Todo mundo quer uma esposa, marido, filhos... uma família. Mas só por meio turno. E, ainda por cima, esse turno sem lista de supermercado, sem primo distante, sem dinheiro emprestado para a sogra. Só que a vida, obviamente, não é assim. Nunca vai ser assim. E tudo tende a piorar. Não se trata de pessimismo e, sim, de estatística – alguém, possivelmente um cético, diria realismo, mas realismo não existe. São fatores recorrentes, que variam pouco de casal para casal. São variáveis que aparecem e se alojam com o tempo. Como a umidade, como a ferrugem, como a maresia.
A única solução e, ao mesmo tempo a pior delas, é o isolamento. Não há outra alternativa, pois os amigos, aqueles que você escolheu ou os que escolheram você, já vivem no mundo de responsabilidade e guardas compartilhadas. Já estão em uma união estável com divisão igualitária de bens, com o nome completo de seus cônjuges divulgados no imposto de renda.
O chá esfriou sob o abajur imundo. Sobre a mesa alguns rascunhos, cópias de documentos, contas vencidas. Os livros, se enfileirados, resultariam em 10 quilômetros de extensão. Um belo caminho. Entretanto, um belo caminho sem respostas. Todos os autores lhe confundiram. E agora você aguarda as resoluções do tempo. Mirando aqueles títulos, sem recordar as tramas, personagens, cheiros. As previsões para o futuro – a casa distante da capital, a fuga dos imbecis que tem a solução para tudo, algo próximo a uma besta comunhão com a natureza – adormecem na gaveta debaixo da escrivaninha, junto com o álbum de fotografias, o diploma e o walkman.
O que você fez da porra da sua vida?
(sem edição, sem releitura, daquele jeito...)
terça-feira, 29 de abril de 2014
segunda-feira, 28 de abril de 2014
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Impávido Colosso
- No fundo, você é uma representação do que os outros creem que você é. Não sei quem disse isso. Talvez, tenha sido eu mesmo. Sabe, já escrevi coisas que juravam que eram minhas, porém, quando realizava uma pesquisa aprofundada, descobria que minha ideia já tinha autoria. Em outros casos, não encontrava dono. Então, ficava aliviado e, ao mesmo tempo, extasiado. Assumia a criação. Era uma alegria completa, sentir-se original. Como eu poderia ter feito tal façanha? Que pensamento, que sentença, que história única foi aquela, meu Deus?! Era inacreditável como ninguém, entre oito bilhões de pessoas que existem no mundo, havia pensado naquilo. E logo eu, um homem perdido ao Sul do Brasil, tive o tal lampejo, a tal capacidade inventiva. Se eu sou um incompreendido? Lógico que sou. Um injustiçado? Sim, com certeza. Você vê meu nome por aí? Conhece alguém que me admira? Ou, então, alguém que me admira e eu desconheça? Porque artista de verdade é admirado por muitos. E, sendo assim, não há como conhecer todos os fãs. Já comigo é desse jeito: os que aprovam o que faço cabem numa mão. E sendo tão poucos, conheço-os. Não só pelo nome, mas sei que time torcem, prato predileto, filme mais marcante, livro de cabeceira... Contudo, desconfio que a maioria, desses raros, apenas diz que gosta do que produzo porque, no fundo, me veem mais como um amigo, uma pessoa boa, e tem pena da minha condição, das minhas limitações. Botam fé que sou um coitado e precisa de ajuda. É o que sinto, sabe.
Se eu achava que seria tão difícil? Eu não tinha noção do fardo. Se soubesse, não teria sequer iniciado. Em alguns casos, meu amigo, é melhor desistir, do que abrir um caminho que não te levará a lugar algum.
