Todas as linhas de obras sérias que escrevi a partir de 1936 foram escritas, direta ou indiretamente, contra o totalitarismo e a favor do socialismo democrático, tal como eu entendo. Parece-me sem sentido, numa época como a nossa, pensar que alguém possa evitar escrever sobre esses temas. Todo mundo escreve sobre eles, de uma forma ou de outra. É só questão de saber de que lado se está e qual a abordagem se adota. E quanto mais se tem consciência do próprio viés político, maior é a possibilidade de atuar politicamente sem sacrificar sua integridade estética e intelectual.
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Não sou capaz de, e nem quero, abdicar por completo da visão de mundo que adquiri na infância. Enquanto estiver vivo e bem, vou continuar a ter convicções firmes quanto ao estilo da prosa, amar a superfície da Terra e a ter prazer com objetos sólidos e restos de informações inúteis.
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Todos os escritores são vaidosos, egoístas e preguiçosos, e bem no fundo de seus motivos sempre há um mistério. Escrever é uma luta horrível e exaustiva, como o longo acesso de enfermidade dolorosa. Ninguém empreenderia se não fosse impelido por algum demônio ao qual não se pode resistir nem tampouco compreender. Até onde se sabe, esse demônio é simplesmente o mesmo instinto que leva um bebê a berrar por atenção.
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A boa prosa é como a vidraça de uma janela
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Trechos de Por Que Escrevo, de George Orwell, ensaio de 1946, escrito quatro anos antes da sua morte. No breve texto, o autor cita que considerava Fazenda dos Animais ou A Revolução dos Bichos (1944), como seu grande avanço. Segundo ele, o livro foi feito “com plena ciência do que estava fazendo”, pois a obra fundia os propósitos artísticos e políticos em uma unidade.
No mesmo ensaio, Orwell comenta que esperava escrever um novo romance em breve. Ele diz que tinha clareza sobre o que queria escrever e sentencia: “está destinado a ser um fracasso”. O livro em questão viria a ser o clássico 1984 (publicado em 1949).
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