Há uma semana, citei o crítico fluminense Agrippino Grieco (1888-1973) como o autor original da frase “Se a vida bastasse, ninguém se daria ao trabalho de convertê-la em arte” e da expressão ”profeta do passado”, consagradas por outros no futuro. “Agrippino Grieco?”, perguntaram. Sim, um dos poucos grandes wits da língua. Eis uma amostra.
“Ontem é sempre poesia. Hoje é quase sempre prosa”; “Sabe-se que um escritor está em declínio quando começa a escrever como seus imitadores”; “A ciência progride. A literatura, não. Copérnico destruiu Ptolomeu. Camões não destruiu Homero.” Sobre Machado de Assis: “Acreditava-se um humorista porque vivia de mau humor”. Sobre Coelho Neto: “Autor de o nada em dezenas de tomos”. Sobre Castro Alves: “Não foi um homem. Foi uma convulsão da natureza”
Sobre um escritor seu amigo: “Voto-lhe estima tão forte que ela resistiu até à leitura de seus livros”. Sobre um poetastro do passado: “Seu único mérito consiste em estar morto”. Sobre o escritor Carneiro Leão, eleito para a Academia: “Em geral, a Academia elege só um animal. Agora elegeu dois”. Sobre os poetas parnasianos em geral: “Leões de mármore, suntuosos e inofensivos. Seus poemas eram pretensiosos e imprestáveis, como os vidros de água colorida das farmácias, perfeitamente inúteis”.
Sobre a Semana de Arte Moderna: “Como na peça de Shakespeare, muito barulho para nada”; “Os modernistas se ajoelham diante das rodas de um Ford como os parnasianos diante das patas do Pégaso”. Sobre Chaplin: “Pouco sei de Proust, quase nada de Bergson e absolutamente nada de Einstein. Mas sei toda a alma de Carlitos, e isso me faz riquíssimo”. “Só houve um cristão: Cristo”; “Nunca me arrependi de haver atacado. Só de ter elogiado” etc.
Poucos escreveram tanto e tão bem sobre literatura no Brasil como Agrippino. Temido e famosíssimo em seu tempo, é pouco lembrado hoje. Foi seu erro: escreveu no Brasil.
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Texto de Ruy Castro, publicado na Folha de São Paulo
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