James Joyce, no centro da foto |
Dois trechos do conto Dois Galãs, do livro Dublinenses (edição de 1993, editora Siciliano), de James Joyce.
Caminhou a esmo por Stephen’s Green e desceu a Grafton Street. Embora seus olhos captassem uma série de detalhes da multidão a sua volta, a observação era feita de uma maneira morosa. Achava banal tudo o que supostamente deveria agradá-lo e não correspondia aos olhares convidativos que o cercavam. Sabia que teria de falar muito, inventar histórias e fazer graça, mas tanto o seu cérebro quanto a garganta estavam secos demais para realizar tal proeza. A questão de como passar o tempo até chegar a hora de encontrar-se com Corley preocupava-o um pouco. Não via outra coisa a fazer, a não ser continuar caminhando. Dobrou à esquerda quando chegou na esquina da Rutland Square e sentiu-se mais à vontade na rua escura e quieta, cujo aspecto soturno veio a calhar com seu estado de espírito.
(...)
Estava cansado de dar cabeçadas, de fazer das tripas coração, de artimanhas e intrigas. Completaria trinta e um anos de idade em novembro. Será que nunca conseguiria um emprego? Será que nunca teria um lar? Como seria bom poder sentar-se diante de uma lareira e um jantar gostoso. Já perambulara demais pelas ruas com amigos e mulheres. Bem sabia o quanto valia essa gente. Certas experiências haviam tornado seu coração amargo com respeito ao mundo. Mas ainda tinha um pouco de esperança. Sentiu-se melhor depois de comer, menos revoltado com a vida, menos abatido espiritualmente. Quem sabe ainda conseguiria fixar-se em algum lugar agradável e ter um pouco de felicidade; tudo que precisava era encontrar uma garota bobinha e com um pouco de dinheiro.
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