A buzina do carro soava incessantemente há alguns minutos. Ninguém na vizinhança parecia se importar. Fui na janela e confirmei. Era o carro de papai. Ele estava dentro, no banco do motorista. Sua cabeça parecia morta e pressionava a buzina. A porta estava aberta. Deduzi que ele tentou sair e apagou. Estava lanhado nos braços e tinha a gola da camisa rasgada. Cutuquei-o. Ele se mexeu levemente. Chacoalhei seus ombros e disse seu nome - como se ele não fosse meu pai, como se fosse meu vizinho. Ele, de olhos fechados e calado, se voltou a mim e me estendeu os braços - exatamente como fazem os bebês. Amparei-o com muita dificuldade e o levei para a casa. Ele ficou sentado no chão. Escorado no sofá. O pescoço se mantia caído. Voltei ao veículo. Teria de colocá-lo na garagem. De que jeito? Olhei aqueles pedais, a direção e a marcha. Havia um ordenamento para aquilo tudo funcionar. Mas eu era uma criança e não entendia nada. Resolvi empurrar. Usei toda minha força. Foram cinco tentativas de movê-lo para frente. Contudo, o fusca ia e voltava. Numa dessas, o carro embalou. Entrou enviesado e eu corri para segurá-lo, antes que se chocasse contra a mureta. Foi por pouco! Puxei o freio de mão - porque era assim que meu pai fazia quando me trazia para casa depois de voltarmos dos jogos do Internacional. Pronto. Fechei o portão da garagem com o cadeado. Olhei de fora e me senti orgulhoso. Parecia que alguém tinha estacionado aquele fusca. Amanhã, se meu pai estivesse bem, pediria para ele me ensinar a dirigir.
sexta-feira, 17 de maio de 2019
Empurrando o Fusca Para a Garagem
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Triste....
ResponderExcluirTriste...
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