Se é o que eu penso? Lógico que é. Então, por que sigo essa ilusão? É uma boa pergunta. Não sei se você percebeu, mas não falei em fracasso uma vez sequer. Como também não citei a palavra esperança. Mesmo estando implícita em meu discurso. Pois, vai ver que meu destino, ou sina, é me equilibrar nesse dilema. O fato é que cada vez que os ponteiros seguem um segundo para frente, nossas vidas andam o mesmo tempo para trás. É a única verdade que conheço. Mas acredito que tenho tempo ainda. E isso, talvez, seja o mais próximo que alcanço do que chamam de fé. Por que eu não desisti de fato? Ora, eu já desisti! Ou não deixei outras tantas coisas mais relevantes para trás? Tive a coragem de assumir o risco e o que eu fiz jamais se apagará, mesmo sendo um retumbante erro, ou uma coisa absolutamente indiferente, perante os outros. Você sequer imagina, em minutos, horas, dias, quanto tempo dediquei a escrever. E em mim, serei sempre o criador, pois vejo versos em tudo. Acordo durante com histórias me despertando. Ando com papeis nos bolsos das calças. Escrevo na palma da mão. Tanto faz se será publico ou anônimo. Se tiver admiradores ou não. Viverei o que me resta com essa chaga.
Se eu achava que seria tão difícil? Eu não tinha noção do fardo. Se soubesse, não teria sequer iniciado. Em alguns casos, meu amigo, é melhor desistir, do que abrir um caminho que não te levará a lugar algum.
Se é o que eu penso? Lógico que é. Então, por que sigo essa ilusão? É uma boa pergunta. Não sei se você percebeu, mas não falei em fracasso uma vez sequer. Como também não citei a palavra esperança. Mesmo estando implícita em meu discurso. Pois, vai ver que meu destino, ou sina, é me equilibrar nesse dilema. O fato é que cada vez que os ponteiros seguem um segundo para frente, nossas vidas andam o mesmo tempo para trás. É a única verdade que conheço. Mas acredito que tenho tempo ainda. E isso, talvez, seja o mais próximo que alcanço do que chamam de fé. Por que eu não desisti de fato? Ora, eu já desisti! Ou não deixei outras tantas coisas mais relevantes para trás? Tive a coragem de assumir o risco e o que eu fiz jamais se apagará, mesmo sendo um retumbante erro, ou uma coisa absolutamente indiferente, perante os outros. Você sequer imagina, em minutos, horas, dias, quanto tempo dediquei a escrever. E em mim, serei sempre o criador, pois vejo versos em tudo. Acordo durante com histórias me despertando. Ando com papeis nos bolsos das calças. Escrevo na palma da mão. Tanto faz se será publico ou anônimo. Se tiver admiradores ou não. Viverei o que me resta com essa chaga.
quinta-feira, 17 de abril de 2014
O Fim da Ideologia
Eu era jovem e bobo. Tinha minhas convicções e ideais para um mundo melhor. Até o dia que virei um homem e entreguei todas as minhas ideologias pra Caixa Econômica Federal.
Bastou assinar aquele maldito documento de financiamento e minha ideologia, agora, é pagar a hipoteca de meu apartamento todo o mês, por 35 anos a fio...
Bastou assinar aquele maldito documento de financiamento e minha ideologia, agora, é pagar a hipoteca de meu apartamento todo o mês, por 35 anos a fio...
terça-feira, 15 de abril de 2014
O Vinho Da Juventude - Poema de O Ano dos Mortos
O Vinho Da Juventude
Por debaixo das
rugas
- cortes de faca
feitos pelo tempo
Tem algo que não
se pode notar
Suspiros
suspensos
Soluços contidos
E uma pressa que
não cabe nos passos
É tarde
...e a neblina
cobre as memórias
Sem beijo de boa
noite
Sem histórias
...ou orações
tolas
Os românticos
tomam seus acentos nas praças
As estrelas
formam uma península
Guiando
descaminhos
Deixando um
rastro de fantasia
...e saudade
A cada nota
A canção se
torna mais suave
...mais lenta
Até congelar a
paisagem
Emudecer o
discurso
Distanciando os
homens
...e suas
figuras
Você aperta os
olhos
Mas tudo é turvo
Quando se mira o
horizonte
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Imagem do repórter fotográfico Ivo Gonçalves.
O poema fará parte do meu segundo livro, O Ano dos Mortos,
editora Bartlebee Livros. O lançamento deverá acontecer até a metade do ano.
