Ela, segundo a ampla experiência de Sears, era do tipo de
mulher cujo vestíbulo estava sempre em desordem. Era do tipo de mulher que
sempre se esquecia de comprar laranjas. Quando acordava com Renée nos braços,
percebia que a primeira coisa que havia a fazer era vestir as calças e sair
para comprar frutas. Ela era do tipo que, assim que entrava no próprio apartamento,
primeiro ligava as luzes e depois a vitrola. Na primeira vez que ele viera à
casa dela, estava tocando música, que continuaria tocando depois de ele se ter
ido e ter sido esquecido. Ele sabia, pela sua experiência, que o silêncio – a ausência
de música – era para alguns homens e mulheres tão perigoso quanto a escuridão. Parecia
uma autêntica necessidade, como as proteínas e o açúcar, mas no caso de Sears a
música contínua representava um problema que ele jamais enfrentara antes. Certa
noite, enquanto faziam amor, estava tocando um concerto para piano romântico,
que se encerrava com uma série de clímax vigoroso, artificiais e vulcânicos.
Sempre que o pianista ameaçava chegar ao auge da sequência, descia outra vez,
cobrindo toda a gama de oitava baixas, para depois tornar a subir e Sears
imitava-o. Renée acabou perguntando, com a maior ternura:
- Você não vai gozar?
- Estou esperando o pianista – Sears respondeu. Foi o que
aconteceu: ambos terminaram ao mesmo tempo. Ele jamais soube se ela o havia
compreendido ou não.
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