Bateu com tanta força a porta, que se tivesse algum quadro pendurado na parede este cairia com certeza. Entrou convicto no apartamento.
- Olha aqui, a partir de hoje, você só vai abrir a porra dessa boca para me dizer elogios, tá entendendo?! Você só me bota pra baixo. Você não vê tudo que eu faço? Só fica enchendo o saco com a merda da toalha no chão e a escova de dente que em cima da pia, com a camiseta do Iron Maiden que tá puída e é minha parceira em todas as fotos, com meu bafo por causa da cerveja, com o Inter que vai jogar mais uma vez nessa semana, com meu amigo que tá sem trabalho e precisa do meu ombro, com a conta da luz atrasada... Você é pior que minha mãe! Tá louco, onde eu tava com a cabeça?! Puta que pariu! Como você me coloca pra baixo...
No começo, nos primeiros berros, ela até arregalou os olhos, mas ao longo do discurso bocejou, espreguiçou-se naquele efeito sanfona que só os gatos conseguem fazer, pulou do sofá todo descosturado de tanto afiar as unhas e foi em direção ao seu pratinho, quase vazio.
Ele tinha esquecido de comprar ração.