segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Um Breve Olhar Sobre "Desonra"

O autor sul-africano foi agraciado com o Nobel de Literatura, em 2003
Desonra (Companhia das Letras, 1999) é um dos livros mais sinceros e tocantes que já me deparei, sem dúvida. Os personagens de Coetzee tem um olhar duro em relação à vida.

Em diversos momentos, parecem distantes e resignados com seus destinos. Porém, estão sempre dispostos a novos recomeços. Mesmo que haja uma relação de silêncio entre eles. Mesmo que haja medo e incompreensão. Existe neles - nesses personagens trágicos - sobretudo, uma ânsia absurda, um desejo contido em seguir, já que seguir é a única alternativa possível.

Abaixo, o primeiro capítulo do livro.

sábado, 29 de agosto de 2015

Dostoievski e a Profissionalização da Arte


"É impossível escrever aquilo que queremos; temos de escrever o que nunca pensaríamos se não precisássemos de dinheiro".

Dostoievski, trecho de uma carta a seu irmão.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

A Hora e a Vez dos Clássicos: O Pirotécnico Zacarias - Murilo Rubião

Autor de O Ex-Mágico, O Pirotécnico Zacarias, A Casa do Girassol Vermelho, entre outros

O PIROTÉCNICO ZACARIAS
Murilo Rubião

"E se levantará pela tarde sobre ti uma luz como
a do meio-dia; e quando te julgares consumido,
nascerás como a estrela-d’alva".
Jó, XI, 17

Raras são as vezes que, nas conversas de amigos meus, ou
de pessoas das minhas relações, não surja esta pergunta. Teria
morrido o pirotécnico Zacarias?
A esse respeito as opiniões são divergentes. Uns acham
que estou vivo — o morto tinha apenas alguma semelhança
comigo. Outros, mais supersticiosos, acreditam que a minha
morte pertence ao rol dos fatos consumados e o indivíduo
a quem andam chamando Zacarias não passa de uma alma
penada, envolvida por um pobre invólucro humano. Ainda há
os que afirmam de maneira categórica o meu falecimento e
não aceitam o cidadão existente como sendo Zacarias, o artista
pirotécnico, mas alguém muito parecido com o finado.
Uma coisa ninguém discute: se Zacarias morreu, o seu
corpo não foi enterrado.
A única pessoa que poderia dar informações certas sobre
o assunto sou eu. Porém estou impedido de fazê-lo porque os
meus companheiros fogem de mim, tão logo me avistam pela
frente. Quando apanhados de surpresa, ficam estarrecidos e
não conseguem articular uma palavra.
Em verdade morri, o que vem ao encontro da versão dos
que creem na minha morte. Por outro lado, também não estou
morto, pois faço tudo o que antes fazia e, devo dizer, com mais
agrado do que anteriormente.

sábado, 22 de agosto de 2015

O Fim de Semana Perdido ou Farrapo Humano


Era evidente que eu estava sozinho. Mas depois que cravei o ponto final, eu tive certeza. Senti que não havia nada, nenhum sentido naquilo. Escrever... No início, desconfiei que era egoísmo ou uma espécie de altruísmo torto, que serviria para algo ou alguém. Porém, agora, depois desse ponto, sei que não há qualquer justificativa plausível. A sensação é de presenciar um milagre ruim, que não salva, nem ilumina. Pensei um pouco em Deus, como é usual nessas horas, e imaginei que Ele só poderia achar engraçadas as pretensões humanas.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

In a Sentimental Mood


Quando o atendente concluiu, dizendo que um técnico viria somente no outro dia, eu me conformei. Não sou do tipo que bate-boca com atendentes. Sem televisão, celular, internet. Era isso. Não teria notícias ou acesso ao que acontecia lá fora.

Nada mal. Então, coloquei aquele disco do Duke Ellington e Coltrane e terminei a pilha de louça. Limpei a caixa dos gatos. Varri os pelos deles, que voavam por todo o apartamento. Fiz a barba e me deitei no sofá.

A verdade é que eu não precisava de acesso a nada. O que eu necessitava era de momentos e algumas notas de sax para preencher o silêncio.

Passei os olhos num conto do Faraco. Eu já conhecia aquela história, como as demais, mas sempre tinha um detalhe, um novo jeito de olhar. A luminária estava repleta de moscas mortas, diminuindo a força da luz. O livro ficou de lado e só restou a música.

O sofá já tinha meu corpo desenhado. Os pensamentos iam se encaixando nas estantes da minha cabeça – essa semana seria uma boa visitar meus pais, pensei.

Como uma mulher sem passado, a noite se aconchegou ao meu lado. Se sonhei, não me lembro.


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Ativismo É A Segunda Pauta


Saiu um texto meu no site Mínimo Múltiplo, editado pelo amigo Lucas Colombo. O tema é o ativismo como segunda pauta na classe artística.

Separei um trecho:

"Em um país como o nosso, onde os meios de divulgação de cultura são tão raros, é de se lamentar que alguns artistas de relevância, com milhares de “seguidores”, percam tanto tempo com temas “menos relevantes”, sendo que, na maioria dos casos, há especialistas de maior calibre e bagagem para abordá-los. Acontece assim: em vez de o cantor falar sobre música, por exemplo, ele prefere gastar uma dose considerável de sua energia para comentar – o mais correto seria palpitar – sobre política partidária, posando de entendido sobre o assunto. Será que seu público não acharia legal saber que disco ele gostou de ouvir recentemente? Ou, então, receber uma sugestão de bom show de um novo músico ou banda?".

E por aí vai...

Nesse link (http://minimomultiplo.com/index.php?page=260), o texto completo.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Os Olhos de Saramago


No final, exausto de tanto caminhar, já com os olhos sem cor, José Saramago, em uma conferência em São Paulo, arriscou o que significa isso tudo.

"A inutilidade da vida... Não conseguimos fazer dela mais do pouco que ela é".

E a plateia não sabia se aplaudia ou esperava uma nova sentença. Como Saramago nada disse, as pessoas, atordoadas, resolveram aplaudir.