terça-feira, 23 de julho de 2013
XXXII
Volta e meia sonho com meus dentes se soltando da boca. Um a um, não todos de uma vez. Alguns ficam dependurados. Molares, caninos, incisivos, como pipocas. Sinto suas cavidades, suas texturas. Sinto eles mudar de lugar: da bochecha para debaixo da língua; escorregam pelo céu da boca até a garganta. O mais agoniante é que não os engulo. Tampouco os cuspo fora. Mantenho-os e me mantenho preso a alguma força estranha. Não posso falar, pois, em qualquer tentativa, correria o risco de ingerir diversos deles. E o que seria de mim se os engolisse? Preciso de ajuda. Mas não há ninguém. Estou de olhos fechados, mas tenho a ciência de que não há nenhuma pessoa ao meu redor. Estou fraco aqui onde estou. E onde, afinal, estou? Sei que não é em minha cama, sei que não é um lugar meu. Suo frio, minhas mãos e pés tremem. Estou só, com a boca cheia de dentes soltos.
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