Caminhávamos naquele bairro que, há pouco, foi adotado pelos jovens e intelectuais da cidade. Era impossível não esbarrar em alguém. Mesmo em dia útil, horário comercial, tinha uma grande circulação e variedade de tipos.
- Não suporto essa gente.
Fez sinal com a cabeça indicando uma jovem senhora toda tatuada e com um cachorrinho exótico na coleira. Ela comprava um produto falsificado de um haitiano, que estava com uma esteira na calçada.
- Deve viver de pensão. O pai foi militar. Morreu e deixou um apartamento por aqui. Ela, mesmo esquisita, deve ter marido há uns 20 anos, um professor de Humanas. Eles moram juntos, mas não casaram no papel. Se fizessem isso, ela perderia o que recebe do governo.
Demos mais alguns passos. Ele prosseguiu.
- Aposto que ela protesta contra isso tudo que esta aí. Pega bandeirinha e tranca rua. Discursa na mesa do restaurante, fala alto para que os outros ouçam. Estraga os jantares em família. Por que ela não abdica da pensão?
Antes que eu respondesse, concluiu.
- Porque é uma hipócrita! E sabe muito bem disso. Aposto que só dorme na base do anti-depressivo.
Eu não sabia o que falar. Procurava um novo assunto para mudar o rumo da conversa (arriscaria elencar os nomes cotados para as próximas eleições ou citaria uma banalidade qualquer), quando ele emendou.
- Essa cidade e essa gente me anojam.
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