Todos meus julgamentos. Meus tribunais
diários. Invejas veladas. Ânsias contidas. Jorros internos. Atiro tudo nos
braços da Literatura. Como se vomitasse em uma sarjeta. Meus restos, ali,
acolhidos pela rua da amargura. É um puta disfarce. É uma maneira tresloucada
de se esconder. Mais uma fuga, a Literatura.
Diários ridículos. Epístolas jogadas ao
mar, em garrafas que chegarão a lugar nenhum. Acúmulo de pó e de solidão.
Rascunhos fantasiados de arte acabada. Um faz de conta copiado de uma quinta
geração. De uma geração que nunca teve nada a dizer. De uma geração corrupta e
falsamente asséptica. Produto dos dias jogados pelo ralo. Versos artesanalmente
industriais. Urros desconexos, fingindo santidade. Números de loteria que
jamais serão sorteados. E eu bem sei. Mas me convém escancarar esse desespero. Tentar
a sorte a grande. Admirar essas bobagens como se fossem bênçãos. Como se iluminassem
o céu cinzento.
Escrever é só um dos
modos mais bestas que inventaram de matar o tempo.