quinta-feira, 14 de novembro de 2019
Vaidade e Teimosia
Comigo as palavras são só palavras. Não tenho pose de artista. Não tenho bandeiras - que não seja a bandeira da Literatura, que fique bem claro.
E, hoje, isso significa não ter representatividade artística, não ter um grupo a qual pertencer, não ter uma prateleira de destaque.
Um conto meu com a temática homoafetiva não é um conto com a temática homoafetiva, por exemplo. Porque eu, o autor, não hasteei a bandeira. Agindo dessa forma, como um apátrida, apequeno minha obra.
Meus personagens se queixam para mim, porque querem ter vida própria. Me tiram o sono à noite com suas cantilenas. "Sou o criador, não a criatura, meu Deus!", eu digo a eles e mando se calarem que já é tarde.
No fundo, até os entendo. Sei que me falta a afetação necessária, a mão amparando o queixo na foto da contracapa do livro, o olhar distante e a causa certa a que lutar - a causa que o momento pede.
Eu sei como e o que fazer. Mas, simplesmente, me nego.
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