Autor de Atire no Pianista, A Garota de Cassidy, entre outros |
A LUA NA SARJETA
David Goodis
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A Toca de Dugan era duas vezes mais velha que o dono, que já passava dos sessenta anos. O lugar nunca tinha sido reformado, e conservava piso, cadeiras, mesas e balcão originais. Toda tinta e verniz tinham desaparecido havia muito tempo, mas a madeira antiga era lustrosa, com o eficiente polimento de inúmeros cotovelos. Mas, exceto, a superfície brilhante das mesas e do balcão, a Toca de Dugan era um lugar opaco e ensebado. O tipo de lugar em que um relógio parece funcionar mais devagar.
Mas poucos clientes tinham relógio, e o de parede nem funcionava. Ali era muito pequeno o interesse pela passagem de tempo. Ia-se ao Dugan justamente para esquecer o tempo. A maioria dos fregueses eram velhos que não tinham o que fazer, nem aonde ir. Havia também as mulheres já de cabelo branco, sem dentes na boca e sem nada na cabeça além do efeito do uísque barato. A especialidade da casa era um duplo uísque de centeio, de cheiro fortíssimo, por vinte centavos.
Não tinha música, nem aparelho de televisão, e a única distração ficava por conta do próprio Dugan. Era um sujeitinho descarnado, só um tufos de cabelo na cabeça, e estava sempre assobiando, murmurando ou cantando alguma música, sempre desafinado. Era um habito que tinha adquirido há muito tempo, para o bar não ficar quieto demais. A maioria dos fregueses não conversava e, quando falavam, geralmente era de um amontoado de besteiras incoerentes que faziam Dugan desejar que estivesse em outro ramo.
Vez ou outra havia uma discussão, mas raramente resultava em alguma coisa de fato interessante. E nas poucas ocasiões em que o pessoal apelava para murros ou garrafadas, Dugan não movia um dedo para interromper. Sua vida era bastante monótona, e de vez em quando gostava de ver alguma coisa acontecendo.
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