- Mais um dia difícil, Lucas?
- É...
- Mas hoje é domingo, Lucas.
- Sim, acontece que eu estava escrevendo um dos maiores contos da nova literatura brasileira, uma trama com diversas idas e vindas, personagens fascinantes, um ritmo frenético que mudaria pra sempre o que as pessoas pensam sobre o estilo policial e até mesmo o que elas pensam ser um conto. Mas tive que largar na metade para ir no supermercado. Supermercado! Eu fazia as compras e tentava lembrar onde estava o detetive, o médico assassino, as vítimas... E, ao mesmo tempo, onde é corredor do feijão, arroz, pão... E me perdi! Me perdi completamente. Tudo porque eu trabalho e não vivo dessa merda de escrever. Tudo porque a editora faz um favor em me publicar. Eles me tratam como um coitado. Eles não estendem um tapete vermelho pra mim, não me inscrevem em prêmios, feiras literárias e essa porra toda. Aliás, acho que eles não fazem isso porque eu sigo tendo que ir no supermercado aos domingos. Mas eu trabalho a semana toda e só tenho o domingo. Você entende? É de fuder! É de fuder! E, agora, como que eu vou encontrar o fio dessa história?
- As compras estão nas sacolas, Lucas?
- Claro, gato imbecil! Onde mais estariam?
- Comprou aquela ração mole de atum, Lucas?
- Não tinha. Então, optei pela “Salmão com Vegetais Frescos”.
- Ótima escolha, Lucas.