terça-feira, 28 de maio de 2019

Os Mujiques - Conto de Anton Tcheckhov

Tcheckhov 1860 - 1904


Trecho: 

(...)

No decorrer do verão e do inverno, houve ocasiões e dias em que aquela gente parecia viver pior do que animais, viver com eles era horroroso; grosseiros, sujos, sórdidos, sempre bêbados, eles vivem em atrito, não param de brigar; não se respeitam, têm medo e desconfiança uns dos outros. Quem cuida da taberna e dá de beber às pessoas? O mujique. Quem desperdiça e consome em bebida o dinheiro do fundo comunitário, da escola, da igreja? O mujique. Quem rouba os vizinhos, provoca incêndios de propósito e presta falso testemunho na justiça, em troca de uma garrafa de vodca? Quem, na assembleia do conselho local e em outras reuniões, se pronuncia contra os mujiques? O mujique. Sim, viver com eles é horrível, mas também são gente, sofrem e choram feito gente, e na vida deles não existe nada que não possa encontrar uma justificação. O trabalho pesado, que faz doer o corpo inteiro de noite, os invernos brutais, as colheitas minguadas, as casas apertadas; e a ajuda não vem nunca nem existe lugar de onde se possa pedir socorro. Os mais ricos e fortes entre eles não podem ajudar, porque também são grosseiros, sujos, estão sempre bêbados e também brigam aos berros de modo abominável; mesmo o funcionário ou o administrador mais insignificante trata os mujiques como se fossem vagabundos, não trata de "senhor" nem o suboficial e nem o tesoureiro da igreja, e está convencido de que tem todo o direito de agir assim.


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Conto publicado no livro O Assassinato e Outros Contos.

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