Era noite. Era uma sexta. Eu estava em casa e era oficialmente um tiozão. Ouvia um disco do Simply Red, tomava uma dose de uísque e não me preocupava com o que os outros iam pensar. Era isso que eu estava fazendo da minha tal liberdade.
Até que invadiu o apartamento um agradável cheiro de xis. Um cheiro novo. Decerto abriu alguma lancheria perto, pensei. Fui atrás e achei o lugar. Severo Delivery. Uns dez motoqueiros esparramados pela calçada. Espaço acanhado.
- Me vê o cardápio, por favor.
- Os pedidos são só para delivery, senhor.
- Como assim? Não posso pedir e pegar aqui?
- Somos só uma delivery, senhor.
- Entendi... mas tem maquininha de cartão em cima da mesa e a chapa tá ali, moça. A tua colega tá fazendo um monte de xis agora.
- Eu lhe passo o nosso número no WhatsApp e o senhor pede.
- Não posso só pedir pra ti, pagar e sair?
- É que somos só uma delivery...
- Ta bem, ta bem. Vou pedir. Eu moro aqui do lado e quando tiver pronto me avisa no WhatsApp e eu pego o xis.
- Não temos essa opção, senhor.
- Pô, moça... Assim fica difícil.
- Pois é... No delivery não tem como fazer isso.
Me despedi da atendente um tanto injuriado e fui caminhando para casa. Já começava a me preocupar com o que os outros iam pensar. Eu não conseguia sequer comprar um xis. Estava totalmente desatualizado. Era oficialmente um tiozão.
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