sexta-feira, 6 de março de 2015

2015 Pode Ser Um Ano Bom


2015 pode ser um ano bom. Está prevista a publicação de meu segundo livro (O Ano dos Mortos, de poesia, pela editora Bartlebee). Existe a possibilidade de sair também um livro infantil e um de contos. Ambos estão concluídos e a procura de editoras interessadas.

Enquanto as coisas não acontecem, estou rabiscando um novo romance. Acho que depois de Virose, de 2013, já consegui reunir um número considerável de ideias para tentar concluir uma boa história.

Doze capítulos estão bem encaminhados. São rascunhos ainda, mas um deles pode ser este:

(...)
Eu possuía um numero significativo de brinquedos, assim como minha irmã. Quebra-cabeças, jogos de tabuleiro, bolas de gude, bola de futebol, carrinhos de ferro, bonecos inspirados em filmes e desenhos animados, revólver de espoleta.

Porém, meu vizinho tinha um número maior e tipos mais modernos, como jogos eletrônicos, pistola de pressão – com munição de chumbinho –, computador e carros de controle remoto. Além disso, ele andava de kart e me levava para assisti-lo. Eu ficava na arquibancada e ele ziguezagueava pela pista. Ele era muito bom naquilo. Sua casa era de dois andares e sua família não era de conversar. Meus pais diziam que eles eram herdeiros de uma grande empresa de transporte na cidade. Os diversos ambientes eram imensos e silenciosos. Ao contrário de onde eu morava, onde os gritos e as brigas e até os gestos de desculpas e arrependimentos eram em alto volume e reverberavam por todos os cômodos. Era impossível não saber o que estava acontecendo.

As nossas diferenças não prejudicavam nossa amizade – que perdura até hoje, quando lhe alugo um quarto para ele trazer suas amantes – e, sim, acabavam por fortalecer nosso laço. Tivemos raros momentos de tensão. Um deles foi por causa de sua irmã. Ela era mais velha, uns quatro anos de diferença. Quando tínhamos 12, ela, lógico, era quase uma mulher, com grandes e redondos seios, que repousavam em ousados decotes, e um belo rosto. Eu tinha desejo e, ao mesmo tempo, receio, por respeito a meu amigo e por timidez. Entretanto, confesso que, muitas vezes, a espiei em seu quarto e me masturbei, sonhando que transávamos.

Mas ela nunca havia trocado uma palavra sequer comigo. Parecia menosprezar minha existência. Cruzava por mim sem dar olá. Eu era tão irrelevante quanto um móvel inútil da sua extensa residência. Ela apenas desviava por mim e seguia seu caminho, ia à cozinha buscar um iogurte, banheiro, seu quarto ou em direção à saída. Isso me chateava. Em um final de tarde banal, ocorreu uma exceção. No salão de jogos havia uma grande televisão. Nós assistíamos a um filme de artes marciais quando ela adentrou e ordenou que o aparelho fosse desligado, pois, em instantes, começaria um programa de seu interesse. Isso gerou uma longa discussão entre os irmãos, mas os pais deles – diferente dos meus – não berravam para que eles calassem a boca ou parassem de brigar. O bate boca seguia quando ela se voltou para mim.

- Não sei como você o atura. Acho que é o único amigo dele.
- A gente se dá muito bem - respondi.
- Deve ser por que você é pobre. Seu pai é aquele que tem um fusca, não é?
Só consegui responder que sim. Ela se limitou a gargalhar e concluiu.
- Então, é por isso! Você só anda com ele por interesse. Seu pobretão!

E ria sem parar. Para minha surpresa, ele não me defendeu, riu também. Achou graça em ouvir que eu era um pobretão. As palavras e os argumentos para retrucar não me vinham. Só me restou correr, ir embora.

Alguns meses depois, ele se desculpou e fomos amigos outra vez.

Ela, até hoje, não.

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