Uma histerectomia pôs fim ao sonho de Cecília ser mãe. E, a partir daí, alguma coisa se rompeu entre nós. Ela pareceu ter perdido o viço, a força que me atraíra quando a conheci. Tornou-se uma mulher frágil e se contentou com o papel de coadjuvante, sem direito a muitas falas, na farsa que passamos a encenar.
Às vezes, ainda trepávamos – é impróprio dizer que fazíamos amor.
Houve um momento em que eu e Cecília percebemos que nossa relação estava morta. Mas nenhum de nós reagiu. Há certos cadáveres que, por razões que ignoramos, não se decompõem. E não havendo mau cheiro que incomode os vizinhos, não há necessidade de chamar o IML.
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Trecho de O Invasor, de Marçal Aquino (romance, Cia das Letras, 2011)
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