O tempo inevitavelmente vai passando e a saudade se torna mais presente na gente. A saudade está à venda nos sebos e antiquários e à mostra nos museus. Tem gente que faz da saudade sua profissão, como os historiadores, arquivistas e o escritor Ruy Castro.
Porém, tem coisas que não deixam boas recordações. Uma delas é a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). Quem é mais velho sabe. Antigamente, era um parto ter um telefone para se comunicar. Tinha até fila, absurdamente burocrática, para poder adquirir uma linha. Demoravam anos até chegar a sua vez. O jeito era alugar. Sim, existia aluguel de linha telefônica, com contrato e tudo! Outra opção era comprar fichas e usar no orelhão.
O Estado definia quem poderia ou não ter um telefone. Um jovem, que não conhece um disco de vinil, certamente não consegue imaginar um mundo assim. Só que esse mundo existiu. Bons tempos? Claro que não.
Para nós gaúchos, a telefonia se tornou acessível com a privatização e extinção da CRT, no fim da década de 90. O contexto era de empresas do ramo em crescimento. Por isso, quando vejo calorosos e ideológicos debates sobre a necessidade ou não de privatização de um certo serviço público, geralmente insatisfatório para a população e oneroso para o Estado, automaticamente me lembro da companhia estatal de telefone.
Não quero dizer que o jeito é privatizar tudo, mas é certo que privatizações ajudam a diminuir o tamanho da máquina pública. Em áreas de notória capacidade de atendimento pela iniciativa privada, elas são bem-vindas.
A CRT um dia teve sua relevância. Novas tecnologias e empresas privadas surgiram. O que antes era moderno, virou obsoleto. É assim com muita coisa. Daí, só resta a saudade. Não da CRT, lógico.
----------------------------
Texto originalmente publicado no jornal Diário de Canoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário