É óbvio que naquele tempo não havia computadores, nem quaisquer outras distrações virtuais. As pessoas tinham que beber e fumar para matar o tempo. Colocar um disco ou uma fita cassete para tocar e esperar. Pirão de Peixe com Pimenta, do Sá & Guarabyra. Era outra vida. Não era qualquer um que tinha telefone. E mesmo quem tinha, não era certo que atenderia do outro lado da linha. As pessoas, naquele tempo, faziam outras coisas. Não ficavam só coladas e vidradas em aparelhos. Era um período que não dava para dividir as frustrações em tempo real, por meio de redes sociais. Os homens eram mais homens, dizia meu avô – que sequer conheci. Porém, ele se referia aos anos 40… Estamos nos 80, agora. E meu pai está nitidamente alterado, falando coisas como essas que escrevo. Nostálgico e assustado. Bebeu demais. A música está alta. “Te amo espanhola…”. Sua mãozona preenche meu rosto e cabeça. Afagos, afagos. E ele, então, toma coragem para ficar quieto e chorar um pouco. Quase quarenta anos depois, tomo fôlego para admirar meu menino. O pequeno assiste a um desenho no celular. Comenta e analisa os poderes de um super herói. Ele me fala que o tal herói pode levantar e quebrar casas, se quiser. Eu dou um sorriso e afago seu rosto, sua cabeça. Minhas mãos são gigantes. Muito maiores que a de meu pai. Estou nostálgico e assustado. Porque tem tanta coisa acontecendo tão perto da gente… Mas o guri parece tão bem, tão sereno. Tadinho, ele não entende. Não. Ele entende. E vai entender. Certo que sim.
“Pra que chorar? Te amo”. Era o que dizia o resto da canção. Eu lembro bem.
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