Tcheckhov 1860 - 1904 |
Trecho:
(...)
No decorrer do verão e do inverno, houve ocasiões e dias em
que aquela gente parecia viver pior do que animais, viver com eles era
horroroso; grosseiros, sujos, sórdidos, sempre bêbados, eles vivem em atrito,
não param de brigar; não se respeitam, têm medo e desconfiança uns dos outros.
Quem cuida da taberna e dá de beber às pessoas? O mujique. Quem desperdiça e
consome em bebida o dinheiro do fundo comunitário, da escola, da igreja? O
mujique. Quem rouba os vizinhos, provoca incêndios de propósito e presta falso
testemunho na justiça, em troca de uma garrafa de vodca? Quem, na assembleia do
conselho local e em outras reuniões, se pronuncia contra os mujiques? O
mujique. Sim, viver com eles é horrível, mas também são gente, sofrem e choram
feito gente, e na vida deles não existe nada que não possa encontrar uma
justificação. O trabalho pesado, que faz doer o corpo inteiro de noite, os
invernos brutais, as colheitas minguadas, as casas apertadas; e a ajuda não vem
nunca nem existe lugar de onde se possa pedir socorro. Os mais ricos e
fortes entre eles não podem ajudar, porque também são grosseiros, sujos, estão
sempre bêbados e também brigam aos berros de modo abominável; mesmo o funcionário
ou o administrador mais insignificante trata os mujiques como se fossem
vagabundos, não trata de "senhor" nem o suboficial e nem o tesoureiro
da igreja, e está convencido de que tem todo o direito de agir assim.
(...)
Conto publicado no livro O Assassinato e Outros Contos.
As vzs beber parece solução, mas só por algumas horas.
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