segunda-feira, 25 de maio de 2015

O Último Imigrante - Trecho do Conto


Trecho do conto O Último Imigrante, que estou trabalhando.

(...)

A celebração da missa contou com a presença do arcebispo. Para eles, isso era algo fascinante. O homem declamou uns versos da Bíblia e eu vi meu pai bocejar diversas vezes. Antes do encerramento, um assistente pediu um instante de atenção e avisou que padres estariam dispostos no fundo da igreja, para quem quisesse se confessar. Fui até o local. E eles estavam lá, sentados, aguardando os fiéis. Era curioso. Confissões a céu aberto. Apenas um deles estava só. Uma cadeira de ferro, dessas de marca de cerveja, esperando alguém.

Desconfiei que aquilo era um sinal e fui me confessar, talvez, fosse uma boa hora para me redimir.

- Padre, eu...
- Você fez catequese, meu filho? – interrompeu-me.
- Por que a pergunta?
- Foi batizado?
- Não é comum padres saírem perguntando essas coisas logo de cara. Qual é o seu problema?
- Meu filho, você não é católico.
- E como você sabe?!
- Pressenti.
- Você não quer me ouvir, é isso? Seja sincero, um homem na sua posição, quase uma autoridade, não pode mentir.
- Só ouço confissões de pessoas que pretendem ou querem, de fato, arrepender-se do que fizeram. O que não é seu caso, meu filho.
- Vou lhe dar um desconto, padre. Imagino que deva estar cansado de ver o mundo nessa situação, de ouvir tanta gente prometer coisas e não cumprir ou, talvez, no fundo, você sabe que essas falhas fazem parte do jogo e você não tem serventia – tomei um pouco de ar e segui disparando palavras pesadas, como cavalos em uma cancha reta. – Você sabe que tudo isso vai ruir. Essas pessoas precisam de esperança, de conquistas. Os meninos querem minha vida, padre! Você percebeu como me olhavam? Os meninos sequer ouvem seus conselhos. O mundo é maior que você e sua igrejinha no meio do nada!
- Meu filho, você está tomando meu tempo e o lugar de outra pessoa.

Levantei-me. Ele tinha toda a razão. Estava na cara que eu não prestava. Estava na cara que eu era uma má influência. Aquelas pessoas tinham, sim, um propósito, um ideal. Eles eram a resistência. Eu e meu pai éramos apenas vendedores de ilusão.

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