Mimado pela mãe solteira, soldado de guerra, alcoólatra, amante (e marido) de uma mulher mais velha, roteirista de cinema demitido por Hitchcock...
Transcrevi a cronologia de um dos meus escritores preferidos, Raymond Chandler, autor do clássico O Longo Adeus e de tantas outras histórias que mudaram o conceito de romance policial.
1888 - Nasce Raymond Thorton Chandler, a 23 de julho, em Chicago, filho da imigrante irlandesa Florence Dart Thorton Chandler e de Maurice Benjamin Chandler.
1889-1894 - Maurice bebe e se ausenta muito. Chandler passa os verões com a mãe e familiares em Plattsmouth, Nebraska. Seus pais acabam se divorciando. O pai desaparece, sem prestar auxílio à família.
1895-1899 - Muda-se para Inglaterra com a mãe, em 1895. Cultivam a religião anglicana, e Chandler estuda em uma escola local.
1900 - Chandler entra para o Dulwich College, em Dulwich, onde estuda matemática, música, latim, francês e história inglesa.
1901 - 1902 - Prepara-se para a carreira de negócios. Classifica-se entre os melhores da turma e destaca-se pela habilidade matemática.
1903-1904 - Lê Virgílio, Cícero, César, Lívio e Ovídio em latim, e Platão, Aristófanes e outros em grego.
1905-1906 - A família decide mandar Chandler para o exterior, para aprimorar seus estudos em línguas estrangeiras. Reside em Paris e Munique.
1907-1908 - Vai viver com a mãe em Streatham, subúrbio de Londres. Naturaliza-se súdito britânico. Faz um concurso público, classifica-se em terceiro lugar dentre seiscentos candidatos. Trabalha como funcionário na Marinha, mas pede demissão após seis meses.
1909-1910 - Trabalha por um curto período de tempo como jornalista no Daily Express e então no Westminster Gazette. Publica alguns poemas. Em 1911, começa a colaborar com ensaios literários para o periódico The Academy.
1912 - Pega emprestadas quinhentas libras esterlinas de um tio e volta aos Estados Unidos. Estabelece-se em Los Angeles. Trabalha em uma fazenda de cultivo de pêssegos e conserta raquetes de tênis. Mora em quartos alugados.
1913-1914 - Estuda biblioteconomia. Consegue um emprego de bibliotecário e contador em uma fábrica de laticínios, com a ajuda do amigo Warren Lloyd, um advogado.
1915-1916 - Volta a morar com a mãe, que também está de volta aos Estados Unidos.
1917 - Engaja-se no exército canadense. Toma um navio para a Inglaterra, após três meses de treinamento.
1918 - Designado para o 7º batalhão da 2ª Brigada de Infantaria da 1ª Divisão canadense, é mandado à França. Luta nas trincheiras, e mais tarde escreverá: "Uma vez que você tem de liderar um pelotão diretamente para os tiros de metralhadora, nada mais é como antes". Volta à Inglaterra como sargento, após sofrer uma concussão. É transferido para a Royal Air Force, mas a guerra termina durante seu treinamento.
1919 - Aceita um emprego em um banco inglês, na cidade de San Francisco. Volta a Los Angeles e trabalha por seis semanas no Daily Express. Envolve-se com Cissy Pascal (18 anos mais velha), pianista casada com o também pianista Julian Pascal, ambos os quais lhe haviam sido apresentados por Lloyd.
1920-1923 - Chandler ainda mora com a mãe, quando o divórcio dos Pascal é concluído. Ele protela os planos de casamento com Cissy devido à desaprovação da sua mãe por causa da diferença de idade entre os dois. Trabalha como bibliotecário para Dabney Oil Syndicate, companhia petroleira de propriedade de um irmão de Lloyd.
1924 - Florence Chandler morre de câncer em janeiro. Chandler e Cissy casam-se em fevereiro. Chandler torna-se auditor da companhia e é logo promovido a vice-presidente do escritório de Los Angeles.
1925-1931 - Chandler começa a perceber as reais implicações da sua diferença de idade com Cissy. Bebe muito, ameaça suicidar-se e tem casos amorosos com mulheres mais novas que trabalham na mesma companhia que ele.
1932 - É despedido por alcoolismo e absenteísmo. Passa um tempo em Seattle e volta a Los Angeles quando Cissy é hospitalizada com pneumonia. Trabalha como assistente de Edward Lloyd, filho do seu amigo Warren Lloyd, em um grande caso contra a South Basin Oil Company (ex-Dabney Oil Syndicate) por apropriação indevida de lucros provenientes de campos de extração de propriedade da família Lloyd. Passa receber uma pensão de US$ 100 de Edward Lloyd, o que lhe permite dedicar-se à escrita. Bebe menos.
1933 - Decide escrever para revistas de histórias de crime. Seu primeiro conto, Blackmailers don't shoot é publicado na Black mask, principal revista do gênero da época, que também publicava obras de Dashiell Hammett, Erle Stanley Gardner, entre outros.
1934-1937 - Publica histórias policiais em Black mask, Dime detective e Detective Fiction Weekly. Chandler e Cissy mudam-se com frequência.
1938 - Começa a redação de O sono eterno, seu primeiro romance. Cria o detetive Phillip Marlowe e incorpora material de histórias publicadas em revistas (usurá a mesma técnica de "canibalização" ao escrever, mais tarde, Adeus minha adorada e A dama do lago.
