Na década de 50, a Zona Norte de Porto Alegre era um retrato em preto e branco. E meu vô, Algenor, vivia nele. Veio de São Luiz Gonzaga para viver um sonho. A ilusão da cidade grande. Ficou pelo bairro Sarandi, com minha vó e seus três filhos - um deles, meu pai.
Foi frentista em um posto de combustíveis na avenida Assis Brasil com a rua Edmundo Bastian. O estabelecimento ainda existe. Meu avô, não mais. Morreu na década de 70. Trabalhou demais. Viveu de menos. Não conheceu nenhum neto. Mas sonhou.
Ele também foi motorista da linha de ônibus Sarandi, na mesma década de 50 e ao longo de muitos anos. A linha ainda resiste e circula por algumas ruas que Algenor tanto passou.
Será que alguém ainda se lembra do meu vô? Dizem que era meio ruivo. Pelo duro. Atarracado. Gostava de churrasco, dança, música gaúcha - Os Irmãos Bertussi era o seu grupo favorito - e fotografia. Fazia questão de registrar um ônibus recém comprado pela empresa, uma turma de amigos ou colegas de trabalho.
Já faz tanto tempo... Alguém ainda sente saudade dele? Imagino que sim. Seus filhos, já velhos, certamente sonham com seu pai. Contudo, logo eles irão embora.
E caberá a mim sonhar. Depois, aos meus filhos. Um sonho que, aos poucos, também vai se apagar... Como as memórias vividas, as pessoas que passaram em nossas vidas e a Zona Norte da década de 50.
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