quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Um Turista Japonês


Fiz esse texto especialmente para um site, que optou por não publicar. Então, como não achei tão ruim, compartilho por aqui. 


Sou como aquele turista japonês que tira foto de tudo, de todos e a qualquer momento. A diferença é que eu não acho graça, nem fico rindo pra qualquer um ou para qualquer coisa. Outra diferença importante é que não uso máquina fotográfica e, sim, papel e caneta. Assim como o maldito oriental, incomodo muita gente. Afinal, as pessoas só querem admirar a paisagem e esperar que o dia termine bem. Pra quê tudo isso? É que tem coisas que não são possíveis descrever. E são exatamente essas que busco. Eu sei que é uma besteira sem tamanho. Mas quando tudo parece novo, é inevitável não tentar registrar.

Às vezes, acordo num sobressalto e escrevo qualquer coisa. E sigo de olhos abertos enquanto o sonho não vem. Noutras, aparece uma frase e perco um compromisso importante. Há, também, casos que não presto atenção no que há em minha volta – família, amigos, trânsito, temperatura, etc – , porque um verso insiste em tomar boa parte do meu cérebro limitado. Os versos sempre tem prioridade. Qualquer verso.

Já peguei gripe, já perdi o ônibus, já fui atropelado e já amei demais por culpa da Literatura. Só que a vida acaba virando um faz de conta desgraçado. E os outros não estão nem aí pro seu autismo. No começo, sinceramente, achava que era um dom. Depois, a "dádiva" se tornou uma abnegação, missão ou questão de sobrevivência. Hoje, percebo que foi e é só uma sina, que ultrapassou o limite da teimosia, do bom senso.

Um cachorro vadio, que eu tirei da rua, lambe diariamente minhas feridas e me leva para a rua, para tomar um pouco de sol ou uma bola de sorvete de flocos. Se não fosse por ele, acho que jamais sairia de casa. Porque o mundo é só um lugar para matar o tempo. O mundo é só um lugar para tropeçar em caminhos mal sinalizados. Tem dias que escrevo coisas honestas, que me tiram um sorriso da cara. Noutros, parece que não valeu a pena tentar. Foi um pecado ter sujado tantas folhas. A Natureza ainda vai me cobrar essa conta. Eu sei disso.

Minha mãe me ensinou a rezar. Mas eu me neguei a pisar na igreja. Eu me neguei a agradecer. Agora, já é um pouco tarde. Minha carcaça acabará perdendo a queda de braço para a Literatura. Parece um pouco trágico dito assim, mas é a ordem natural das coisas. A Literatura sempre vence no final.

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