Um Silêncio Avassalador é um livro melancólico e perturbador. Em seus 15 contos, o autor utiliza-se de questões delicadas e polêmicas (prostituição, pornografia, abusos) para expor contradições (e, talvez, hipocrisias?) sociais e humanas.
No rol de personagens temos uma ginasta dividida, desde a infância, entre a vida pessoal e profissional; um octogenário diretor de cinema contemplando tudo o que viveu (e deixou de viver); um a(u)tor questionando sua arte no palco de um teatro; um estuprador de homens frustrado; um menino que se vale do livre acesso a filmes pornôs para fazer novos amigos.
Todas estas (e outros tantas) figuras complexas e incompletas têm em comum o vazio (impreenchível) da própria existência. A despeito das atitudes, dos desvios de caráter e até da aversão que certos personagens suscitam, é impossível ao leitor não simpatizar ou mesmo se identificar com sua busca por uma felicidade efêmera, quiçá inexistente.
Os contos estão repletos de referências à cultura pop, em especial ao cinema, e alguns trazem situações surreais, mas que se sustentam dada à complexidade e profundidade de seus personagens - esta qualidade também evita a frustração com o término abrupto de alguns contos, já que permite imaginar o rumo mais natural (quiçá inevitável) das narrativas.
Em tempo: leitores mais sensíveis podem se chocar com a linguagem, ainda que esta seja adequada (se não, necessária) a cada história.
A despeito de dois ou três contos menos impactantes, "Um Silêncio Avassalador" é um ótimo livro de contos. Recomendo.
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