Minha estreia:
http://lsbarroso.blogspot.com.br/p/livros-publicados.html
quinta-feira, 10 de abril de 2014
A Realidade do Livro no Brasil
Bombinhas é uma pequena cidade litorânea de Santa Catarina. Um paraíso composto por 20 praias e 18 mil habitantes. Um lugar que você tem a obrigação de conhecer. No verão, os turistas invadem a cidade, são quase 300 mil pessoas de todos os cantos do Brasil e da América do Sul.
Em uma dessas praias, chamada Morrinhos, há uma biblioteca pública municipal. Muito bem organizada. Um espaço limpo, bem cuidado e com as portas sempre abertas. Tem títulos de todos os gêneros e para todos os gostos. Os de literatura vão do popular ao “erudito”. Mas, infelizmente, segundo a responsável pelo local, os nativos (termo usado por ela) não pegam livros. E tocando nos exemplares dá pra constatar: eles estão novinhos. Intocados.
Um exemplo é o clássico contemporâneo 2666, do chileno Roberto Bolaño, está lá, esperando um leitor. Os empréstimos, gratuitos para quem faz uma ficha (poucos dados, sem burocracia alguma), são raríssimos. E quando acontecem, são de turistas ou novos moradores, vindos de outras cidades ou até do exterior. A carência por leitores é tão grande que a bibliotecária me disse que, se ficasse mais uma semana, poderia levar um livro.
A realidade dessa cidadezinha não é diferente da do resto do país. O brasileiro, em sua maioria, não tem interesse por livros. Em razão disso, os espaços estão ficando cada vez mais escassos. As livrarias estão sumindo e as que resistem, migram para os shoppings centers ou para o mundo virtual.
Uma pesquisa de 2012, da Associação Nacional de Livrarias (ANL), demonstrou que temos apenas 3.073 livrarias em todo o Brasil. Em 2011, eram 3.481 espaços. Na região Norte, com sete estados e 15 milhões de habitantes, temos (pasmem!), 104. Mas Roraima é o pior caso. Em todo o estado, são só quatro livrarias. O mesmo levantamento, afirma que dois terços das cidades do país não têm uma biblioteca ou livraria sequer.
Em Buenos Aires, somente na avenida Corrientes, em um trecho de um quilômetro, é possível encontrar 30 livrarias.
E um dos principais argumentos para essa realidade, é o alto preço cobrado pelas livrarias. Elas alegam que as editoras oferecem um produto final muito caro. E as editoras, por sua vez, reclamam dos governos, que não criam leis para incentivar e baratear a produção. Ninguém assume sua parte nesse fracasso e seguimos lendo pouco ou quase nada.
Mesmo com esse cenário desanimador, há boas notícias. Segundo a ANL, o número de venda de livros subiu um pouco. O principal motivo é o comércio eletrônico das grandes redes. A outra boa nova fica com o Rio Grande do Sul. O estado apresenta a maior pulverização de livrarias, com 454. Destas, 108 em Porto Alegre.
Incentivo de leitura na escola. Políticas públicas voltadas para a área. Mais espaços para os leitores. Livros mais baratos. Estas são algumas medidas que devem ser avaliadas por todos envolvidos com a produção de livros. Para o leitor, livreiros, autores, editores e aqueles que estão habituados ao mundo das letras, fica o desafio de manter vivo o amor pela leitura no Brasil. Uma missão cada vez mais difícil.
Em uma dessas praias, chamada Morrinhos, há uma biblioteca pública municipal. Muito bem organizada. Um espaço limpo, bem cuidado e com as portas sempre abertas. Tem títulos de todos os gêneros e para todos os gostos. Os de literatura vão do popular ao “erudito”. Mas, infelizmente, segundo a responsável pelo local, os nativos (termo usado por ela) não pegam livros. E tocando nos exemplares dá pra constatar: eles estão novinhos. Intocados.
Um exemplo é o clássico contemporâneo 2666, do chileno Roberto Bolaño, está lá, esperando um leitor. Os empréstimos, gratuitos para quem faz uma ficha (poucos dados, sem burocracia alguma), são raríssimos. E quando acontecem, são de turistas ou novos moradores, vindos de outras cidades ou até do exterior. A carência por leitores é tão grande que a bibliotecária me disse que, se ficasse mais uma semana, poderia levar um livro.