1939 - O sono eterno é publicado pela Alfred Knopf nos Estados Unidos e pela Hamish Hamilton na Inglaterra. Recebe boas críticas e vende bem. Começa a escrever A dama do lago e Adeus, minha adorada. Com o início da Segunda Guerra Mundial, voluntaria-se para treinamento no Exército Canadense, mas é rejeitado devido à idade. Continua a publicar histórias em revistas, mas em menor qualidade.
1940 - Termina e publica Adeus, minha adorada. As vendas decepcionam. Começa a trabalhar em Janela para a morte.
1941 - Vende os direitos de adaptação cinematográfica de Adeus, minha adorada.
1942 - Termina Janela para a morte, e o texto é adaptado para o cinema, no filme Time to kill.
1943 - É contratado para a Paramount para trabalhar no roteiro baseado em Double Indemnity, de James M. Cain. Mais tarde, dirá que a experiência foi agoniante. Volta a beber muito. A dama do lago é publicado.
1944 - O filme Double Indemnity faz um estrondoso sucesso. O roteiro é indicado ao Oscar. Trabalha como roteirista contratado da Paramount. Publica o ensaio A simples arte de matar no Atlantic Monthly.
1945 - Começa o roteiro original de The blue dahlia, que deve ser filmado antes do famoso ator Alan Ladd entrar no serviço militar. Chandler atrasa a entrega do roteiro, e as filmagens se iniciam quando este ainda não foi completado. Chandler propõe ao produtor do filme que trabalhe bêbado para terminar o roteiro. O produtor aceita, e Chandler conclui o roteiro em oito dias, ditando para secretários e recebendo injeções regulares de glicose (o filme sairá em 1946, Chandler será indicado ao Oscar pelo roteiro e receberá o prêmio Edgar da associação Mystery Writers of America). Começa a trabalhar para a MGM no roteiro de A dama do lago, mas abandona o projeto depois de desavenças com o estúdio.
1946 - Sai a versão para o cinema de O sono eterno. Chandler elogia a interpretação de Humphrey Bogart como Phillip Marlowe. Rompe com a Paramount. Ele e Cissy, enfraquecida, vivem em relativa reclusão. Cesso o abuso de álcool.
1948 - Começa a escrever A irmãzinha.
1949 - Sofre de várias doenças, incluindo bronquite, alergias de pele e herpes. A irmãzinha é lançado nos Estados Unidos por uma nova editora, Houghton Mifflin.
1950 - Trabalha com o diretor e roteirista Alfred Hitchcock na adaptação do romance Strangers on a train, de Patricia Highsmith, para a Warner Brothers (o filme receberia o nome, no Brasil, de Pacto sinistro), mas Hitchcock decepciona-se com seu trabalho e substitui Chandler. A simples arte de matar, coletânea de histórias antigas, é publicada.
1951 - Começa a trabalhar no texto do que será O longo adeus.
Chandler e Cissy |
1953 - Recomeça a beber. Cissy sofre de problemas respiratórios e cardíacos. O longo adeus é publicado.
1954 - Cissy morre, após uma série de hospitalizações.
1955 - Chandler bebe muito e sofre de depressão. Bêbado, tenta o suicídio com um revólver, em 22 de fevereiro. O tiro sai pelo teto do banheiro. Chandler é levado a hospitais psiquiátricos para observação. Vende a casa que comprara com Cissy e deixa a Califórnia, indo visitar amigos em vários lugares. Em Nova York, bebe muito e tem de ser hospitalizado. A bordo do navio no qual viaja para a Inglaterra, recebe a notícia que ganhou o prêmio Edgar da Mystery Writers of America por O longo adeus. Torna-se amigo do escritor Ian Flemming e da pianista Natasha Spender (mulher do poeta Stephen Spender). Retorna aos Estados Unidos, mas volta à Inglaterra ao descobrir que Natasha está doente. Viajam pela Espanha e Marrocos, e voltam a Londres. Natasha é submetida a uma operação bem-sucedida. Chandler bebe muito, é internado e descobre que tem malária.
1956 - Aluga um pequeno apartamento em Londre, sofre devido ao seu relacionamento com Natasha e acaba voltando aos Estados Unidos por causa dos impostos britânicos. Bebe muito e é hospitalizado em Nova York por má nutrição e fadiga. Continua a beber e por um breve momento considera a possibilidade de casar-se com uma admiradora que no ano interior lhe escrevera uma carta. Encontra-se com Natasha em dezembro.
1957 - Envolve-se na vida pessoal da sua secretária, uma australiana divorciada, e seus dois filhos. É internado em consequência do abuso do álcool.
1958 - Inicia a redação do romance Amor & morte em Poodle Springs, mas só termina alguns capítulos. Viaja à Inglaterra e então a Capri, na companhia de sua agente e amiga Helga Greene, para entrevistar o mafioso "Lucky" Luciano para o Sunday Times. O artigo, My friend Luco, não é publicado por razões legais. É hospitalizado em Londres. O romance Playback, escrito a partir de um roteiro iniciado, é publicado. Sua saúde continua a declinar.
"Homens mortos são mais pesados que corações partidos" |
Fonte: Janela Pra Morte, Raymond Chandler. Editora LPM (Coleção LPM Pocket Noir), 2005.
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