terça-feira, 8 de janeiro de 2019

O Limo dos Dias



As idéias surgem. Tomo nota. Jogo-as num canto. Não tenho ânimo para desenvolver nada. Tudo o que concluí, o que pretensiosamente chamo de "obra", não obteve alcance ou repercussão. Serviu para quê? E, afinal, para que serve um artista senão para receber aplauso ou vaia? A irrelevância e a indiferença maltratam a alma. Contudo, são um sinal.

Uma jornalista, crítica literária, foi enfática em relação a isso. Disse assim aos autores que clamam por visibilidade: se ninguém afirmou que você escreve bem, é porque você escreve mal. Eu, sinceramente, acreditava que esse conceito de bom e ruim fosse subjetivo, algo que levasse em conta a bagagem cultural de quem avalia. Entretanto, não é. A jornalista tem razão.

Acontece que toda pessoa medíocre tem uma desculpa. A subjetividade acaba sendo uma bengala confortável, nesse imenso desconforto de pessoa manca que é produzir Arte. Em vez de "desconforto de pessoa manca", pensei em descrever uma doença grave, porém, creio que não chega a tanto.

Se há um monstro nessa história, é o da expectativa. O monstro é alimentado cegamente pelo ego. O monstro, esse ser desfigurado e, ao mesmo tempo atraente, nos engana e nos leva pela mão. Junto dele, damos uns passos (mancos) para lugar nenhum. No caminho, sequer há uma encruzilhada, onde a dúvida possa servir de estímulo. O horizonte é só uma terra plana, sem obstáculos e placas, com possibilidades ilusórias para andar e seguir em frente. Mas isso não significa que haja um destino. Pelo contrário. Não há. Então, qual o motivo?

Não há respostas para essa questão. Só há o consolo que a vida continua. O consolo sempre é um clichê, como a posteridade e a glória. Talvez, tudo não passe de um exercício para tapar o buraco dos dias. 

E assim já não tenho tempo para meu melhor amigo. Nessa hora, deixo a Literatura para trás, e retomo o que realmente interessa. Imagino que ele deva estar sentindo a mesma saudade que sinto. Não poderíamos conviver para sempre juntos? Lateja devagar. É a dorzinha que a lembrança traz. O que significa a distância e o tempo para uma amizade?

Tenho que conviver com tipos que emitem juízo sobre qualquer coisa que ocorre diante dos seus narizes empinados. Eu queria que eles se calassem. Ou, tivessem a virtude da dúvida. Ou, ainda, fossem mais críticos consigo.

São essas figuras tão previsíveis que me tomaram de assalto, relegando meu melhor amigo a um quase esquecimento. Tem uma música que diz "andei por andar e todo o caminho deu no mar". É isso, não é mesmo?

E todo o resto que circunda esse andar (de manco)? Tem coisas que são da gente. Estão incrustadas, são os limos nas pedras. As ondas e o Sol surgem e somem. O limo persiste. O melhor amigo. A Literatura.

E o que mais?

Até quando?

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