segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
Em Um Bar Da Zona Norte
Mesmo homens calejados de quase quarenta, cinquenta ou beirando os sessenta sentem a barra. Ainda mais bebendo. Porque o trago sensibiliza demais as pessoas. E foi num momento de alto teor alcoólico que alguém decidiu colocar a caixa de som para fora do bar, na calçada, com o disco da Marília Mendonça.
Não demorou muito e o primeiro começou a chorar. Saudade da ex-mulher. Ela foi embora porque ele “não prestava”. O segundo foi consolar o amigo e desabou também. O filho tinha vergonha do pai cachaceiro. O terceiro estava desempregado há tempo e chorou calado, com o cigarro se acabando entre os dedos.
O disco estava na metade quando chegou a polícia.
- Tenho reclamação de som alto aqui – disse o brigadiano.
Um soldado de 26 anos, vindo de Rosário do Sul. Deixou a família para trás. Mulher e dois filhos pequenos. Veio tentar carreira em Porto Alegre.
Não bebeu nada. Mas chorou da mesma forma, porque não é fácil pra ninguém.
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