As idéias surgem. Tomo nota. Jogo-as num canto. Não tenho
ânimo para desenvolver nada. Tudo o que concluí, o que pretensiosamente chamo
de "obra", não obteve alcance ou repercussão. Serviu para quê? E,
afinal, para que serve um artista senão para receber aplauso ou vaia? A
irrelevância e a indiferença maltratam a alma. Contudo, são um sinal.
Uma jornalista, crítica literária, foi enfática em relação a
isso. Disse assim aos autores que clamam por visibilidade: se ninguém afirmou
que você escreve bem, é porque você escreve mal. Eu, sinceramente, acreditava
que esse conceito de bom e ruim fosse subjetivo, algo que levasse em conta a
bagagem cultural de quem avalia. Entretanto, não é. A jornalista tem razão.
Acontece que toda pessoa medíocre tem uma desculpa. A subjetividade
acaba sendo uma bengala confortável, nesse imenso desconforto de pessoa manca que é produzir Arte. Em vez de "desconforto de pessoa manca", pensei
em descrever uma doença grave, porém, creio que não chega a tanto.
Se há um monstro nessa história, é o da expectativa. O
monstro é alimentado cegamente pelo ego. O monstro, esse ser desfigurado e, ao
mesmo tempo atraente, nos engana e nos leva pela mão. Junto dele, damos uns
passos (mancos) para lugar nenhum. No caminho, sequer há uma encruzilhada, onde
a dúvida possa servir de estímulo. O horizonte é só uma terra plana, sem obstáculos e placas, com possibilidades ilusórias para andar e seguir em frente. Mas isso
não significa que haja um destino. Pelo contrário. Não há. Então, qual o
motivo?
Não há respostas para essa questão. Só há o consolo que a
vida continua. O consolo sempre é um clichê, como a posteridade e a glória. Talvez,
tudo não passe de um exercício para tapar o buraco dos dias.
E assim já não tenho tempo para meu melhor amigo. Nessa
hora, deixo a Literatura para trás, e retomo o que realmente interessa. Imagino
que ele deva estar sentindo a mesma saudade que sinto. Não poderíamos conviver
para sempre juntos? Lateja devagar. É a dorzinha que a lembrança traz. O que
significa a distância e o tempo para uma amizade?
Tenho que conviver com tipos que emitem juízo sobre qualquer
coisa que ocorre diante dos seus narizes empinados. Eu queria que eles se
calassem. Ou, tivessem a virtude da dúvida. Ou, ainda, fossem mais críticos
consigo.
São essas figuras tão previsíveis que me tomaram de assalto,
relegando meu melhor amigo a um quase esquecimento. Tem uma música que diz
"andei por andar e todo o caminho deu no mar". É isso, não é mesmo?
E todo o resto que circunda esse andar (de manco)? Tem
coisas que são da gente. Estão incrustadas, são os limos nas pedras. As ondas e
o Sol surgem e somem. O limo persiste. O melhor amigo. A Literatura.
E o que mais?
Até quando?