Eu não sabia ser pai quando a enfermeira do Hospital Conceição me disse. "Toma teu filho. Vamos fazer exames na mãe. Caminha um pouco com ele por aí".
Eu o peguei desajeitado. A mulher acrescentou. "Vai demorar. Vê se canta uma música de ninar. Eles se acalmam".
No corredor do hospital, o bebê me olhava. Não parecia nervoso, nem com fome, nem com cólica, nem com um princípio de choro. Mas dava a impressão de esperar a tal música.
Eu tive um branco. Não lembrava ou não sabia nenhuma. Só me veio um trecho de Minha História, de Chico Buarque. "E por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher me ninava cantando cantigas de cabaré".
Cantei essa pra ele. E fui cantando toda a letra, que devia estar em algum buraco da minha memória. Chorei um pouquinho no "laia laiá". Me senti um idiota por isso, porém, continuei assim mesmo, porque meu filho me olhava e parecia sorrir.
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