sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

O Advogado que Trabalhou Com Dolores Duran


Nesses restaurantes de mesas muito próximas, às vezes, acontece de alguém puxar uma conversa. E eu vi, no jeito dele me olhar, que o velho queria assunto. Ele se apresentou. Contou que era morador do Centro. Queria saber minha ocupação. Eu disse que era jornalista.

- Pois sabe que eu sou advogado. E ainda advogo!
- Qual a idade do senhor?
- Oitenta e um. Trabalhei muito tempo com o doutor Adalberto Campos. Não sei se é do teu tempo... Ele aparecia muito nos jornais.
- Não recordo.
- Um grande criminalista, sem dúvida. Trabalhei também com a Dolores Duran. Talvez, ela tu conheça.
- Dolores Duran?
- Sim.
- A cantora?
- Ela advoga até hoje.
- Hum... achei que fosse a cantora.
- Se tu quiser posso cantar uma dela.
- Ah... Não precisa.
- Na verdade, fiz boa parte da minha carreira em Santa Maria. Sou de lá.
- E quando o senhor veio à Porto Alegre?
- Em dois mil e vinte.
- Dois mil e vinte?!
- Apareceu uma oportunidade em um escritório e vim. Cheguei só com a roupa do corpo.
- Não deve ter sido fácil.
- Foi muito complicado. Mas tenho uma vida boa, hoje. Não posso me queixar. Só tô é sentindo falta de dirigir. Adoro carros. Tive que deixar o meu com a minha filha. Agora, é só táxi.
- O senhor tá certo. É mais seguro - e enfiei o garfo no prato cheio.
- Vou te deixar terminar o almoço. Não quero te atrapalhar. E o táxi que eu chamei acabou de chegar.

Nos despedimos. Ele se levantou, pagou a conta e saiu do restaurante. Não havia táxi nenhum lá fora.

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