Confesso que fiquei com inveja. Provavelmente, ele ficaria por mais uns tempos atazanando meus filhos e netos. Suas crônicas e artigos seriam catalogados e se tornariam leituras obrigatórias. Sua imagem ilustrando ideias e ideais viveria pra sempre, ou, pelo menos, até onde minha vista alcança. Sua cara de Buda e seu olhar sereno de pastor protestante preencheriam o imaginário. A verdade seria aquele rosto. A VER-DA-DE...
Pensei no meu filho, que nem existe, tendo de suportar aquilo. Ou, em um cenário mais tenebroso ainda, venerando aquilo. A VER-DA-DE. Meu filho tendo sua opinião formada pela VER-DA-DE daquele infeliz. Era demais. Apertei sua mão e desejei que ardesse no Inferno, que todas suas teses e teorias sumissem e ele fosse afundado por seu ego. Acrescentei, dizendo que o Capeta, só de sacanagem, deveria prender seu ego ao seu pé, para que ele arrastasse aquele pequeno mundinho durante toda sua estadia subterrânea. Filho da puta, você é um grande de um filho da puta, conclui bem baixinho e sereno próximo a sua cara, olhando eu seu olho de mestre. Só me acalmei quando ele me mandou a merda. Quem eu pensava que era, ele perguntava insistentemente. Dei as costas. Ele ficou vociferando sozinho. E eu subi aliviado no primeiro ônibus que apareceu.