sábado, 27 de agosto de 2016

A Vida Num Cruzamento Urbano e Uma Cena Engraçada em Londres


Abriu o sinal e o carro não arrancou, porque o motorista estava mexendo no celular. O condutor atrás dele não percebeu isso, porque também estava no celular. Assim foi com o motorista do ônibus e os 43 passageiros da linha. Com os pedestres nas calçadas, a mesma coisa.

Eu gostaria que vocês vissem. Há dias, eles seguem assim.

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Teve uma cena engraçada em Londres.

Estávamos no metrô. Duas brasileiras conversavam. Certo que não havia lusófonos a sua volta, uma delas desencadeou uma série de relatos sexuais. Uma crônica picante de sua rotina amorosa. Descrevia seu amante em detalhes. O homem me pareceu um reprodutor nato. E que homem! "Você tinha que ver as mãos dele me pegando", ela disse. Contava o quanto era feliz com ele. E o quanto não era com seu marido.

Quando se aproximava da minha estação de desembarque empostei a voz à minha mulher.

- Na próxima, é a nossa parada.

Elas gelaram. Naqueles breves minutos, entre as estações, não se ouviu mais nada em português no vagão.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Um Silêncio Avassalador - À Venda


Um Silêncio Avassalador, meu novo livro de contos, já está à venda no site da Editora Moinhos. Só R$ 30. Qualquer dúvida, me contatem (Facebook ou email).


SOBRE O LIVRO

Os contos de Lucas Barroso mimetizam os sons de um universo assustadoramente semelhante ao nosso, que pulsa ininterrupto do lado de fora destas páginas, e onde a felicidade não passa de uma farsa, uma autoinvenção, que nos assombra justamente por sabermos de sua impossibilidade.

Nascer, crescer, morrer, degenerar. A vida como um processo de espera onde pessoas são meras engrenagens em que executam funções nessa dantesca linha de montagem que é a existência, pedaços de “carne argilosa, incrustada de ossos, fiações, buscando algo que nos faça ignorar os sentidos que criamos”. Lacunas ruindo, subjugadas por pressões com as quais não sabem lidar. Convenções sociais cruéis, o doloroso jogo das expectativas impostas subjetivamente, da idealização versus realidade.

Diante da impotência perante a vida, os vícios, seja o sexo, o álcool, a cocaína ou mesmo o que convencionamos chamar de amor, são apenas formas de silenciar a solidão, de abafar esse som ensurdecedor que o nada produz. Por isso, os personagens de Um silêncio avassalador, que somos nós, carregam sempre um vazio que buscam preencher desesperadamente, um vazio que reverbera esse silêncio avassalador em nosso íntimo, mas que nunca somos capazes de externar, pois há sempre um nó na garganta no meio do caminho.

Trecho da orelha escrita por André Timm

Mais informações no site - http://editoramoinhos.com.br/loja/um-silencio-avassalador/

sábado, 20 de agosto de 2016

Eu Falei que Vivo de Literatura


Eu falei que vivo de Literatura.

Ele retrucou, dizendo que sou jornalista, que meu salário é que paga minha casa, me dá comida e bota gasolina em meu carro.

Eu falei, de novo, que vivo de Literatura.

Ele retrucou, outra vez, dizendo que eu bato ponto e que tenho compromisso de 40 horas semanais. Pediu, com graça, que se eu tivesse dúvida, olhasse minha carteira de trabalho e confirmasse o que ele dizia.

Eu insisti que vivo de Literatura.

Ele fincou pé, dizendo que ninguém sabe quem eu sou. Não há retratos meus em jornais. Também não há nada que comprove minha existência em livrarias.

Eu falei o que ele já sabia. E acrescentei: suas dúvidas bestas sobre minha pessoa serviriam de Literatura.

Porque eu vivo, sim.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A Mulher Tinha Ido Embora Há Três Semanas


Não vi conhaque de alcatrão no bar. Mesmo assim, questionei o atendente. Ele foi direto.
- Teu compromisso é com a escrita.

Na rua, dois policiais me abordaram e mandaram encostar na parede. Um deles me revistou, depois pediu meus documentos e disse.
- Teu compromisso é com a escrita.

Na outra quadra, um ladrão calçou seu trinta e oito em minha costelas. Pegou minha carteira, meu relógio – herança de meu avô – e complementou.
- Teu compromisso é com a escrita.

Da sacada de seu apartamento, uma senhora viu o assalto e berrou – todos abriram suas janelas e ligaram as luzes.
- Teu compromisso é com a escrita.

Sem dinheiro, pedi ao motorista do ônibus se poderia me dar uma carona. Ele fez sinal de positivo, falou da violência da cidade e acrescentou.
- Teu compromisso é com a escrita.

Em casa, não tinha bebida alguma. Também não havia ração para os gatos, que miavam sem cessar. A mulher tinha ido embora há três semanas. E a vizinha deixou um bilhete embaixo da porta.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Tudo Que Passa na Cabeça Antes de Uma Noite de Amor - Conto


A Editora Moinhos acabou de disponibilizar um dos contos de Um Silêncio Avassalador (já em pré-venda no site). Relendo-o, recordei uma pergunta que respondi há tempo, em um curso na Unisinos.

"Se tu tivesse só uma opção, tu priorizaria o estilo da escrita ou a história?".

Esse conto (link abaixo) responde o que penso: a história é mais importante. Lógico, não há regras, nem fórmulas para se atrelar. A Literatura aceita tudo.

E a minha tá sendo essa busca por contar histórias.


Tudo que passa na cabeça antes de uma noite de amor - http://editoramoinhos.com.br/wp-content/uploads/2016/08/Conto-de-divulga%C3%A7%C3%A3o-Um-sil%C3%AAncio-avassalador-Lucas-Barroso.pdf

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Nossa Única Resposta



"O acontecimento ainda está à margem da cultura. E a nossa única resposta é o silêncio. Fechamos os olhos como crianças pequenas e acreditamos que assim nos escondemos, que o horror não nos alcançará. Há alguma coisa que assoma do futuro, mas é algo que não sintoniza com os nossos sentimentos. Nem com a nossa capacidade de sentir".

Svetlana Aleksiévitch, no livro Vozes de Tchernóbil

Um Silêncio Avassalador - Trechos


Trechos selecionados de contos do meu terceiro livro, Um Silêncio Avassalador, pela Editora Moinhos (http://editoramoinhos.com.br/).