Bombinhas é uma pequena cidade litorânea de Santa Catarina. Um paraíso composto por 20 praias e 18 mil habitantes. Um lugar que você tem a obrigação de conhecer. No verão, os turistas invadem a cidade, são quase 300 mil pessoas de todos os cantos do Brasil e da América do Sul.
Em uma dessas praias, chamada Morrinhos, há uma biblioteca pública municipal. Muito bem organizada. Um espaço limpo, bem cuidado e com as portas sempre abertas. Tem títulos de todos os gêneros e para todos os gostos. Os de literatura vão do popular ao “erudito”. Mas, infelizmente, segundo a responsável pelo local, os nativos (termo usado por ela) não pegam livros. E tocando nos exemplares dá pra constatar: eles estão novinhos. Intocados.
Um exemplo é o clássico contemporâneo 2666, do chileno Roberto Bolaño, está lá, esperando um leitor. Os empréstimos, gratuitos para quem faz uma ficha (poucos dados, sem burocracia alguma), são raríssimos. E quando acontecem, são de turistas ou novos moradores, vindos de outras cidades ou até do exterior. A carência por leitores é tão grande que a bibliotecária me disse que, se ficasse mais uma semana, poderia levar um livro.
A realidade dessa cidadezinha não é diferente da do resto do país. O brasileiro, em sua maioria, não tem interesse por livros. Em razão disso, os espaços estão ficando cada vez mais escassos. As livrarias estão sumindo e as que resistem, migram para os shoppings centers ou para o mundo virtual.
Uma pesquisa de 2012, da Associação Nacional de Livrarias (ANL), demonstrou que temos apenas 3.073 livrarias em todo o Brasil. Em 2011, eram 3.481 espaços. Na região Norte, com sete estados e 15 milhões de habitantes, temos (pasmem!), 104. Mas Roraima é o pior caso. Em todo o estado, são só quatro livrarias. O mesmo levantamento, afirma que dois terços das cidades do país não têm uma biblioteca ou livraria sequer.
Em Buenos Aires, somente na avenida Corrientes, em um trecho de um quilômetro, é possível encontrar 30 livrarias.
E um dos principais argumentos para essa realidade, é o alto preço cobrado pelas livrarias. Elas alegam que as editoras oferecem um produto final muito caro. E as editoras, por sua vez, reclamam dos governos, que não criam leis para incentivar e baratear a produção. Ninguém assume sua parte nesse fracasso e seguimos lendo pouco ou quase nada.
Mesmo com esse cenário desanimador, há boas notícias. Segundo a ANL, o número de venda de livros subiu um pouco. O principal motivo é o comércio eletrônico das grandes redes. A outra boa nova fica com o Rio Grande do Sul. O estado apresenta a maior pulverização de livrarias, com 454. Destas, 108 em Porto Alegre.
Incentivo de leitura na escola. Políticas públicas voltadas para a área. Mais espaços para os leitores. Livros mais baratos. Estas são algumas medidas que devem ser avaliadas por todos envolvidos com a produção de livros. Para o leitor, livreiros, autores, editores e aqueles que estão habituados ao mundo das letras, fica o desafio de manter vivo o amor pela leitura no Brasil. Uma missão cada vez mais difícil.