sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Uma Das Razões



“Contar o que fazemos é apenas uma forma de preencher os vazios inevitáveis, porque às vezes estamos pobres ou presos ou doentes, às vezes morre alguém ou (custa dizê-lo) alguém trai, renuncia ou entra para a Direção do Imposto de Renda”.

Júlio Cortázar, no conto Simulacros, que faz parte do livro Histórias de Cronópios e de Famas (1964).

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Vivendo No Jornal Nacional


Roubos, assassinatos, violência, esquemas de corrupção, guerras, desastres naturais... E uns míseros segundos (exatos 30 segundos) de cultura.

O Jornal Nacional me joga pra baixo. Fazia tempo que não assistia.

Em Morro Reuter, sem TV, na ignorância dos dias, serei mais feliz.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

O Homem Comum Está Cansado e Assustado, E Um Homem Cansado E Assustado Não Pode Ter Ideias. Precisa Comprar Comida Para Sua Família*


Tem noites que fico acordado, pensando que caminho dar a meus textos ou como divulga-los ou como publica-los. Imagino cenários, crio contextos possíveis para minhas histórias, poemas, rascunhos. Às vezes, sou um sucesso, noutras um desastre. Não tenho muita pretensão com as coisas que escrevo. Também não quero ser hipócrita em dizer que sou indiferente ao que os outros pensam.

É gostoso ficar delirando. É gostoso viver na Literatura, não de Literatura, como tem uns que vivem por aí. O problema é a realidade. A Caixa Econômica Federal vai cobrar a hipoteca – durante 35 anos, todo o dia 24. E a Literatura não contribuirá em nada para amortizar a dívida.

Então, estico o braço em direção ao criado mudo e tento alcançar o relógio. Se ligar o abajur, vou acordar minha companheira que nada tem a ver com meus delírios. São cinco da manhã. Em uma hora, estarei de pé e pronto para um dia cansativo de trabalho.

Bato o ponto, sigo as instruções da chefia e tento não criar inimizade com ninguém. Durante esse tempo, eu sei, a Literatura será fugidia, virá – se conseguir ultrapassar a casca estúpida da rotina – em flashes, como espasmos involuntários.

É certo que vou me arrepender – da mesma forma que meu avô se arrependeu em não ter sido voluntário na Segunda Guerra – por não estar pronto para ela. O somatório de culpas será muito dolorido, afinal, não terei papel e caneta e condições para registrar.

E como eram ótimas todas aquelas sacadas. Que belos livros dariam!

Meu receio é que as ideias nunca mais retornem e a Literatura – como aquela garota que deixei na porta do ônibus naquele final de tarde de domingo – perca a paciência e desista de tudo.

Nessas e noutras bobagens que fico pensando, nas noites que fico acordado.

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* O título é citação de um trecho do romance O Longo Adeus, de Raymond Chandler.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Quando As Canções Bregas Fazem Sentido


Todo o artista é carente.

Todo o artista já dormiu na praça,

Pensando nela.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Julio Cortázar Entendia do Riscado


Texto faz parte do livro Histórias de Cronópios e de Famas, de Julio Cortázar, editora Círculo do Livro, 1964.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Uma História Romântica


No jantar, trocamos poucos olhares e palavras. Falei que o ambiente estava muito barulhento. “E a comida não é grande coisa”, ela completou. Paguei a conta. Ela não agradeceu. Cruzamos a avenida Independência numa quietude de mosteiro. O amor destrói a gente, pensei. Essa cena seria inadmissível há 10 anos. Poderia, a partir dessa lembrança, desandar a falar sobre o peso dos dias, colocando a culpa de tudo neles. Também poderia deixar bem claro o que ela representou para mim, ressaltando que os momentos que passamos serão difíceis de se repetir. Ou poderia citar que tenho consideração por saber que ela dividiu um naco considerável de vida comigo. Para qualquer uma das alternativas, ela retrucaria: “Eu quero olhar para frente...”. Bom, os gatos ficariam com ela. Dizem que eles não sentem falta de ninguém. Eles se apegam mesmo ao lugar. Acenei para o táxi. O taxista, que tinha cara de noites insones, queria saber para onde iríamos. Pedi que seguisse adiante. No caminho, teria alguma ideia.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Minha Lista de Melhores da Música Brasileira Não Tem Acabou Chorare


Sabe o disco Acabou Chorare, dos Novos Baianos, de 1971?

