sexta-feira, 26 de julho de 2019
Os Casais no Restaurante
Eu vejo alguns filmes e sinto saudade de quando eu era garçom. Os personagens ficam com suas DRs intermináveis, fazendo caretas tristes e repetindo os mesmos clichês - "você não me quer mais, é isso?" ou "a cada dia que passa, te reconheço menos" ou "a gente perdeu a intimidade" ou "não faz mais sentido seguirmos assim". Blá blá blá blá... Como telespectador simplesmente não posso fazer nada que mude o rumo da história, tenho que esperar a próxima cena ou dar stop e desistir.
Quando eu era garçom era diferente. O princípio da DR dos clientes era sempre extasiante pra mim, porque havia um gatilho. Era geralmente ciúme ou a fatídica conversa de fim da relação. Só que, como disse, a coisa ficava entediante. Então, eu me aproximava e intervinha.
- Como estão as coisas aqui, pessoal? Vai mais um chopp? Querem uma sugestão de sobremesa?
Era um baque. Eles perdiam o fio da meada. Existia um mundo ao redor deles. Alguns, pediam qualquer coisa para eu sair dali. Outros, caiam em si, respiravam fundo e pegavam o cardápio. Acabei com muitas DRs só na base do atendimento circunstancial.
Claro, tinha o outro lado da moeda. Os casais recentes com o fogo em brasa. Podia-se erguer todas as cadeiras sobre as mesas e eles seguiam lá, com seus risinhos, beijinhos melosos e picardias. Tudo isso às 1h. E garçom não pode ir embora enquanto tiver cliente no salão. Obviamente, eu ia lá e interrompia também.
- Querem mais alguma coisa aqui, gente? Um chopp? Mais uma sobremesa, quem sabe? Ah, só pra avisar que desligamos a chapa. Não temos mais como preparar nada.
- Tudo bem, campeão! Nem te estressa. Traz mais um chopp pra nós.
Nesse caso, me atravessar na conversa alheia era pior dos mundos, porque eles seguiam no restaurante. E isso significava que eu só ia pra casa madrugada adentro, esperando mais de uma hora na parada a porcaria do ônibus Corujão.
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