Eu tinha passado dos quarenta. Estava fora do peso. Peitos
caídos. Não usava biquíni há tempo – agora, era maiô na praia e na piscina. Me
achava velha. Eu acreditava que uma mulher da minha idade deveria responder à
etiqueta. Vestir roupas sóbrias e manter certa uma postura. Confesso que tinha
a convicção que o sexo era uma picardia juvenil. Mas ainda tinha a bunda
grande. Com estrias brancas – como um eletrocardiograma – transcorrendo das
nádegas às coxas. Com um número considerável de celulite. Ele estava pouco se
lixando para isso. Ele era tarado por minha bunda. Trabalhava comigo e me
olhava de um jeito... Eu sentia um calorzinho por dentro. Ceder seria uma insanidade.
Ceder seria infantil até. Mas por que não? Porque eu era casada? Porque eu
tinha filha pequena?
Quando me vinham esses pensamentos, lembrava de imediato de
meu pai. Sempre grosseiro. Sempre estúpido. Sempre com uma resposta para tudo
que existe no mundo. Sempre com “a” razão. O dono da verdade falava assim.
- Tem um monte de mulher puta no mundo. O curioso é que nenhuma
delas é mãe de ninguém.
E concluía dizendo que a gente se achava
superior aos homens. Segundo ele, tudo não passava de discurso vazio e
moralista.
- Ninguém presta... – finalizava.
E não discutia ou emitia qualquer outra opinião. A família
ficava boquiaberta. Nesses encontros com tios, primas, avós – geralmente,
aniversário de alguém –, ele sempre encontrava uma maneira de falar asneira e
deixar o clima tenso. Ele não estava nem aí pra ninguém. Egoísta. E pais não
podem ser egoístas. O fato é que cresci com essa merda na cabeça. Pensando que
mulher, para “prestar”, tinha que conter seus instintos. Responder a etiquetas.
Segurar a onda e não dar para qualquer um. Quando desse, era só para esse um. Já
os homens, não. Os homens blá blá blá blá... As feministas tinham razão em sua
ladainha. Mas elas sempre me passaram a impressão que queriam “prestar”. Eram
muito certinhas. Eu ficava mais atraída com a imagem das mulheres que
faziam filmes pornôs. Nas vezes que assistia – sempre sozinha – tinha a
impressão que elas eram livres. E pareciam tão felizes... Não havia opressores
e oprimidos no sexo que elas faziam.
A questão é que o desgraçado do velho já tinha morrido de
tanto beber. Não fazia sentido ainda pensar nele quando recebia um olhar
daqueles. Foda se!
Em um intervalo para o almoço, fomos para um motel. Conduzi
a coisa toda. Deixei que admirasse minha bunda. Deixei que fosse sem camisinha.
Deixei que gozasse nela. Depois, deixei que ele desferisse tapas com força. Deixei
que acariciasse os vergões. Rebolei sem jeito – como se soubesse rebolar –, só
para ele assistir minha bunda balançando. Até que ele não resistiu e a beijou. Enfiou
seus dedos compridos. A cara toda. O pau. De novo.
No outro dia, fui trabalhar de vestido. Recebi o mesmo olhar
quando nos cruzamos. Não conseguimos um instante a sós. Depois de mijar, tive
vontade de me tocar. Lavei o rosto e desisti da ideia. Senti uma pequena
angústia. Só parei de pensar nele quando peguei minha filha no colo, na creche,
e a levei até o carro. À noite, usei meu marido para transar com aquele olhar.
Quando ele acabou, fui ao chuveiro e segui com aqueles olhos me consumindo. A
água batia em todo o meu corpo. Mas eu não me refrescava, nem sentia vontade de
me limpar.
Propus que ele viesse até minha sala, após o expediente. Trepamos
sobre a mesa. Luzes apagadas. Porta trancada. Estava louca que alguém da
vigilância batesse. Ninguém bateu. Acabou passando do horário de buscar minha
filha na creche. Pedi a meu marido que fosse. Ele queria saber o motivo.
Inventei qualquer bobagem.
Seguimos. Em um mês, eu já tinha feito boquete enquanto ele
dirigia, inserido vibradores de vários formatos e cores, transado no banheiro
masculino da firma, batido uma punheta para ele no cinema enquanto assistíamos O Lobo Atrás da Porta, deixado me
fotografar por debaixo da mesa de um restaurante sem calcinha. O ponto alto foi
quando fudemos na sala de estar, de madrugada, enquanto meu marido dormia. Fiquei
de quatro, corpo escondido pela parede, cabeça voltada para o quarto. Monitorava
a porta entreaberta ao final do corredor. Não fizemos nenhum ruído. Até que ele
me deu um beijo brusco na boca, um tapinha na bunda – indicando que havia
acabado e eu podia me arrumar – e saiu. Fui para a janela e vi seu carro sumir
na noite. Seu gozo escoria por minhas coxas. Um pingo desceu mais depressa e alcançou
meu tornozelo direito...
O melhor horário era logo depois do expediente. O dia nos
excitava mais. Porque era inóspito. Porque sempre tinha a possibilidade de
infringir algo. E, assim, criar algo novo. Fomos flagrados em uma garagem
particular, no Centro Histórico. O funcionário – um jovem com espinhas no rosto
e boné quase tapando os olhos – desconfiou. Viu que o carro estava um pouco à
frente que os demais. O motivo: estávamos atrás do porta-malas. Eu deitada no
concreto. Ele sobre mim, com aqueles olhos... O rapaz não soube o que fazer.
Não interferiu, nem comentou nada. Ao vê-lo parado ali, eu apenas disse que
estávamos acabando. Ele então falou.
- Tudo bem... Tudo bem...
E fez de conta que saiu. Mas foi um golpe falso, pois
percebi que nos espiava atrás de outro carro. Imaginei que estava se
masturbando, me vendo ali.
Por tudo isso, desisti definitivamente de buscar minha filha
na creche. Meu marido protestou. Como a situação ficou insustentável. Aproveitei
e desisti do meu marido também. Era livre. Tinha o final de tarde e início de
noite para esquecer e aceitar o tempo. Aproveitei e aceitei outras mulheres, travestis,
outros homens – enfim, a tal dupla penetração, que não achei nada demais; só
sentia o pau dele. Aceitei o que lhe excitava. Fui a um haras. Deixei que me
filmassem masturbando um cavalo. Bebi aquilo tudo. Depois do bicho, sem câmeras
me gravando, me encostei em uma cerca, empinei minha bunda grande e vi uma fila
de homens se formar. Somente trabalhadores do local. Quinze ao todo. Entre
eles, fui a primeira de um menino de 16 anos, o filho do caseiro. A cada um que
me comia, percebia aquele olhar. Eu sentia que aquele olhar ainda me
admirava...
Não sei quando aqueles olhos – duas bolas pretas e profundas
– fugiram de mim. Só sei que não pude aceitar. Aquele olhar era tudo que eu
tinha. Aquela veneração por minha bunda... Quando perguntei o motivo, ele afirmou
que não sabia. Após minhas investidas tresloucadas, sumiu por seis meses.
Quando lhe achei, implorei com mais força. Ele disse que não havia possibilidade. Que eu estava sendo ridícula. Que as coisas mudam. Que as
pessoas desistem. Que nada dura para sempre. Que tempo fode com tudo. Mas com
uma facada no seu bucho, consegui convencê-lo a ficar.
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