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Contracapa do livro A Mulher do Próximo (editora Record, 1980) |
Gratificação egoica, exibicionismo, vaidade. Há motivos menos cabotinos para levar palavras ao papel, mas a possibilidade de impressionar as pessoas está no topo da escala de gatilhos que motivam autores a contarem boas histórias ou darem gritos de alerta ao mundo.
Na balança de Gay Talese, os três citados na abertura podem até pesar mais que outros, mas nunca vêm sozinhos. Talese entrega o pacote completo. Ou seja, além de estupidamente bem escritos, seus textos são assentados em pilares inegociáveis do bom jornalismo. Concisão, clareza, tom coloquial e um conjunto de informações novas e precisas distribuídas num ritmo que mantenha o leitor vidrado. Tudo isso a bom preço e fruto de trabalho investigativo que distingue as grandes reportagens de relatórios burocráticos e mal-escritos. A cereja desse bolo, claro, é a criatividade.
Com essas valências, visíveis como insígnias na lapela, em Fama & Anonimato, Honra teu pai, Vida de escritor e outros, seria mesmo impossível imaginar esse velhinho de 93 anos passando despercebido por aí, escondido dentro de ternos de três peças, chapéu Fedora e sapatos Oxford, que ele têm sujado desde a década de 1950, quando decidiu ir às ruas para tornar incomum a vida de pessoas comuns e invisíveis aos olhos da multidão.
Nota à margem
Embora mantenha discrição e humildade de um bedel na profissão, sozinho em seu escritório, no silêncio do seu laboratório de criação, Talese parece ser daqueles que sempre esperaram aplausos da máquina de escrever ao final de cada capítulo.
E tem livro novo do veio na praça. Bartleby e eu.
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Texto do jornalista Eduardo Rodrigues (publicado originalmente em seu perfil do Facebook, 10 de outubro de 2025)
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