sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Lições de Literatura e Cinema: Assista Dentro da Casa

O cinema francês – assim como o argentino – tem me surpreendido pela qualidade do seu roteiro. Para mim, isso é o que mais importa na sétima arte, saber contar uma história. Não há excessos, efeitos exagerados, edições mirabolantes ou arroubos tecnológicos. É “só” uma boa história, que te deixa com aquela sensação de assistir algo que pareceu fácil de fazer e que, mesmo assim, te deixa boquiaberto pela complexidade, pelo modo que foi descrita.

Alguns exemplos recentes, sem pensar muito ou pesquisar profundamente, foram os filmes Irreversível, O Escafandro e a Borboleta, Caché, Amor, Elles, O Capital, Os Intocáveis e Ferrugem e Osso. Mas teve um que me cativou mais que os citados: Dentro da Casa, lançado em 2013, com direção e roteiro de François Ozon, baseado na peça El Chico de la Última Fila, do espanhol Juan Mayorga. O apego se deu porque o tema central é a literatura. O filme fala sobre um estudante com grande potencial para a escrita e um professor, de francês logicamente, que busca estimulá-lo.

Breve Sinopse – Para escrever uma redação, o estudante Claude (Ernst Umhauer) se aproxima de um colega, Rapha (Bastien Ughetto), com a intenção de invadir sua vida, inserir-se em sua família – inclusive se apaixonando por sua mãe, a entediada Esther (Emmanuelle Seigner) –, para assim transcrever a rotina daquela família classe-média. O jovem acaba desenvolvendo uma novela – realista? – que atrai a atenção do exigente professor, Germain (Fabrice Luchini), que também é inserido no contexto – e, por consequência, já que tudo é literatura –, na trama que vai sendo escrita e – aparentemente – manipulada por Claude.

Outro ponto alto de Dentro da Casa são as citações e referências artísticas – tão naturais, sem aquele forçoso tom didático – que vão de nomes como Paul Klee, Flaubert, Pasolini, Kafka, Dostoievski, até conceitos de arte contemporânea.

O resultado é que todos – incluindo o espectador – acabam ficando presos aos próximos capítulos que o estudante vai engendrando. Só resta, então, aguardar o último ato, que acaba se tornando inevitável. Isso, meus amigos, é saber construir um bom roteiro. Uma lição não só de cinema, mas também de literatura.