A moda agora é o cigarro eletrônico. Modelos, cores, tipos, aromas, mais fumaça, menos fumaça. Já tem gente entendida no assunto dizendo que faz mais mal que o de verdade – aquele de nicotina, proibido para menores de 18 anos. Formou-se, como na política atual, um acalorado debate para verificar quem é o menos pior.
Contudo, o cigarro eletrônico de verdade é o celular. Popularizado há mais de 30 anos no Brasil. A intensa e duradoura relação iniciou com o tijolão indiscreto. Agora, estamos na fase do smartphone fino. O fino que satisfaz – lembram do comercial do cigarro Chanceller?
Segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), temos 242 milhões aparelhos no país. Número maior que de habitantes É inegável que estamos presos a eles, como estávamos nas décadas passadas ao cigarro. O celular é possivelmente o nosso maior vício atual. Sofremos abstinência se ficarmos muito tempo sem acessá-lo, inclusive.
Muita gente diz que para quando quiser. Será? A impressão é de que vamos passar o resto da vida vidrados em sua tela. Para matar o tempo, para não ter que ficar sem fazer nada, para não ter que pensar no resto do dia...
É informação em excesso. É desinformação em excesso. É distração que não acaba mais. Por que essa devoção ao virtual? A conversa é comprida. Porém, o fato é que não há como acumular tudo que consumimos nessa maldita e viciante telinha. Nossa cabeça simplesmente não comporta.
Nossa vista está embaçada, confusa, mas se desgrudarmos os olhos do virtual, sempre existirá o real. E tem tanta coisa bonita e nova por aí. Vale a pena ser mais analógico. Afinal, só se vive, de verdade, uma vez.
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Texto publicado no jornal Diário de Canoas, dia 10 de agosto de 2022.
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