sábado, 24 de março de 2018

Malabarista Prateado


Na sinaleira, estudantes recém aprovados no vestibular dividiam o espaço, entre a faixa de pedestres e o quinto carro da fila, com um artista de rua com o corpo todo pintado. Para se preparar para o personagem, ele utilizava creme para cabelo, ou qualquer creme, e purpurina prateada. O efeito daquela junção química reluzia no Sol. Era um malabarista que, ao invés de bolas, manipulava quatro pedregulhos. Todos queriam a breve atenção dos motoristas e qualquer trocado. O artista jogava as pedras para o alto de forma sincronizada e, mentalmente, contava os segundos necessários para realizar o breve espetáculo. Concluído o tempo, circularia entre os carros tentando arrecadar uma contribuição espontânea. Em uma das vezes que se apresentou, não conseguiu manter a concentração e deixou cair todas as pedras no asfalto quente. Recolheu-as e foi para a calçada. Seria vexatório demais pedir dinheiro por aquela cena patética que protagonizou. Deixou o sinal vermelho e os segundos que restavam para os pobres vestibulandos. Deu tempo de ver uma jovem esmolar “qualquer moedinha” a um motorista. O condutor pediu um beijo troca. Ela aceitou e ganhou uma nota de cinco reais. Foi tudo muito rápido, porque logo o sinal abriu.

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