais rico e vivo que de seus contemporâneos mais badalados pela crítica, como Mário e Oswald de Andrade e Jorge de Lima. Poderia elencar alguns critérios para essa minha afirmação, mas, no fim das contas, acaba sendo é uma questão de gosto.

Seus versos ainda tem algo a dizer e sobrevivem entre as colunas da ordem (religiosidade) e da desordem (surrealismo). Exatamente, como diz o seu belo poema Os Dois Lados.


OS DOIS LADOS

Os dois lados:

Deste lado tem meu corpo
tem o sonho
tem a minha namorada na janela
tem as ruas gritando de luzes e movimentos
tem meu amor tão lento
tem o mundo batendo na minha memória
tem o caminho pro trabalho.

Do outro lado tem outras vidas vivendo da minha vida
tem pensamentos sérios me esperando na sala de visitas
tem minha noiva definitiva me esperando com flores na mão,
tem a morte, as colunas da ordem e da desordem.

(Murilo Mendes)