sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Verdureiros do Centro de Porto Alegre

Eles têm a mania de abordar as mulheres, indiferente da idade da mulher, da mesma maneira. “Oi, guria!”. A maioria delas já nem olha mais para os verdureiros, porque eles estão por toda a parte do Centro. Os verdureiros, os camelôs, os ônibus, as filas nas paradas de ônibus, os haitianos, os dálias do compro ouro/vendo ouro, os locutores das lojas de varejo e os moradores de rua são as figuras fixas do quadro que alguém um dia ainda vai pintar de Porto Alegre. Se é que ainda se pintam quadros em 2021... Se é que ainda se pintam quadros em Porto Alegre... Mas voltando aos homens do hortifrúti. Eles, obviamente, não se restringem a atuar nas áreas delimitadas pela prefeitura. Suas frutas, verduras e legumes, com suas cores e cheiros, tomam conta das calçadas e calçadões em um raio significativo do Centro Histórico. São personagens muito parecidos, os verdureiros. Grande parte veste um guarda-pó azul, que lhes confere uma certa respeitabilidade. Eles não possuem balança para pesar os produtos e efetivar suas transações. É tudo a preço fixo. Ao mesmo tempo, é tudo negociado. Seja o que está embalado. Seja o que está a granel. Nesse último caso, a pesagem é no olho. Os preços são em conta porque, até onde se sabe, não há aluguel para quem trabalha na rua. Maçãs, tomates, bananas, brócolis, mamões, alfaces, couves-flores, aipins, cebolas... Tudo vem da Ceasa, que fica a mais de dez quilômetros da área central. Agora, se os produtos são frescos ou não, quem haverá de saber? Só apalpando, vendo, auscultando, sentindo. É assim que é. Quando faz Sol é tranquilo. Quando chove é problema. Contudo, sempre surgem gazebos ou enjambrinas com lonas que protegem verdureiros e clientes do aguaceiro. O lado negativo é que a circulação fica mais complexa e conflituosa. Guarda-chuvas, marquises, gazebos. Os verdureiros começam cedo na labuta e só saem depois da maioria ter evaporado. É no fim da tarde, quando não é noite, nem dia, que as abordagens ficam mais agressivas. As vozes se elevam, se exaltam. Citam preços e promoções relâmpagos. É uma feira livre todo santo dia. Então, se a mulher quer uma fruta, legume ou verdura, ela atende ao primeiro contato. O tal “Oi, guria!”. Se ela não quer, segue seu caminho.

Oi, guria!
Cléber?!
Eu mesmo! Fátima?!
Sim! Como tu tá?
Indo… E tu?
Comigo, tudo certo. Tá morando na Vila dos Sargentos ainda?
Não tô mais. Agora, tô no Sarandi.
Bah, que longe!
Pois é. Continua vivendo com o Davi?
Aham. Desde aquela época. Temos três filhos. Dois guris e uma guria. O guri já é adulto. Vinte e poucos anos na cara.
Meu Deus, o tempo passa!
Passa voando. E tu, casou?
Não casei. Continuo solteiro.
Vai ficar pra titio, hein?
Pior… E tô cheio de sobrinhos mesmo. Nem sei o nome de todos.
Nossa, que fedor de mijo que tá aqui!
É o Centro né?
Tá terrível esse cheiro. Como tu consegue?
Costume.
Quanto tá a banana?
Cinco o cacho.
Qualquer cacho?
Qualquer cacho.
Vou querer aquele maiorzinho ali.
Quer colocar na sacolinha?
Sim.
Ó! Que bom te ver, Fátima.
Igual. Fico feliz em saber que tu tá bem.
Manda um abraço para o Davi. Saudade dele.
Pode deixar. Vou avisar que tu trabalhando por aqui.

Ela botou a sacolinha com a banana dentro de uma outra sacola maior e partiu rumo ao terminal de ônibus. O verdureiro seguiu. Avistou uma velha, a uns três metros, e a saudou: “Oi, guria!”. 


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