As pessoas não existem mais, mas seguem dentro da gente. É inevitável e um tanto doído. Mas é assim que é. Minha tia-avó padecia e sofria num leito, já sem esperança, quando me dei conta disso.
O médico disse assim. "Se ela faz questão de fumar, deixa. Agora, não tem mais jeito". Então, meu pai recolhia o corpo dela, repousava na cadeira de rodas e levava pro pátio do hospital. "Tá aqui ó! Fuma, tia".
Nesse sofrimento derradeiro, a velha, já quase com oitenta anos, chamava a mãe para lhe tirar a dor. É aí que entram os ausentes. A vida tem momentos que parecem intransponíveis. E só a força de quem nos guiou no caminho é possível para nos empurrar e nos colocar de volta ao prumo. Porque enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar. Como fala a canção.
Eu tento não depender dos ausentes. Até finjo que não me faltam tanto assim. Afinal, o mundo é dos vivos. Porém, não é fácil. A barra pesa. Dias desses, minha avó apareceu. E eu era menino outra vez. Contei meus problemas. Ela me ouviu. Ela me cobriu com uma manta fina, pois não estava tão frio assim. E eu adormeci.
Acordei num susto. Homem feito. Noite alta. Tudo escuro a minha volta. Os problemas, obviamente, prosseguiam. Contudo, minha bebê chorava alto, forte e precisava de algo.
Não havia avó mais. Nem manta alguma me cobria. Então, levantei-me rápido e peguei a guriazinha nos braços. E ela foi se acalmando. Até que dormiu, outra vez.
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