Ezequiel Neves, à esquerda |
"Com o volume no máximo do escândalo estou ouvindo uma fita
transcendental. É coisa doméstica, gravada com um microfone só, mas que arroja
uma torrente de adrenalina capaz de pulverizar quarteirões. É rock puro,
escrachado e demencial, imperfeito e carnívoro, trombetas selvagens anunciando
o começo de um novo mundo.
A fita é de um grupo recém-nascido, o Barão Vermelho
e há a voz de Cazuza cuspindo fogo em doses avassaladoras. Minha vontade era
pegar essa fita e tirar milhões de cópias. Para mim, ela está prontinha, tal e
qual todos os discos que os Rolling Stones gravaram. Não tenho, nem nunca tive,
certeza de nada, mas aposto neles de coração aberto.
Querem apenas tocar rock e seguir em frente, mas é
justamente por quererem apenas isso que transcendem as teorias caducas e
instalam sua verdade através de vozes e guitarras incendiárias. Finalmente,
posso respirar. Uma nova geração está com tudo para destruir as velhas gerações,
da qual faço parte.
Os versos de Cazuza reinventam o português de forma telegráfica. Sem literatices, ridícula herança de antepassados que fazem qualquer canção um cemitério de metáforas e circunlóquios vazios. Seu recado possui a urgência das cusparadas, lâmina afiadíssima, retalhando instantes de solidão ou amor total, tudo articulado com a luminosidade dos relâmpagos. Cazuza traduz genialmente qualquer estado de espírito, nos faz lembrar que qualquer segundo pode conter uma overdose de apocalipses".
Os versos de Cazuza reinventam o português de forma telegráfica. Sem literatices, ridícula herança de antepassados que fazem qualquer canção um cemitério de metáforas e circunlóquios vazios. Seu recado possui a urgência das cusparadas, lâmina afiadíssima, retalhando instantes de solidão ou amor total, tudo articulado com a luminosidade dos relâmpagos. Cazuza traduz genialmente qualquer estado de espírito, nos faz lembrar que qualquer segundo pode conter uma overdose de apocalipses".
Ezequiel Neves, após ouvir a demo tape do
Barão Vermelho, no início da década de 80.
O texto foi extraído do documentário Por Que a Gente é Assim?, dirigido por Mini Kerti, de 2016.
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