A realidade dessa cidadezinha não é diferente da do resto do país. O brasileiro, em sua maioria, não tem interesse por livros. Em razão disso, os espaços estão ficando cada vez mais escassos. As livrarias estão sumindo e as que resistem, migram para os shoppings centers ou para o mundo virtual.
Uma pesquisa de 2012, da Associação Nacional de Livrarias (ANL), demonstrou que temos apenas 3.073 livrarias em todo o Brasil. Em 2011, eram 3.481 espaços. Na região Norte, com sete estados e 15 milhões de habitantes, temos (pasmem!), 104. Mas Roraima é o pior caso. Em todo o estado, são só quatro livrarias. O mesmo levantamento, afirma que dois terços das cidades do país não têm uma biblioteca ou livraria sequer.
Em Buenos Aires, somente na avenida Corrientes, em um trecho de um quilômetro, é possível encontrar 30 livrarias.
E um dos principais argumentos para essa realidade, é o alto preço cobrado pelas livrarias. Elas alegam que as editoras oferecem um produto final muito caro. E as editoras, por sua vez, reclamam dos governos, que não criam leis para incentivar e baratear a produção. Ninguém assume sua parte nesse fracasso e seguimos lendo pouco ou quase nada.
Mesmo com esse cenário desanimador, há boas notícias. Segundo a ANL, o número de venda de livros subiu um pouco. O principal motivo é o comércio eletrônico das grandes redes. A outra boa nova fica com o Rio Grande do Sul. O estado apresenta a maior pulverização de livrarias, com 454. Destas, 108 em Porto Alegre.
Incentivo de leitura na escola. Políticas públicas voltadas para a área. Mais espaços para os leitores. Livros mais baratos. Estas são algumas medidas que devem ser avaliadas por todos envolvidos com a produção de livros. Para o leitor, livreiros, autores, editores e aqueles que estão habituados ao mundo das letras, fica o desafio de manter vivo o amor pela leitura no Brasil. Uma missão cada vez mais difícil.
segunda-feira, 7 de abril de 2014
Causa Mortis ou Diagnóstico Tardio
O Ministério da Saúde Adverte:
Arrependimento mata mais que Câncer.
Arrependimento mata mais que Câncer.
sexta-feira, 4 de abril de 2014
Um Bom Lugar para Viver
Não faz mais sentido ir a festas onde todos parecem ser vips. E você é só mais um naquela fila dobrando o quarteirão. Mas seus amigos insistem nisso. Você se isola. Os outros já tem filhos, compromissos inadiáveis e uma extensa lista de supermercado. O que fazer?
Você tenta gastar seu tempo em shows, cinema ou jogos do seu time de futebol. Mas você não tem dinheiro. A outra alternativa seria sair sozinho por aí, de bar em bar. Mas ainda é cedo para isso, você sabe.
O mundo real vai se fechando. E só resta a internet. Só resta a solidão compartilhada. Na web, você pode colecionar seus sucessos. Relegar seus fracassos e ainda selecionar seus melhores momentos. Além disso, a arte, e toda a desatenção que você precisa, está lá.
Se não há companhia, há pornografia. Há pessoas que fazem de tudo. Você nem imagina! Tudo que você não consegue ou tem vergonha de fazer, alguém, em algum lugar já fez, e disponibilizou para seu prazer e seu espanto.
Você pode mudar o mundo com um clique. O sonho americano ou a sociedade mais politizada e justa possível, estão ao seu alcance. Basta acessar e seguir o caminho. Deus, decerto, também está na rede.
Mas você não é nenhum santo. E, se há muitos chatos a sua volta, você, simplesmente, esnoba-os, eliminando de seu círculo. É possível esquecer, é possível deixar a vida de lado. É tudo tão rápido e atraente. As coisas pulsam. Por isso, você está aqui.
E, por isso, aqui se tornou um bom lugar para você. Há duas vidas, você sabe. Só uma é possível.
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