Murilo Mendes por Guignard |
Conheci a obra do mineiro de Juiz Fora ainda na universidade. Lembro que foi um dos autores que me marcaram de forma positiva. Seu texto é muito mais rico e vivo que de seus contemporâneos mais badalados pela crítica, como Mário e Oswald de Andrade e Jorge de Lima. Poderia elencar alguns critérios para essa minha afirmação, mas, no fim das contas, acaba sendo é uma questão de gosto.
Seus versos ainda tem algo a dizer e sobrevivem entre as colunas da ordem (religiosidade) e da desordem (surrealismo). Exatamente, como diz o seu belo poema Os Dois Lados.
OS DOIS LADOS
Os dois lados:
Deste lado tem meu corpo
tem o sonho
tem a minha namorada na janela
tem as ruas gritando de luzes e movimentos
tem meu amor tão lento
tem o mundo batendo na minha memória
tem o caminho pro trabalho.
Do outro lado tem outras vidas vivendo da minha vida
tem pensamentos sérios me esperando na sala de visitas
tem minha noiva definitiva me esperando com flores na mão,
tem a morte, as colunas da ordem e da desordem.
(Murilo Mendes)