Nas listas de melhores do Brasil (Rolling Stone, Bizz, enquetes com especialistas em sites de música, etc) ele sempre está lá. Primeirão. É um bom disco, lógico. É bacana. É alegrinho. Uma seleção musical perfeita para tocar em rodas de violão na beira da praia (blargh!). "Eu ia lhe chamar... enquanto corria a barca". Como um todo, é um álbum meio riponga, quase datado até.

Por isso, não entendo essa insistência em colocar Acabou Chorare no topo. Pra mim, tem muita coisa na frente, mas muita coisa mesmo. Discos que, inclusive, marcaram muito mais a história da nossa música (e que também não me agradam 100%, mas são bem mais relevantes em seu contexto, como Chega de Saudade - João Gilberto, Construção - Chico Buarque, Wave - Tom Jobim, Falso Brilhante - Elis, Transa - Caetano, Expresso 2222 - Gilberto Gil, Tropicália...). Então, vamos tratar de destronar os Novos Baianos de uma vez.

Aí vai meu top 20, sem muita explicação (só não quis repetir artistas). A escolha é pura questão de gosto.


1º Rita Lee - Fruto Proibido (1975)
2º Jorge Ben - Tábua de Esmeraldas (1974)
3º Roberto Carlos - Roberto Carlos (1969)
4º Cartola - Cartola (1976)
5º Mutantes - Jardim Elétrico (1971)
6º Secos e Molhados - Secos e Molhados (1973)
7º Raul Seixas - Krig-ha, Bandolo! (1973)
8º Belchior - Alucinação (1976)
9º Tim Maia - Tim Maia (1970)
10º Cazuza - Ideologia (1988)
11º Racionais MC's - Sobrevivendo no Inferno (1997)
12º Lobão - A Vida é Doce (1999)
13º Jards Macalé - Jards Macalé (1972)
14º Ângela Rô Rô - Ângela Rô Rô (1979)
15º Engenheiros do Hawaii - A Revolta dos Dândis (1987)
16º Legião Urbana - Dois (1985)
17º Raimundos - Raimundos (1994)
18º Ira! - Vivendo e Não Aprendendo (1986)
19º Titãs - Cabeça Dinossauro (1986)
20º Chico Science - Da Lama ao Caos (1994)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A Vida Agitada de Raymond Chandler


Mimado pela mãe solteira, soldado de guerra, alcoólatra, amante (e marido) de uma mulher mais velha, roteirista de cinema demitido por Hitchcock...

Transcrevi a cronologia de um dos meus escritores preferidos, Raymond Chandler, autor do clássico O Longo Adeus e de tantas outras histórias que mudaram o conceito de romance policial.


1888 - Nasce Raymond Thorton Chandler, a 23 de julho, em Chicago, filho da imigrante irlandesa Florence Dart Thorton Chandler e de Maurice Benjamin Chandler.

1889-1894 - Maurice bebe e se ausenta muito. Chandler passa os verões com a mãe e familiares em Plattsmouth, Nebraska. Seus pais acabam se divorciando. O pai desaparece, sem prestar auxílio à família.

1895-1899 - Muda-se para Inglaterra com a mãe, em 1895. Cultivam a religião anglicana, e Chandler estuda em uma escola local.

1900 - Chandler entra para o Dulwich College, em Dulwich, onde estuda matemática, música, latim, francês e história inglesa.

1901 - 1902 - Prepara-se para a carreira de negócios. Classifica-se entre os melhores da turma e destaca-se pela habilidade matemática.