- Com licença, sou artista independente, vendo minhas obras na rua. Gostaria de apresentar meu trabalho pra você.
- Obras?
- Sou poeta. Vendo poemas para as pessoas.
- E quanto custa?
- Variam de um a mil reais. Depende.
- Mil?!
- Mas, daí, eu vendo a autoria também.
- E já vendeu algum de mil?
- Sim, um.
- Pra quem?
- Carpinejar.
- Sério?! Sobre o que era?
- Era um poema onde o personagem é um idiota que deve agir da maneira certa, para não perder a mulher da sua vida.
- Hum... Bom, amigo, me desculpe, mas não tenho interesse.
- Mas por quê? Você não gosta de Literatura?
- Só leio gibis do Tex. E como ta difícil de achar, não leio mais.
- Olha, tenho um poema aqui que...
- Cara, acho melhor você desistir disso. Faz o seguinte: tá vendo aquela rua?
- Tô.
- Vai até ali, segue reto e na segunda rua à esquerda, você dobra. Tem um prédio e na fachada dele está escrito Sine. Hoje, tem vaga para pedreiro, garçom, chapista, encanador, eletricista, pintor e continuista de novela.
- Tem algo relacionado a escritor? Sei lá, cronista de jornal, desses que opinam sobre tudo...
- Não tem, não. Aliás, é bem difícil de ter coisa de escritor. Que eu me lembre, teve uma vez só.
- E o que era?
- Vaga para imitador do Bukowski.
- E teve interessados?
- Oh, a fila deu a volta em três quarteirões!