quarta-feira, 16 de abril de 2025

Depois de tudo ainda ser feliz

Não existe acerto de contas com a vida. O que está feito, está feito. Nosso passado é uma parte nossa que morreu. Por isso, tanta gente tem saudade. Por isso, há tanto rancor. Por isso, esse arrependimento que sufoca. 

Eu pensava nisso, enquanto ela falava de como tudo poderia ter sido diferente. Falava dela, falava de mim, no passado. Sempre no passado. "Tu lembra aquela vez, na parada, esperando o Sans Succi? Tava um frio de rachar. Hoje, não tem mais um frio como aquele". Era como se falasse de dois mortos. "Claro que lembro. Só que tua vida seria bem diferente. Não sei se pra melhor". "Minha vida seria mais feliz, Lucas".

E a dor era só dela. De mais ninguém. Minha dor tinha ficado pra trás, morta. Ela deixou sua caminhonete Audi num estacionamento da João Pessoa com a República e entrou no meu Uno Mille. Parecia contente, mesmo triste. A alegria é tão fugaz... Por algumas horas fomos o que poderíamos ter sido.

Quando já não havia mais o que lembrar, nem o que dizer, nos despedimos. Ela fez menção em falar algo. Parou sua caminhonete e abriu o vidro. Me aproximei. Mas ela desistiu e foi embora pela segunda vez.

"O senhor é um homem de sorte", comentou, com um sorriso, o manobrista do estacionamento.

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